Romeu Tuma Júnior se coloca como o único real candidato da oposição na eleição do Corinthians, que ocorre no próximo sábado. Delegado e de personalidade forte, fala grosso contra Odebrecht, Caixa, empresários e promete uma grande mudança no Corinthians, em praticamente todos os setores.
Após a entrevista do candidato Felipe Ezabella, publicada na última segunda-feira, o Estado veicula nesta terça a longa conversa que teve com Tuma, que foi vice-presidente de futebol do clube entre 1994 e 1995 e agora luta para assumir a presidência.
Por que entende ser o melhor candidato?
Sou o único que não tem nenhum vínculo com os problemas do Corinthians. Estou há 22 anos na oposição. Não participei da Arena (Corinthians), ao contrário, fui contra a criação do fundo e alertei que teríamos problemas com isso. Fui contra os empréstimos feitos e sou o único candidato que tem família que frequenta o clube. Então, conheço os problemas da piscina, bocha, tudo. Sei que falta atividades para as mulheres, uma brinquedoteca. Fui o único que votou contra o ‘Chapão’, único que votou contra as contas da atual diretoria, pois estão todas irregulares. Fui o único que votou contra o orçamento dos últimos anos. Mas sou contra com argumentos, mostrando o motivo. Por tudo isso e muito mais coisa, eu mereço e serei eleito.
Os outros candidatos são responsáveis pelos problemas do clube?
Não dá para se aventurar no Corinthians. As pessoas que querem dirigir o clube têm que estar despreocupadas em sua vida profissional e particular. Não dá para querer administrar o Corinthians de Brasília ou ser funcionário público. Aliás, eu fiz uma carta, há mais de dois meses, para testar os candidatos. Fiz duas cartas para testar se eles assumem o que falam. Uma carta dizia que a gente deveria abrir mão de cargo público de qualquer natureza para focar só no Corinthians e que teria que deixar o cargo público até 45 dias antes da eleição. Veja se o (Antonio Roque) Citadini e o Andrés (Sanchez) assinaram (e mostra o papel). Só assinaram Ezabella e eu. Falam que vão se dedicar ao clube e não assinam? Aí fiz outro documento dizendo que o candidato eleito assumiria com seus próprios bens caso fizesse algo que causasse prejuízo financeiro ao clube. Adivinha? Só Ezabella e eu assinamos de novo. Os outros correram.
Como pretende fazer o Corinthians gerar mais receita?
O problema é a gestão. Tudo que entra de recurso na Arena (Corinthians) vai para o fundo que paga o estádio e o Corinthians não recebe um tostão. É um fundo sem fundo. E temos muitos conchavos para ganhar a eleição e depois precisa sair retribuindo favores. As negociações no Corinthians são todas feitas por intermediários. O Fiel Torcedor rende pouco para o clube, o licenciamento de produtos, montaram uma empresa fora do clube para fazer isso. Qual objetivo? Faz um departamento de licenciamento dentro da área de marketing. O Corinthians paga comissão para quem compra e quem vende, como se o clube fosse da Lua e ninguém conhecesse. Na base, a maioria tem empresário ganhando mais do que o clube. É uma gestão temerária. Falta profissionalismo e pensar no clube. Temos um projeto de poder pessoal e partidário. Esporte olímpico não faz caixa. Marketing e financeiro são muito mal geridos. A camisa do Corinthians virou um outdoor que só tem marcas pequenas, porque ninguém quer colocar o nome em um lugar que não tem credibilidade. O Corinthians é uma mina de dinheiro, a maior marca do mundo, mas precisa ser melhor trabalhada. Vou criar a superintendência de futebol, para vincularmos o profissional com a base, o feminino e o master.
O Corinthians não tem time de master ligado ao clube. Vai criar um?
Vou profissionalizar o master. Vou contratar ex-atleta, pago plano de saúde, salário mensal e quando alguém quiser contratar os Masters do Corinthians para um evento, vem falar com a gente. Pagamos uns R$ 2 mil por mês para cada ex-atleta e cobro R$ 100 mil por jogo. Podemos fazer livros e camisas desses ex-jogadores, explorar a imagem de ídolos e grandes conquistas. Não existe marketing do Corinthians. No título de 77 (campeão paulista), por exemplo, poderiam ter feito um monte de coisa. Na época, eu comemorei que nem um louco aquele título, me ajoelhei, comi grama e fiz o diabo. Se tivessem coisas para relembrar aquela conquista, venderia muito. Eu mesmo compraria para a minha neta e sairia distribuindo para todo mundo. E para os ex-atletas que não têm condição de jogar, eu contrataria para ser olheiro de novos talentos.
Muita gente reclama de falta de transparência do clube. O que pensa sobre o assunto?
