Há pouco mais de seis meses, cogitar Cássio na seleção brasileira seria um absurdo. Acima do peso, desmotivado e na reserva, o goleiro do Corinthians enxugou as lágrimas pela morte da avó, voltou a se dedicar e hoje vive a melhor fase na carreira. Em entrevista ao Estado, ele conta como foi sua reabilitação, fala sobre o retorno à lista de convocados do Brasil, rebate quem diz que foi chamado por “ser amigo do Tite” e afirma que o atual elenco do Corinthians é o de melhor ambiente em que ele trabalhou.

continua após a publicidade

Como você se vê na disputa por uma vaga para a Copa do Mundo?

Sei que o que pode me levar para o Mundial é o meu trabalho no Corinthians e sempre estar jogando em alto nível. Quando eu estiver com a seleção, terei que fazer o meu melhor para ficar. Todo mundo almeja disputar, representar a nossa pátria.

continua após a publicidade

Você já foi convocado, mas não jogou. Terá chance agora?

continua após a publicidade

Estou lá para ajudar a seleção e fazer meu trabalho. Os outros goleiros estão sendo convocados com mais frequência e sei que começo atrás, mas o Tite vai saber o que é melhor para a seleção.

A possibilidade de disputar uma Copa pesa em uma possível negociação?

Eu não fico pensando no futuro. Tenho que ficar focado no Corinthians e tentar fazer o melhor. Se chegar alguma coisa, a gente conversa e vê o que é melhor para todo mundo. Sempre tive um diálogo bom com a diretoria.

Vê vantagem por já ter trabalhado com o Tite?

Se fosse assim, eu teria sido convocado mesmo na reserva. Tite é muito coerente, acompanha o futebol e o dia a dia do trabalho dos jogadores. Convocação nunca agrada todo mundo e o que me levou a ser convocado foi o meu trabalho no Corinthians.

Muita gente achou errado você ser chamado e não o Vanderlei, do Santos. O que falar para quem diz que você foi convocado por ser amigo do Tite?

É só tu olhar meus números e ver o que venho fazendo no ano. Cada um tem sua opinião e ninguém vai agradar todo mundo. Vanderlei faz grande campeonato e merecia ser chamado, assim como outros cinco ou seis goleiros. Cada um tem a sua opinião e o bom é que temos um treinador que decide. Eu sou merecedor desta convocação.

Você é um ídolo do Corinthians?

Difícil falar. Vai dar para falar isso quando eu parar de jogar ou sair do clube. Tenho respeito da torcida e eu a respeito.

Você deixou o Brasil com apenas 20 anos. Se arrepende de ter saído tão jovem?

Não. Quando o Tite me nomeou como titular e não o Júlio César, em 2012, um dos favores que pesou foi justamente a minha experiência no exterior, por ter mais bagagem. Fui jovem para o futebol europeu e as coisas não saíram como esperava, mas tive grandes experiências (ele defendeu o PSV e o Sparta Roterdã, ambos da Holanda).

A morte da sua avó, no ano passado, e sua queda de rendimento serviu para algum aprendizado?

Muito. Hoje eu tenho uma vida totalmente diferente. Eu sempre me dediquei nos treinos, mas, quando você não está com a cabeça boa, as coisas não saem do lugar. Ano passado, vivi um momento ruim, senti muito a perda dela, baixei a guarda e serviu de aprendizado. Até algumas críticas eu soube absorver e ver em que estava errando.

Teve algum fato que te fez “acordar” e começar a mudar?

Terminou o ano e conversei muito com a minha noiva. Admiti alguns erros e vimos em que eu podia melhorar. Ano passado tive muitos problemas físicos e passei a cuidar da melhor dessa parte. Coloquei em casa uma bicicleta ergométrica especial, feita pela Matrix, que me ajudou bastante, assim como todos do clube, que me apoiaram desde o início. Tudo isso me fez voltar a jogar em alto nível.

Sua fase é uma resposta para tantas críticas?

Algumas coisas eu fiquei chateado, principalmente de ex-jogador que virou comentarista. Tem ex-jogador que cometeu muito erros e passou por situações até mais complicadas e depois fica falando bobagem. A gente sabe de muita coisa que acontece nos bastidores. Tem que tomar cuidado ao falar algumas coisas, porque muitas delas foram ditas sem saber ou por especulação. Alguns repórteres também se aproveitaram do momento para exagerar em algumas histórias. Vi coisas que eu não concordava, mas não era momento de falar, porque o Walter era titular e eu tinha que respeitar o momento dele.

Precisou de ajuda psicológica?

Não foi preciso, pois sempre tive verdadeiros amigos em minha volta, que me ajudaram a se levantar. Aqui no clube também tive muita gente que acreditou na minha volta e que sempre esteve ao meu lado. Não tenho do que reclamar.

A sensação que a gente tem é que relacionamento entre os jogadores realmente é muito bom, não é só fachada para a imprensa. A relação é tão boa assim?

É verdade. O nosso relacionamento é muito bom. Acho que de ambiente de jogadores é o melhor de todos que eu já tive no Corinthians. Sempre tivemos bom relacionamento, mas esse ano é um comprometimento e ambiente de trabalho excepcional e especial. Um ajuda o outro, é muito legal e a gente tem vontade de ficar junto. O ambiente é espetacular.

Verdade que seu filho, Felipe, é corintiano fanático?

Muito. O Felipe tem três anos e é o amor da minha vida. Ele canta o hino melhor do que eu. Sabe as músicas da torcida e tudo. Ele ia para a escola com a camisa do Corinthians, mas depois mudou de ano e tinha que ir de uniforme. Foi uma confusão, porque ele só queria ir com a camisa do Corinthians. Ele vive em Veranópolis (interior do Rio Grande do Sul) e a saudade é grande, pois a gente se vê pouco.

Quando você for para a seleção, ele vai estranhar em ver o pai com uma camisa que não é do Corinthians…

Ele chorou quando ficou sabendo que eu ia jogar na seleção. Ele não entendia que eu ia voltar para o Corinthians depois. Só quando explicaram que eu jogaria um tempo e depois voltaria, ai ele se acalmou.

Então, pelo seu filho, você vai ter que jogar até se aposentar no Corinthians?

Se um dia eu sair, eu vou ter que explicar com calma o que aconteceu. Quando ele nasceu, eu era do Corinthians. Talvez, quando ele estiver com uns dez anos, possa me ver se aposentando no Corinthians.