A menos de um ano da Olimpíada, o atletismo brasileiro gera desconfiança depois de desempenho apagado no Pan de Toronto e no Mundial em Pequim. Em entrevista à Agência Estado, o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), José Antonio Martins Fernandes, fala sobre o investimento para os Jogos do Rio e rebate as críticas sobre o mau momento da modalidade.
Alguns atletas mostraram descontração e brincaram com a câmera mesmo após resultados ruins no Mundial. Acha que falta comprometimento e seriedade?
Eu vi apenas um. O atleta que fez isso é jovem e disputou o seu primeiro Mundial. Vai ser criticado? Não foi antes ou durante a competição, foi depois. Talvez ele tenha dado um suspiro de alívio, não fez nada de errado porque tinha terminado a missão dele, não vejo uma atitude crítica. Não estou defendendo, nem condenando. Não conversei com o atleta, mas ele foi orientado a ter uma postura condizente com o papel que desempenha na seleção. Mesmo assim, vou esperar o relatório da delegação e vamos analisar os fatos.
Como você avalia o desempenho dos atletas brasileiros em Pequim?
Tenho escutado muito que a CBAt não está investindo no atleta, isso é uma grande injustiça, uma inverdade. Temos hoje cerca de 300 contratos de patrocínios entre técnicos, atletas e equipe multidisciplinar. De onde vêm esses contratos? Uma parte do patrocínio da Caixa, para alguns atletas que a gente investe diretamente. Como é feita a escolha? É baseado num ranking internacional dos resultados dos atletas no ano anterior.
Qual é o valor desse contrato de patrocínio?
Temos cerca de 20 eventos nacionais, participações internacionais e isso tem um custo. Tudo é dividido dentro do orçamento, não posso colocar todos os ovos em uma cesta para ajudar o atleta ou técnico. Posso te garantir que mais ou menos R$ 5 milhões são investidos com atletas, técnicos e equipe multidisciplinar. A verba vem uma parte do patrocínio da Caixa, que é privada, a outra parte é do governo federal pela Bolsa Pódio e outra parte é o convênio direto com o Ministério do Esporte para manter quatro centros nacionais. Rio e São Paulo têm uma definição muito importante nessa questão do peso da convocação dos atletas. A gente ainda recebe ajuda para os revezamentos através do fundo de reserva do COB. São muitas frentes. Também tenho ouvido críticas sobre periodização de treinamento dos atletas. Os atletas vêm dos clubes, que não aceitam a interferência da confederação no dia a dia. Não tenho condição de fazer supervisão diária do atleta, a confederação tem de respeitar o clube.
Alguns membros da comissão técnica reconheceram que o desempenho no Pan foi abaixo do esperado. Qual é sua opinião?
Discordo completamente. No Pan, fizemos 39 finais, perdemos para Canadá e Estados Unidos. Ganhamos no número de medalhas de Cuba e de outros países, ficamos em terceiro, ganhamos em pontuação. Nós perdemos em número de ouros somente. Não é fracasso como falaram. É difícil equacionar uma meta, o atletismo depende do dia do atleta.
E no Mundial?
Estamos com uma equipe muito nova, em transição, temos muitos atletas com até 22 anos. Nós abrimos o leque para que novos talentos estejam sendo preparados para 2020.
O planejamento então pensa até mais em 2020 do que em 2016?
Exatamente. O que estamos fazendo para 2016? Chegando do Mundial, vamos fazer uma reunião e cada atleta vai ser monitorado quinzenalmente. Vamos pedir que os técnicos e os clubes mandem para nós todo o treinamento que está sendo realizado. Serão 25 atletas na condição de monitoramento específico. Claro que a gente não tem condição de ajudar atletas no Brasil todo, mas um atleta que esteja fora desse núcleo pode entrar por seus resultados. Ao mesmo tempo, os jovens continuam sendo monitorados junto com atletas mais estabelecidos.