Existe, claro, e gera uma série de problemas. Se for transparente, é um antídoto para uma série de coisas. Você joga luz em um lugar e vê tudo. Fica mais difícil assaltar no claro. Quando você não tem transparência, tudo gera desconfiança, mesmo que você tenha boa fé. Podem até não roubar, mas ninguém vai acreditar se acontecer alguma coisa errada. Que nem a venda do Jô. O cara é artilheiro do Campeonato Brasileiro, joga no campeão brasileiro, time de segunda ou primeira maior torcida do Brasil, ganhou um monte de prêmio e precisa de intermediário para fazer o negócio? Os japoneses não conseguiriam chegar sozinhos até o Corinthians? Não dá para entender.
Que mudanças pretende fazer na base do Corinthians. O clube continuará tendo apenas uma parte dos direitos dos atletas e a outra parte ficará na mão de empresários?
Vou acabar com esse negócio de empresário mandar na base do Corinthians. Vou voltar com o terrão e a peneira. Quando eu fui dirigente, acabei com aquela coisa de vir 500 garotos, cada um jogava cinco minutos e ia embora. Não dá para ver nada neste período. Temos que montar 20 times e deixar a molecada uns três meses treinando. Aí sim conseguiremos ver quem tem capacidade mesmo. Quem for revelado no clube, será 100% do Corinthians. Mas, às vezes, acontece de não termos um lateral-esquerdo, um zagueiro, então temos que buscar fora, não tem jeito. Neste caso, 80% é o mínimo que o clube pode ser o dono. Se o empresário não quiser, pode levar para o Santos ou para o São Paulo. Eu sei que vou acabar com empresário “urubuzando” a base.
A arena é uma fonte de receita mal utilizada ou um problema a ser administrado?
A arena foi feita sob um modelo que é para ela não ser paga. Temos que tirar a Odebrecht e a Caixa do negócio e acabar com esse fundo que foi criado para pagar a Arena. Hoje, a dívida é impagável. A arena está em R$ 2 bilhões no total e foi feita em um terreno que é nosso. A Odebrecht fala que o Corinthians deve R$ 400 milhões. A auditoria do Molina (escritório de advocacia Molina & Reis) diz que a construtora deve ao Corinthians R$ 250 milhões por obras não feitas ou inacabadas. Eu ainda acho que teria valores por danos morais e materiais. Morais porque colocou a gente na Lava Jato. O próprio dono da Odebrecht falou. O Corinthians é vítima disso tudo. Cabe processo também por danos materiais, porque uma das obras que não foram feitas é a do estacionamento, onde você entra com o carro, mas não consegue sair, porque a entrada é a mesma. Temos que jogar duro com eles. Está achando ruim? Vai na Justiça. Entra com processo, vai levar uns 100 anos, até que eles consigam sair da Lava Jato e se reerguer. Sem contar o risco de infiltração e a segurança do torcedor.
Acha que a Lava Jato pode interferir na arena?
Claro, como admitiram que teve desvio de recurso, você corre o risco da Justiça vir e bloquear o estádio, a renda, sequestra o bem, coloca para leilão, enfim, vai transformar a nossa vida em um inferno. A gente precisa se livrar da Odebrecht urgentemente. Em relação à Caixa, o empréstimo de R$ 400 milhões deve estar uns R$ 800 ou R$ 900 milhões já. Tem que chegar lá e pedir os cinco anos de carência, como todos os estádios tiveram. Se a Caixa não aceitar, a gente vai dar calote. Os caras vão aceitar, pode ter certeza. Assim, a arena passará a ser nossa de verdade, e poderemos vender os naming rights. Querem vender hoje para dar dinheiro à Caixa.
Na resposta anterior, você falou em infiltração e segurança do torcedor. Teme que aconteça uma tragédia na arena?
Fiz questão de fazer essa pergunta para a comissão do Conselho, quando analisaram os contratos. Eles me disseram que há risco, sim. Não tiveram coragem de escrever no relatório, mas falaram. Assim que eu assumir, vou mandar fazer uma perícia geral para ver os problemas que temos e as coisas mais urgentes para que o torcedor tenha segurança na arena. A gente tem uma casa de espetáculo e vou criar uma diretoria de torcedor para ter uma comunicação direta com ele e saber o que o torcedor precisa.
Pretende mudar o sistema de sócio-torcedor?
Precisamos fazer alguns ajustes, sim. Eu ganho a eleição e na hora já vou atrás de fazer com que todos os sócios do clube se tornem sócio-torcedor sem taxa de adesão. E eu quero mudar o programa para que todos possam comprar ingresso. Criarei um cartão Corinthians para que o cara consiga comprar ingressos de forma mais fácil e o cartão sirva para fazer qualquer tipo de compra. Tudo que for gasto, o Corinthians arrecada uma parte.
E o preço dos ingressos? Não dá para criar um setor popular ou baratear os ingressos?
