A eleição para presidente do Corinthians, que ocorre no próximo sábado, agita os bastidores do clube nesta semana. O Estado inicia nesta segunda-feira uma série de entrevistas com os cinco candidatos ao pleito. Eles falam sobre suas propostas, mostram o que pensam sobre alguns assuntos polêmicos do clube e fazem suas promessas. O primeiro entrevistado é Felipe Ezabella. Doutor em Direito Desportivo pela USP, foi vice-presidente de esportes terrestres do Corinthians entre outubro de 2007 e dezembro de 2009 e também foi conselheiro do clube entre 2007 e 2015.
Como você se coloca perante os outros candidatos?
A gente (da sua chapa) tem se colocado como uma terceira via neste momento. Temos uma linha de independência, mais de centro. Somos a coisa nova no clube, pessoas que não tem a grande mídia, que não é tão conhecida, pois adotamos uma postura mais discreta. Os outros candidatos são ou tiveram cargos públicos. Isso faz com que eles sejam mais conhecidos, mas também têm mais rejeição.
O Corinthians tem sofrido muito com problemas de receita. Como solucionar isso?
Não tem uma resposta. Os estudos que fizemos mostra que existem vários motivos. A governança do clube não ter transparência atrapalha. Que empresa vai querer se associar com um clube que tenha uma falha dessa? Tem ainda a questão da arena, com esse imbróglio com a Odebrecht. Que empresa vai querer ligar seu nome a Polícia Federal, crimes, delatores, enfim, uma série de coisas? Hoje, não se vende mais espaço publicitário. As pessoas compram associação de marcas e isso é um problema para o Corinthians, pois só aparecem notícias ruins.
Reclamam de falta de transparência da atual diretoria. O que pensa sobre isso?
Eu tenho que ser transparente, pois sou obrigado a lançar no balancete. No ano passado, divulgaram apenas um balancete, o que está errado, pois o estatuto manda que seja feito o balancete mensalmente. Neste formato da atual diretoria, só saberemos, por exemplo, o valor real da comissão e da negociação do Jô no meio do ano que vem.
A Arena Corinthians é uma fonte de receita mal utilizada ou um problema para administrar?
A arena é a solução dos nossos problemas, desde que seja bem administrada. A forma com que a negociação foi feita, não adianta reclamar agora, já foi feita. Temos dois problemas centrais que precisamos administrar. O financeiro, que não conseguimos resolver com a Odebrecht e com a Caixa. Eu não vou trabalhar com a Odebrecht. Sei que é difícil, mas no lançamento da minha candidatura, não tinha nenhum dirigente da construtora lá. Tenho certeza de que a empresa vai se recuperar de tudo que está acontecendo, mas vamos tocar a nossa vida e ela a dela. Vamos atrás de outra construtora e terminar o que precisa ser terminado. Existe uma dívida que não dá para ignorar e não daremos calote em ninguém, mas precisamos acertar a situação. Outro problema é que o estádio tem 40 jogos por ano e nos outros dias fica parado, praticamente. Tem que funcionar para alguma outra coisa. A arena precisa se ‘performar’. O estacionamento tem que ser aberto, podemos ter um comércio por lá, com gente circulando e entrando mais dinheiro. Podemos fazer shows, festas, treinos abertos, jogos do (time corintiano) sub-20 ou do feminino, por exemplo.
Qual será seu primeiro ato como presidente?
A ideia é sentar na cadeira e já dar uma olhada geral na situação, principalmente nos contratos assinados do estádio. Teremos uma equipe olhando só para esses contratos.
O que pretende fazer com a Fazendinha?
Para ser bem sincero, não temos ideia do que fazer ainda. As mudanças não vão ocorrer em um mandato e tem uma dificuldade que é o fato das matrículas da Arena Corinthians estarem presas ao estádio. Falar agora que é melhor construir um shopping, um posto de gasolina ou uma arena multiuso, como alguns candidatos estão dizendo, é invencionice de quem quer aparecer. Tem que ser profissional, pois estamos falando de um terreno que fica à beira da marginal, bem valorizado. Vamos estudar e ver se a gente vende, faz uma parceria, levanta três torres e consegue mais receita para o clube. Enfim, vamos estudar o que é melhor.
