Auxiliar no Corinthians desde 2009, Fábio Carille observou em vários momentos, principalmente em 2016, depois da campanha ruim no Campeonato Brasileiro, a diretoria do Corinthians procurar treinadores renomados no mercado, como o colombiano Reinaldo Rueda. Pensou em sair para iniciar a carreira de treinador, como sempre havia sonhado. Fez bem em esperar. Agora ele encerrou a hegemonia dos técnicos Mano Menezes e Tite no Corinthians. Nos últimos 11 anos, o Corinthians só conquistou títulos com os dois.

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Depois de cinco meses como treinador, Fábio Luiz Carille de Araújo confessa que não esperava o título paulista. “O que está acontecendo aqui não é normal. Eu não esperava ser campeão. A parte defensiva sobressaiu demais, mas a montagem do time demora dois ou três anos. Mas o nosso entendimento deu muito certo”, disse o treinador.

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No começo de sua passagem pelo Corinthians, Carille nem viajava com a equipe. Só treinava os mais jovens e outros que iam às partidas. Era o segundo auxiliar técnico, posição que havia sido criada um ano antes por sugestão do técnico Mano Menezes. Carille foi indicado por Sidnei Lobo, auxiliar de Mano. Era, portanto, o auxiliar do auxiliar.

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Ele não esconde que aprendeu muito com os treinadores que passaram pelo Corinthians, em especial, Tite, de quem fala constantemente. A conquista do título paulista poderia ser a grande chance de sair da sombra do mestre. As duas passagens do atual treinador da seleção pelo clube (2010-2013 e 2015-2016) o definem. Para Carille, não é bem assim. “Esse vínculo, aos poucos, podem ir parando de falar, mas acho que ainda vai um tempo. Isso não me prejudica em momento algum, não levo isso como um problema”, afirmou o treinador.

A grande chance da vida de Carille veio quando Cristóvão Borges, técnico por 18 jogos entre junho e setembro do ano passado, foi demitido. Cinco meses depois, levantou a taça de campeão. “Ainda não caiu a ficha. Estou meio perdido com tudo o que está acontecendo.

Obviamente, Carille também é fã do 4-1-4-1 e prioriza a organização defensiva. Tanto que o Corinthians levou apenas dez gols no Paulista e a defesa é o setor mais elogiado da equipe. Valorizar a defesa não significa ser retranqueiro. Contra o São Paulo, na semifinal, armou um esquema tático para marcar a saída de bola do rival e forçá-lo ao erro, para tentar fazer mais gols, mesmo tendo vencido o primeiro jogo por 2 a 0.

Essa obsessão defensiva faz parte da DNA do clube. Nas últimas dez edições do Campeonato Paulista, o Corinthians teve a melhor defesa em oito delas. Carille afirma que esse é o perfil da equipe e que se sente orgulhoso por poder resgatá-lo depois de uma campanha ruim em 2016.

Depois de dormir mal nos últimos dias, Carille esteve agitado no último domingo. Com a mão direita no queixo, seu gesto característico, ele orientou as jogadas de ataque e da defesa. Fora de campo, ele é sério e tímido. Fala pouco e gosta de ser anônimo. Os amigos contam que, quando foi a uma quermesse em Sertãozinho, cidade onde nasceu, ele pediu uma mesa no fundão, não queria chamar a atenção. Mas não teve jeito. Ficou tão sem jeito que foi embora mais cedo. É maluco por pontualidade e não perdoa atrasos. Evita falar sobre sua vida pessoal.

EX-JOGADOR – Carille também jogou no Corinthians. Ou melhor, passou pelo clube. Em 1995, aos 22 anos, Carille chegou do XV de Jaú para atuar no time, que havia sido campeão paulista e da Copa do Brasil com Eduardo Amorim. Voltou em 1997, mas jogou muito pouco. Conta que, mesmo assim, ainda dá autógrafos por sua passagem pelo gigante paulista. Antes, atuou como lateral-esquerdo e zagueiro de clubes menores, como Paraná, Santa Cruz, XV de Jaú, XV de Piracicaba e Juventus. “Eu não era jogador para atuar em cinco edições do Campeonato Brasileiro. Eu era apenas esforçado”.

O estilo voluntarioso e organizado do atleta foi mimetizado pelo treinador. Apaixonado pela organização tática e pela destinação de funções dentro de campo, o treinador afirma que não vai mudar nada de agora em diante. Repetiu várias vezes expressão “pés no chão”.

Vestindo a camisa comemorativa do título de 1977, distribuída a todo elenco no final do jogo, Carille reflete sobre a maneira como sua própria conquista vai na história. “A conquista vai ser lembrada como um grupo desacreditado que se fechou e se uniu, com determinação, concentração e maturidade.