Detentora de um extenso currículo, construído com garra e determinação, Caroline Molinari, ou simplesmente Carol, como é chamada por amigos e familiares, é hoje, aos 16 anos, uma de nossas ginastas de maior prestígio nacional e internacional. Componente da seleção brasileira permanente de ginástica olímpica, que participou recentemente do campeonato mundial de ginástica na Hungria, destacando-se nas modalidades solo, onde ficou em 20.º lugar e nas paralelas, em 10.º.
A história de Caroline, relatada por seu pai, Gilnei Molinari, começa aos três anos de idade, “quando começou a fazer natação e balé, porém, desde pequena demonstrava o seu interesse pela ginástica olímpica. Quando via outras meninas fazendo, ela já começava a rolar e dar piruetas”. Começou a praticar ginástica aos cinco anos de idade, no Centro de Esportes Dirceu Graeser, na Praça Osvaldo Cruz, em Curitiba, sem interferência dos pais, que lhe deram todo o apoio. Desde então, vem conseguindo excelentes resultados. Infelizmente, como a maioria dos atletas brasileiros, sem patrocínios, contando com o apoio somente dos pais e da Confederação Brasileira.
Nas viagens pela França, Hungria, Costa Rica, Porto Rico e Ucrânia, com as seleções paranaense e brasileira, tem representado bem o País, obtido experiências e avaliado as diferenças de culturas, além de aprimorar sua técnica com o intercâmbio proporcionado por isso.
Freqüenta aulas particulares no próprio centro de treinamento e atualmente está matriculada no Colégio Dom Bosco. Pretende prestar vestibular para Educação Física e, posteriormente, Odontologia. Seu maior sonho é participar das próximas Olimpíadas e ser uma ginasta reconhecida no Brasil. Em seu retorno da Hungria, concedeu entrevista à coluna Talentos, do Paraná-Online.
Talentos – Quando você mostrou gosto pela ginástica, como seus pais receberam a idéia?
Caroline Molinari – Bom, eu comecei, assim, eu via pela tevê e gostava, e entrei no balé, só que eu não gostava de fazer balé. Minha mãe trabalhava na Praça Oswaldo Cruz e a gente via a ginástica e ela acabou me inscrevendo, pensando que seria uma coisa passageira, de uns dois ou três meses, achando que eu iria parar. Só que eu fui continuando. Aí fui melhorando, atingindo níveis melhores, mas sempre com o incentivo dos pais.
Celina Molinari (mãe da Carol) – Ah! Eu tenho muito orgulho da Carol. Quando ela começou, realmente. Ela fazia as suas peraltices. Gostava muito de brincar fazendo piruetas, pular, virando estrelinhas. Então falei: Carol, vamos experimentar, já que do balé ela não gostava. Então ela foi para a ginástica e a professora Inara Marcondes, da Prefeitura de Curitiba, que é lá da praça e tinha um grupo de treinamento, logo nos primeiros meses percebeu que a Carol tinha talento.
Talentos – Você começou com cinco anos de idade. Como era conciliar estudo e prática da ginástica?
Carol – No início era pouco, fazia aulas uma ou duas vezes por semana, aí quando ia melhorando o nível, iam aumentando os horários de treinos e também a carga. Até a 7.ª série eu ia para a escola num turno e em outro treinava normalmente. Depois, quando já estava treinando na Universidade do Esporte, com a professora Eliane, foram contratados ucranianos para treinar os atletas daqui, com o esquema de dois treinos, com professores particulares, para não ter que se deslocar para ir à escola. Desde a 7.ª série, então, não freqüento a escola, mas tenho tido acompanhamento. Hoje estou cursando a 2.ª série do ensino médio. Faço provas no local de treinos. É lógico que a gente se esforça bastante nos treinos, mas também tem que estudar. Se eu não fizesse ginástica estudaria bem mais. Até por obrigação, para passar no vestibular. Já na ginástica, por enquanto, o meu pensamento é conseguir ir para as Olimpíadas de 2004, em Atenas.
Talentos – Você brevemente prestará o vestibular. Já está realmente definida quanto ao curso?
Carol – Pretendo fazer Educação Física, mas depois que me formar quero fazer Odontologia.
Talentos – Por que Odonto?
Carol – Porque acho muito legal. E quero fazer estética dentária.
Talentos – Nas viagens e competições, você tem tido incentivos e patrocínios?
Carol – A gente tem uma ajuda de custo do COB Comitê Olímpico Brasileiro -, fornecida para a seleção permanente, e mais nenhum patrocínio.
Talentos – O que você tem trazido como experiência dessas viagens ao exterior? Como tratam lá fora os atletas brasileiros?
