Em dois dias, o Atlético decidirá duas vezes seu futuro. Primeiro, amanhã, trata de permanecer na Série A no confronto com o Flamengo. Na segunda-feira, 2.425 associados terão o direito de eleger os novos representantes dos Conselhos Administrativo (presidência) e Deliberativo, no triênio 2009-2011.
Democraticamente, os jornalistas Cahuê Miranda, Carlos Simon, Clewerson Bregenski e Cristian Toledo, da equipe de esportes da Tribuna e de O Estado, entrevistaram na quarta-feira os candidatos de situação Marcos Malucelli (Administrativo) e Gláucio Geara (Deliberativo) e no dia seguinte os oposicionistas Nelson Fanaya (Administrativo) e José Henrique de Faria (Deliberativo).
A intenção era publicar ambas as entrevistas na edição de hoje, como forma de apresentar as propostas dos grupos ao eleitorado e à torcida rubro-negra em geral.
Mas, como a chapa de oposição “Mais Futebol” foi impugnada ontem pela junta que coordena as eleições do Atlético, a entrevista com Fanaya e Faria fica no “forno” e será publicada somente se os coordenadores do grupo conseguirem voltar à disputa através da Justiça. Confira então o depoimento de Malucelli e Geara, únicos candidato oficialmente registrados até o momento.
Paraná-Online: A oposição diz que o clube precisa de renovação total para seguir seu rumo. Vocês são o continuísmo da atual administração?
Malucelli: Se tudo tem que ser novo, eles não podem ser candidatos. Faria foi presidente do Conselho Deliberativo entre 1995 e 96, e Fanaya presidiu o Administrativo em 99. Eu e o Gláucio Geara nunca presidimos nada. Nós somos o novo e eles são o continuísmo. Inclusive, quando o grupo do Mário Celso Petraglia, Enio Fornéa, Ademir Adur e Valdo Zanetti assumiu, a presidência do Deliberativo era do José Henrique de Faria. Ele entregou o Atlético quebrado naquele vexame da derrota para o Coritiba. E lá ficou até 96. O time só foi arrumado mais pra frente.
Tribuna: Integrar a chapa do presidente Petraglia é bom ou ruim?
Malucelli: Não existe chapa do PET. Ele é um dos 257 membros da chapa Coração Rubro-Negro. Geara: O Petraglia faz parte do nosso Conselho, não escondemos isso. Até porque não estamos rasgando as realizações que ele fez, está fazendo e tem capacidade de fazer conosco. Queremos este apoio e vamos convidá-lo para participar de alguma coisa, assim como convidaremos outros. Ele diz que agora é conosco.
Tribuna: Qual a opinião da chapa sobre a Fundação Atlético?
Geara: Poderá sair do papel no futuro. Se alguém sugerir criar a fundação, faremos consulta ampla a 250 pessoas do Conselho. Aliás, 300, porque queremos completá-lo com mais 50 convidados, através de aprovação, pra dar mais opinião dentro do clube.
Tribuna: Há intenção da chapa, ou do próprio Mário Celso Petraglia, para que ele comande a Fundação?
Malucelli: Se aprovada, o exercício desta fundação e o patrimônio do clube ficam sob tutela do Ministério Público, que pode impugnar operações e responsabilizar pessoas. Com ela, não se pode vender a Arena, por exemplo, sem se submeter ao Conselho e ao MP. Isso dará mais segurança ao associado. Mas ainda não há sequer um projeto para criar a fundação. E pode ser outro nome, instituto, ONG. Falam que o Petraglia será o dono, o que não existe. Há apenas essa hipótese no Estatuto.
Tribuna: O fato de Marcos Malucelli ser gestor do futebol do Atlético significa que o objetivo da chapa é resgatar um grande time do futebol para o clube?
Malucelli: Claro. A meta é formar um time pra ser campeão em âmbito local ou brigar para ficar entre os primeiros nas competições mais importantes, o que não ocorreu nos últimos anos.
Tribuna: Por que o clube chegou à situação atual?
Malucelli: Por uma série de contingências, principalmente neste ano. Tivemos uma série de jogadores machucados, com freqüência fora do comum, e contratações durante campeonato de atletas sem pré-temporada ou que estavam parados em seus clubes. Isso agrava os problemas físicos.
Tribuna: Já há em mente um nome para comandar o futebol?
Malucelli: Ainda não. No Conselho Administrativo só há dois nomes, o do Enio Fornea e da Yara Eisenbach. Vamos pensar no futebol depois, mas pode haver um coordenador profissional.
Tribuna: A idéia de manter Geninho independe da permanência na Série A?
Malucelli: Sim. A vontade dele não sei, pois um treinador sempre prefere times de 1ª Divisão. Mas trabalhamos com essa hipótese, já combinamos de tratar disso com ele na 1ª quinzena de dezembro.
Tribuna: E o Moraci Sant’Anna?
Malucelli: Idéia também é ficar, mas com ele ainda não conversei.
Tribuna: É possível manter os planos de conclusão da Arena apesar da crise internacional?
