Cavaleiro irlandês diz que sumiço é complô

Genebra – Uma verdadeira confusão internacional se instalou nas investigações sobre o doping do cavalo Waterford Crystal, com o qual o irlandês Cian O?Connor ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Atenas, superando o brasileiro Rodrigo Pessoa. O desempenho do animal está sob suspeita, mas roubos e desaparecimentos de provas estão transformando o caso em história de polícia.

Ontem, a Federação Eqüestre da Irlanda confirmou que o roubo ocorrido em seu escritório na noite de segunda resultou no desaparecimento de provas relacionadas a um dos cavalos utilizados por O?Connor em maio, numa competição em Roma. Mas, segundo a entidade, a ficha e estudos sobre os Jogos de Atenas não foram levados e estão agora sob a guarda da polícia.

Enquanto isso, Cian O?Connor disse ser vítima de algum complô, após essa série de fatos misteriosos. “Eu não teria motivo para destruir a amostra B ou para fazer algo contra a EFI. Parece que alguém quer destruir meus negócios, assim como meu nome e reputação”, afirmou o cavaleiro irlandês ontem, em entrevista ao jornal Irish Times.

Sumiço

Curiosamente, uma emissora local de rádio recebeu um fax com informações que somente poderiam ter sido retiradas do dossiê que estava no escritório da entidade da Federação da Irlanda. Esses dados comprovariam que Waterford Crystal estava dopado nas Olimpíadas, fato que desqualificaria o cavaleiro irlandês e daria o ouro à Rodrigo Pessoa.

A emissora responsável pela notícia foi a RTE, que divulgou terça-feira os nomes das substâncias que o cavalo de O?Connor teria ingerido. “A informação divulgada pela emissora estava nos documentos que temos nos nossos escritórios”, admitiu Collin McClelland, porta-voz da Federação.

Agora, a polícia quer saber como a emissora teve acesso aos papéis. Em declaração à Agência Estado, uma representante da rádio, Carolyn Fisher, garante que a RTE recebeu as informações por um “fax anônimo”.

Um dos documentos recebidos pela emissora, datado de 7 de outubro de 2004, aponta que as substâncias encontradas nos testes do cavalo incluem Fluphenazine, Zucopenthixol, Guanabenz e Reserpine, drogas que ajudariam o atleta irlandês na condução do animal.

Nova rota para contraprova

O caso está ganhando proporções inéditas no hipismo. Horas antes do roubo na Irlanda, uma parte da segunda amostra do exame antidoping do cavalo irlandês desapareceu perto de Cambridge.

Diante dos acontecimentos, a Federação Eqüestre Internacional (FEI), com sede na Suíça, decidiu ontem tomar novas providências para garantir que o caso seja resolvido. A entidade optou, por exemplo, por mudar a rota que seguiria o que sobrou da amostra da urina do cavalo irlandês. Segundo o porta-voz da entidade, o teste será realizado em Nova York, e não mais em Hong Kong como estava previsto.

Oficialmente, a mudança ocorreu porque os asiáticos indicaram que não teriam condições de realizar o teste dentro do prazo estabelecido. Para alguns na Irlanda, seria uma tentativa de garantir maior segurança no transporte do material.

O pior é que nem se sabe se o material que chegará aos Estados Unidos será suficiente para que o exame seja conclusivo. Os exames finais sobre o cavalo irlandês começam dia 8, segunda-feira, e o laboratório terá 21 dias para completar o trabalho.

Enquanto a confusão se instala no hipismo, o Comitê Olímpico Internacional (COI) afirma que não pode interferir no processo até que a Federação Eqüestre Internacional tome uma decisão final. “Não podemos fazer nada neste momento”, afirmou uma assessora do COI, em Lausanne.

Enquanto o COI não intervém, as polícias da Inglaterra, Suíça, França e Irlanda acertam uma cooperação inédita para prender os autores do misterioso roubo de mostras da urina do cavalo e dos documentos da Federação Irlandesa.

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