Hoje, só vai na arena quem tem grana. Não tem mais bilheteria física, mas o cambista continua porque ele consegue ingresso com dirigente. Isso é um absurdo. Vamos mexer nisso também e outra coisa é que precisa variar o preço do jogo. Pega uma partida como o duelo com a Ponte Preta, na primeira rodada do Paulista. Não dá para cobrar o mesmo valor de um clássico ou de uma Libertadores. Temos que fazer com que a arena esteja sempre cheia, pois isso faz com que o clube arrecade ainda mais recursos. O torcedor paga menos no ingresso, mas chegando ao estádio, compra um lanche ou uma bebida lá dentro e esse dinheiro vem para o clube do mesmo jeito.
Falando do futebol profissional, o Alessandro permanece na diretoria e o Corinthians terá um time de estrelas na sua gestão?
Eu mantenho a comissão técnica e o Alessandro. Já falei com ele e passei tranquilidade, pois não vou mudar ninguém. Há muitos problemas no Corinthians, mas também muita gente boa trabalhando lá. Eu imagino que o presidente não pode trabalhar como torcedor, por isso, podemos vetar contratações apenas se for por uma questão de valores. O técnico pede o Pelé, ele custa R$ 200 milhões, aí tenho que vetar. Não indico jogador. A comissão técnica que tem que indicar quem eu devo contratar, pois ele terá a responsabilidade de fazer aquele cara jogar. Claro que todo mundo quer estrela no time e vou correr atrás de patrocinadores para ter um time forte. Só não vou fazer contrato como o do Sheik. Eu não posso contratar um jogador do nível dele com contrato de apenas seis meses. Se o cara for bem, marcar gol em Libertadores e tudo mais, como fica? Ele coloca a faca no nosso pescoço e pede um caminhão de dinheiro para renovar.
Alguns sócios reclamam que o Parque São Jorge anda um pouco abandonado. O que pensa sobre o assunto?
O clube foi deixado de lado pela diretoria. Temos que criar novos espaços e melhorar o que existe. Hoje, você só consegue fazer churrasco e tomar cerveja no clube e mesmo assim, a cerveja é mais cara do que é na rua. A gente parece que quer expulsar os sócios novos. Cobram para fazer tudo no clube. A diretoria ainda não entendeu que hoje em dia, existe a concorrência do clube da Penha, que é ali do lado, e dos condomínios das pessoas. Hoje, qualquer condomínio tem um salão de jogos, brinquedoteca, churrasqueira, etc. Ainda tenho um projeto que é a construção de um hotel, com estacionamento subterrâneo. O cara vai, se hospeda no hotel e ainda tem direito a alguns benefícios, como conhecer a arena, usar o clube… Ainda podemos receber delegações de times que são de fora e vão enfrentar o Palmeiras e o São Paulo. Teremos também um projeto chamado “Integra Corinthians”, que é fazer tipo a Disneylândia. O Jadson está suspenso ou o Cássio machucado, eles vão no Parque São Jorge para uma tarde de autógrafos das 10h ao meio-dia por exemplo. Na Disney, tem uma tarde de autógrafos com os personagens. Ainda faremos o museu do clube, pois estamos com um monte de troféu largado.
E o que planeja para os outros esportes?
Vamos reativar todos os esportes olímpicos para disputar campeonato de verdade e sem time com barriga de aluguel. Ano passado, por exemplo, gastamos R$ 1,2 milhão para emprestar a camisa para o time do Audax de futebol feminino. Qual o sentido disso? Vamos acabar com essas coisas. Corinthians terá time próprio.
O que fazer com a Fazendinha?
Tem que dar uma revitalizada nela. Vou usar para o futebol feminino, master, base, futebol americano. A ideia é colocar uns nove ou dez mil torcedores por jogo. Vou fazer uma miniarena para receber diversos esportes e shows para até 20 mil pessoas.
Você não pretende continuar com a Nike como fornecedora de material esportivo. Qual o motivo?
Claro que não. No orçamento do Corinthians apareceu que o clube pagou para eles. Como pagar para um fornecedor de material esportivo? Eles que pagam para o clube. Estão roubando camisa? O contrato vai até 2029, mas isso infringi o Profut, então assim que eu entrar, cancelo esse contrato. Eu estudei e fiz uma conta para mostrar como estamos sendo prejudicados. A Nike paga 7 dólares na camisa que ela compra de uma fábrica na China. O Corinthians tem força para ir nesse fabricante e pedir 1 milhão de camisas, para uniformizar todos os esportes. Vai no Bom Retiro, em uma empresa boa, paga mais 1 dólar por símbolo, estampa o escudo do Corinthians e pronto. Deixa todas as modalidades com o mesmo uniforme e ainda vai sobrar camisa para vender. O Corinthians gasta 8 dólares em uma camisa e vende por uns 30 dólares e assim mata o cambista, com uma camisa custando R$ 100. A camisa da Nike custa ‘400 pau’, aí ninguém consegue comprar, pô. Tem que colocar a faca no pescoço da Nike. Além disso, ela está sendo investigada pelo FBI.