Atuais campeãs mundiais de vela na categoria 49erFX, Martine Grael e Kahena Kunze defenderão o título a partir do dia 17 deste mês, em Buenos Aires. Mas, mesmo feliz com o atual momento, a dupla diz que a conquista do bi não é a prioridade do ano. O foco são os Jogos do Rio-2016. “A Olimpíada foi o motivo principal de a gente começar a velejar juntas”, contou Martine.

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As duas costumam treinar na Baía de Guanabara, palco da vela no Rio-2016 e que enfrenta muitas críticas pelas condições da água. E elas fazem coro. “A gente gostaria que ficasse um legado e nem isso vai ser possível. Depois da Olimpíada acho que só vai piorar. É muito chato isso”, comentou Kahena.

Agência Estado – Como avalia o momento de vocês?

Martine – Conseguimos resultados acima do que estávamos esperando. Isso anima, porque cumprimos nossas metas e ainda temos muitos campeonatos antes da Olimpíada. Acaba sendo um estímulo.

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AE – Qual a expectativa para este Mundial?

Kahena – Estou bem tranquila. É muito difícil ganhar dois consecutivos, até porque todas as equipes estão indo com bastante antecedência, estão indo muito bem preparadas, porque é classificatório (para a Olimpíada do Rio-2016) para alguns países. A gente tem feito um bom trabalho até agora, deu para exercitar bem as manobras.

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AE – Como vocês se prepararam?

Martine – Nosso foco principal este ano não era o Mundial. A gente teve o evento-teste (foram bicampeãs), muitas competições, e agora demos uma descansada. Treinamos aqui no Rio mesmo, não estamos indo com tanta antecedência.

AE – Vocês participaram dos dois eventos-teste. Dá para traçar um paralelo?

Martine – Foram campeonatos bem diferentes. O deste ano teve quase 20 barcos a mais, foi muito maior, mais legal e parecido do que será na Olimpíada. Correu tudo bem, foi um evento muito bem organizado, a gente chegou até o fim disputando medalha.

AE – Foi testada uma nova raia este ano. Como vocês avaliam?

Kahena – A gente acabou não competindo em todas as raias por causa do vento e outras condições. Corremos praticamente dentro da baía.

AE – Vocês consideram o fechamento do espaço aéreo sobre a baía durante os Jogos uma medida necessária?

Martine – É mais uma medida de segurança, mas pra gente não sei se vai mudar muita coisa. Faz diferença a condição de vento em alguns lugares específicos. Mas o barulho atrapalha muito.

AE – Como é navegar na baía?

Kahena – É um lugar maravilhoso, acho que é um dos meus lugares prediletos para navegar. Tem condições muito variadas de vento.

AE – E estão conformadas com o fato de que a água não vai ficar nas condições prometidas?

Martine – Não, não estamos conformadas. Acho que o trabalho que tem de ser feito na baía precisa de um estudo muito grande e ser feito não apenas em lugares específicos. Há um problema muito grande de planejamento urbano e educação, e acho que, se não resolver na raiz, não vai resolver o problema. Paliativos não resolvem.

AE – Pode-se dizer então que a Baía de Guanabara é ótima de navegar pelas condições de vento, mas péssima pelas condições de água?

Kahena – A gente tem muita sorte porque, às vezes, as condições estão incríveis. A água limpa entra na baía e fica um paraíso. Só que isso ocorre uma semana no ano. Quando acontece o contrário, que vem a água suja do Fundão, a gente vê vários objetos que podem estragar o barco e um cheiro desagradável.

AE – Mesmo já sendo campeãs mundiais, a Olimpíada é o maior sonho?

Martine – Esse foi o motivo principal de a gente começar a velejar juntas. Não desvalorizando ser campeãs mundiais, que para mim também era um sonho. Depois de muito tempo competindo você começa a ter um rumo, coisas que se aproximam e te deixam cada vez mais feliz e satisfeita.

AE – Como é conviver em meio a medalhistas olímpicos?

Martine – É um privilégio, e não só da vela com o meu pai, o Robert (Scheidt) e outros atletas. A gente agora também faz parte do time Embratel, com a Adriana Samuel e outros atletas do Brasil que sempre têm uma história, uma mensagem, um valor pra passar. Acho que isso é muito importante, e não só os que já conquistaram medalhas. Às vezes a gente encontra aqueles que estão no caminho e é muito legal.

AE – Como estão planejando a preparação daqui até o Rio-2016?

Kahena – Temos o Mundial agora, e ano que vem vai ser bem curto o tempo entre um Mundial e outro em função dos Jogos, então a gente vai passar bastante tempo fora do País. Vamos intensificar o treino e trabalhar a cabeça e o físico.