Rua Baguari, 80 – quarto dois da pensão. Tatuapé. Cheiro de suor e ração de cachorro no apertado cômodo de três metros quadrados. Colchão no chão, geladeira velha e vazia. Um televisor pequeno e de imagem desfocada. A velha Bíblia aberta em cima da única cômoda desgastada pelo tempo. No centro da casa, o objeto de salvação: luvas e o saco de areia. Esse é o endereço de mais um herói anônimo no boxe brasileiro. Quem mora ali é Daniel Sabóia, 22 anos, 5ª série no supletivo. Ele sobrevive com R$ 300 que consegue como flanelinha da rua Maria Eugênia, no Tatuapé, em frente a uma igreja.

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‘Às vezes eu sento no meu sofá e choro abraçado com meu cachorro o Spike. Nasci para lutar, boxe é minha vida, mas muitas vezes me falta até comida. Nunca sei se vou almoçar ou jantar. Cada dia é uma luta para sobreviver. O sonho da minha vida é ganhar um emprego para poder ter alimentação adequada para lutar. Já desmaiei de fome. Mas não desisto’, diz com a voz embargada e lágrimas no olhos.

‘Ele é o mais jovem campeão da história do boxe do Brasil. Ganhou o título nacional de meio médio com 20 anos – há dois, portanto. É corajoso. E essa história de miséria no boxe nacional é a pura realidade. O Daniel é um sobrevivente. Se tivesse patrocínio, iria longe’, diz o vice-presidente da Confederação Mundial de Boxe, Newton Campos.

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