Pretende investir em outros esportes?
O futsal tem que ter. Ele é formador de jogadores para o campo e a criança chega ao clube para jogar no salão e depois se desenvolve para o futebol. Natação também é interessante, pois temos um parque aquático e precisamos usá-lo. O mesmo que o remo. Não precisamos contratar o melhor atleta do mundo, mas precisamos de uma equipe competitiva. Os investimentos em outros esportes vão depender de cada caso. Sou contra terceirizar a camisa. Eu sou fã do basquete e o clube tem uma história nesse esporte. Só que precisamos estruturar e também investir em categorias de base, contando com um investimento privado.
Que mudanças fará no futebol profissional? O Alessandro continua?
O Alessandro está sobrecarregado e isso tem atrapalhado ele. Falta mão de obra e ele não tem um assessor ou alguém que lhe ajude, inclusive na ligação com a base. Ele está muito sozinho, pretendo mantê-lo e contratar alguém para trabalhar com ele. Algo que está errado e vou acabar com isso é que o Corinthians quer contratar um jogador, o clube vai lá e paga para um agente ir buscar o jogador. Pode acontecer de precisar de um agente, para o caso de um atleta de difícil acesso, mas toda negociação tem comissão? Quando a gente vai comprar um apartamento, a gente vai atrás, compra e pronto. Às vezes, precisa de um corretor, só que o Corinthians nunca consegue comprar um apartamento sozinho. E também quero montar um time B, para aproveitar atletas que não estão sendo utilizados.
Qual seria a função do time B? Teria campeonato para jogar?
Creio que seja algo que, a médio e longo prazo, seja vantajoso. A gente já paga o salário de um monte de jogadores que a gente empresta. Ano passado, Jean, Lucca, Douglas, entre outros, jogaram por outros clubes e a gente pagava salário. Talvez tenha um custo adicional no início, para montar o time, mas é melhor do que emprestar. Temos muitos meninos que estouram a idade da base e não é usado pelo time profissional. O Corinthians poderia disputar a Copa Paulista. Sendo campeão, vai jogar a Série D do Brasileiro e, quem sabe, no futuro poderá disputar a Série B. Para fazer esse time, é preciso conversar com a federação e a CBF para saber se vão continuar existindo torneios em que podemos utilizar essa formação, como acontece na Europa. Temos 40 jogadores no elenco e muitos deles não serão utilizados. Estando em um time B, eles continuam em atividade e mantemos no nosso radar. Se o menino se destacar, a gente pode chamar para o profissional ou negociá-lo.
Como será sua relação com empresários? Existem alguns que têm vários atletas no clube.
Sei bem disso e transparência é fundamental para acabar com esses privilégios. A gente não sabe como as coisas funcionam lá dentro. Você sabe realmente quanto o clube vai receber pelo Jô? E quanto custou o Mateus Vital? É tudo muito misterioso, escondido. Eu não tenho problema com agentes, mas são sempre os mesmos no Corinthians. O normal é, em um grupo de 40 jogadores, ter 10 ou 12 agentes diferentes. Engraçado que o clube deve para Deus e o mundo e raramente atrasa algo para empresários.
O que pensa sobre o programa de sócio-torcedor e o preço dos ingressos?
Percebemos que, quando o torcedor quer virar sócio-torcedor, é muito complexo. São sete categorias, seria bom dar uma simplificada. Outro ponto é fazer com que o associado do clube se encaixe no (plano) Fiel Torcedor. Associados sempre tiveram acesso para comprar ingressos e hoje eles reclamam que não conseguem mais comprar. Essa questão do sócio virar sócio-torcedor, ainda pode ter o efeito contrário, pois muitos torcedores que hoje são só sócios-torcedores podem se tornar sócios do clube, pois sabem que continuarão tendo os mesmos benefícios e, pagando um pouco a mais, ainda terão o clube para utilizar.
Como será sua relação com torcida organizada?
Transparente, sem privilégios e institucional. Eu recebo torcedor, conselheiro, todo mundo, e recebo organizada também. Não tem motivo para recebê-los escondido. Não vejo com bons olhos eles irem conversar com os jogadores. Vai depender do momento. Se eles quiserem conversar, vou falar com a comissão técnica para saber o que eles pensam.