Os clubes da Série A parecem ter encontrado uma forma de minar o poder da CBF na organização do futebol brasileiro. Em vez de uma liga independente, a ideia agora é ter poder de decisão em todos os pontos que tratem das competições nacionais organizadas pela entidade, incluindo a fórmula de disputa e o calendário. Para isso, os clubes querem que a assembleia extraordinária que será realizada na próxima quinta-feira com presidentes de federações inclua a eliminação do artigo 56 do estatuto da CBF, que dá a entidade o poder de veto em decisões do conselho técnico.
Nesta segunda, os presidentes dos clubes da Série A se reuniram a portas fechadas com a cúpula da CBF por quatro horas e meia. Ouviram do presidente Marco Polo Del Nero que ele “está totalmente aberto a prestar esclarecimentos” sobre contratos da entidade que estão sendo investigados, e que ele não cogita deixar o cargo. Recebeu apoio dos clubes.
No encontro, o presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia, sugeriu que a criação de uma liga fosse debatida, mas os cartolas consideram que “o momento não é o adequado”. Mais tarde, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, criticou a proposta. “Essa ideia de liga é mística e mágica, como se fosse salvadora. A cultura brasileira mostra que não é.”
Sem poder debater a liga, os clubes aproveitaram para exigir mudanças no estatuto de forma a ganharem mais força. A principal exigência é que a CBF retire o artigo que lhe concede poder de veto nas decisões tomadas pelo conselho de clubes. “Se as federações não concordarem com a mudança na assembleia geral, aí é capaz de os clubes partirem para a criação da liga”, afirmou o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar.
Encurralada, a CBF promete apoiar a mudança. “Decidimos pelo fortalecimento e autonomia dos conselhos técnicos, inclusive com a retirada de qualquer item do estatuto que leve à possibilidade de veto ou revisão das decisões dos conselhos”, prometeu Feldman.
Caso a alteração seja aprovada, serão os clubes que definirão calendário, fórmula de disputa, premiação, horários dos jogos e até mesmo questões de acesso e descenso. Mas uma eventual mudança no campeonato brasileiro só poderia valer a partir de 2017, já que o Estatuto do Torcedor veta mudança de regulamentos em prazo inferior a dois anos.
SUCESSÃO – Mas, na assembleia de quinta-feira, Marco Polo Del Nero também terá uma vitória. Os presidentes de federações irão aprovar a mudança no estatuto que dá ao vice-presidente mais velho da entidade o direito de assumir a presidência no caso de renúncia do atual mandatário. A CBF fez lobby com os dirigentes das federações na reunião restrita da semana passada, quando não convidou os opositores – incluindo Delfim de Padua Peixoto Filho, presidente da Federação Catarinense e vice que assumiria a CBF no caso de queda de Del Nero.
“A ideia de o mais velho assumir remete à ditadura”, declarou Feldman. Del Nero e Feldman querem que um eventual sucessor do presidente seja decidido pelo voto dos vices. Se aprovada – o que deverá acontecer -, a mudança terá efeito imediato. O limite de mandatos também será proposto. “Chegou o momento de haver só um mandato e uma reeleição”, pontuou Feldman.