Geara: Temos dois planos, um sem e outro com a Copa. O primeiro já está em andamento. A conclusão do anel é rentável financeiramente porque vamos vender as cadeiras. O segundo depende da iniciativa privada e das autoridades estaduais e federais, para cumprimento das exigências da Fifa. E ainda houve cortes de investimento gerados pela crise financeira mundial. Hoje não haveria candidato à Copa de 2014.
Tribuna: O site da chapa de oposição citou o fato de Eduardo, filho de Marcos Malucelli, ser agente de jogadores. O que o senhor pensa disso?
Malucelli: Isso está no site deles? É um absurdo. Fico revoltado. Meu filho é um guri de 29 anos, advogado e digno. Desde que passou no concurso para agente de jogadores, em maio de 2007, nunca fez uma transação sequer com o Atlético. E nem fará nos próximos três anos enquanto eu for presidente, porque não é do caráter dele. Ele se limita a ajudar o tio dele (Sérgio Malucelli), que é presidente do Iraty e meu irmão. Vou falar para que os sem-vergonhas que fizeram isso tirem do site. Não sei se Fanaya e Faria têm filhos e o que fazem, pois o que se disputa é a presidência do clube. Aliás, sei que o filho do Fanaya, o Nelsinho, faz parte do nosso conselho. Isso é uma falta de caráter desses caras. Inclusive do Fanaya, que até então era meu amigo e me convidou publicamente para a chapa dele. Não merece sequer meu cumprimento, ainda que ele ganhe, para aprender a ter caráter, a ser honesto e ser digno.
Tribuna: Pode haver torcida contra da oposição no jogo de domingo?
Malucelli: Meu Deus do céu, é o Atlético que está em campo. Não quero crer nisso.
Tribuna: O Atlético vem se notabilizando por contratar jogadores em grande quantidade e nem tanta qualidade. Essa política vai mudar?
Malucelli: Claro, todos sabem que temos excesso de atletas e a qualidade não está à altura do Atlético. Vamos privilegiar qualidade, mas com um plantel forte.
Geara: Um bom exemplo é o do São Paulo, que tem poucos jogadores, mas bons.
Tribuna: O clube vai resgatar a capacidade de garimpar de jogadores?
Malucelli: Realmente nossas parcerias, mesmo para trazer jogadores semiprontos, não têm dado certo, como o Porto (PE) e Uniclinic (CE). Com PSTC, a única que deu certo, pretendo manter. O contrato vence no começo do ano que vem. Mas vamos investir dentro do CT para que nós formemos jogadores. Para isso fizemos essa reformulação em novembro nas categorias de base. O vínculo com o CAPA (que terceiriza a categoria infantil do clube) também possivelmente será eliminado.
Tribuna: Por que o Atlético não tem êxito na formação de jogadores?
Malucelli: Não se poder dizer isso. Temos Rhodolfo, Vinícius, Choco, Eduardo Salles, Alex Sandro, Douglas Maia, Renan, todos formados por nós. Também há o mérito de escolher os jogadores certos no PSTC. Mas claro é desproporcional à nossa estrutura.
Tribuna: Houve ligeira distensão no tratamento com imprensa nos últimos meses. Isso prossegue ou as idéias de proteção do clube prevalecem?
Malucelli: Prosseguem. Mas não será como anos atrás. Devemos abrir um pouco mais a participação da imprensa em treinamentos. Mas o limite está próximo, pois os CTs são locais exclusivos de trabalho aos jogadores. Defendo também entrevistas coletivas periódicas do presidente, para que o próprio associado avalie o que ocorre no clube.
Tribuna: A política de aproximação aos sócios segue?
Malucelli: Sim. Saímos de 2.500 em fevereiro para 20 mil em dezembro. A aceitação foi excelente.
Tribuna: Qual será o tratamento às torcidas organizadas?
Geara: Meu primeiro gesto como candidato foi falar com as torcidas, independente de apoio político. Só pra dizer que estamos abertos, e que não haverá mais separação de rua entre nós e eles.
Tribuna: O que continua e o que muda no Atlético em relação à administração atual?
Geara: Não se faz gestão de apenas três anos. O planejamento começou há 14 anos. Vamos sentar e ver o que tem. A idéia é criar comitês disso e daquilo, um comitê médico, ou de advogados. Mas não vamos decidir tudo sozinhos. Primeiro porque gosto de dividir responsabilidades, democraticamente. Aprendi como secretário da Fazenda que o poder isola a pessoa. Não quero ter poder nem ficar isolado.
Tribuna: Desde 1995, Mário Celso Petraglia centralizou, com maior ou menor intensidade, o poder no clube. Ele manifestou apoio e integra a chapa e de vocês. Como torcedor vai imaginar que Petraglia não será na prática novamente o presidente do clube?
Geara: A gestão será tão aberta que o torcedor vai ver. Claro que não escondemos apoio dele, o voto dele, e que ele poderá colaborar conosco. Mas são novos tempos. Ele pode sugerir muitas coisas no Conselho, onde tem mais 250 pessoas. Não posso me submeter ao capricho pessoal de qualquer um dos conselheiros individualmente. Tem mais gente para decidir. Não serei presidente do Conselho, mas outro membro. Meu poder é igual de todos, só vou conduzir e ser guardião do estatuto.