Carol – Agora, depois da medalha da Daniele, eles olham com outros olhos. Temos sido muito bem tratados. Já é uma coisa diferente. E ainda mais com os treinadores ucranianos. Estão percebendo que a nossa ginástica está mudando. Antes o Brasil não era da elite da ginástica. Com isso, estamos trabalhando mais e acho que a gente vai conseguir chegar lá.
Talentos – Que visão você encontrou lá fora com relação ao Brasil?
Carol – O que observei é que por ser muito frio, principalmente nos países da Europa por onde passei, todas as casas têm calefação. O povo em relação ao Brasil pensa que aqui ainda é como a Amazônia. Chegaram a perguntar se tinha jacaré nas ruas e quando a gente mostra fotos eles ficam admirados. Acham que aqui só tem futebol. Na França, quando a gente chegou muita gente só falava: Ah! Brasil, Ronaldinho!
Talentos – Como vivem os atletas dos países por onde você passou?
Carol – Lá tem muitas meninas que vivem da ginástica. Principalmente nos países mais pobres, como Porto Rico. Se for uma boa ginasta dá para ganhar bastante dinheiro. Então elas treinam mais para poder se sustentar. As meninas da Rússia têm muito incentivo. No Cazaquistão, onde inclusive, tem uma menina que me chamou muito a atenção, porque ela tem 27 anos e tem um filho com leucemia. E ela estava competindo para conseguir o tratamento dele. Na ginástica eles são muito avançados tecnicamente. Lá eles têm uma base boa desde a infância. Aqui, só agora estamos tendo. Na Ucrânia, eles possuem um centro de treinamento com diversos tipos de esportes, como se fosse uma vila dos atletas.
Talentos – Há quanto tempo mais ou menos a ginástica começou a evoluir no Paraná? Por que quando se fala em ginástica aqui, só se ouve o seu nome?
Carol – Apesar de atletas como a Luiza Parente, a Soraia e também a Camila Comin, que foi para a Olimpíada em Sydney. Uma ou outra somente se destacava, mas começou mesmo a evoluir após a chegada dos treinadores ucranianos.
Talentos – O nome da seleção de ginástica é “permanente” por quê?
Carol – Porque os professores, nos campeonatos que freqüentemente são realizados, escolheram, entre as seleções estaduais, dez meninas de nível considerado bom. E ficou estabelecido também que as componentes da seleção teriam que morar em Curitiba. Então, nós temos uma casa, mantida pelo COB,que fica próxima do Ginásio do Tarumã, onde nós moramos, mesmo as que não são daqui.
Talentos – Você pretende seguir como atleta até quando?
Carol – Até quando agüentar. Porque a ginástica exige muito do corpo. Tem que cuidar muito da alimentação, do peso, e mais o esforço físico.
Talentos – Como é sua alimentação?
Carol – É bem controlada. A gente tem que se pesar todo dia e a nutricionista faz o nosso cardápio, muito rigoroso e balanceado. E mesmo em festas a gente controla, porque 100g a mais não dá diferença, mas 500g ou 1 kg a mais dá uma diferença enorme, principalmente no impacto.
Talentos – Você também faz parte da seleção paranaense. Como estão se saindo?
Carol – A gente está indo bem, apesar de só ter meninas mais novas, com menos experiência. Somente eu, a Camila Comin e a Ana Paula Rodrigues, temos mais experiência. Quando competimos em equipe nem sempre conseguimos muita pontuação por causa das outras que ainda estão começando. Mas o Paraná é o que tem a melhor infra-estrutura. No campeonato em Vitória por aparelhos, o Paraná ganhou em três.
Talentos – Quais as suas modalidades:
Carol – Bem, eu faço salto, paralela, trave e solo.
Talentos – E o convívio familiar como é?
Celina – A gente sente muita saudades quando ela viaja. Mas quando volta ficamos muito felizes. Nesta viagem da Hungria ela voltou tão feliz, e pra nós foi muito legal. E a Carol é muito madura e todo nós torcemos por ela.
Talentos – Você daqui a alguns dias vai querer namorar. Conseguirá conciliar a ginástica com o namoro? E os pais concordariam?
Carol – Seria um pouco complicado, mas quando a gente quer, dá-se um jeito. Mas não pretendo namorar tão cedo.
Talentos – Só para encerrar .como você avalia a tua performance hoje? E quem é a sua treinadora?
Carol – Nos campeonatos internacionais nos quais tenho participado, os técnicos disseram que tenho uma boa postura, de ginasta de alto nível. São elogios maravilhosos, pois até uma técnica da seleção chinesa disse que a minha postura e coreografias eram belas. A técnica é a Iryna Ilyashenko.