Ainda que nos dias de hoje que seja comum contar com a presença feminina nos mais diversos ambientes que envolvem o universo do futebol, ainda existem pessoas que insistem em menosprezar as mulheres que trabalham na área. Comentários como “mulher não entende de futebol”, “vai lavar louça”, “só está aqui porque é bonita” ou, ainda, xingamentos impossíveis de serem escritos devido à gravidade, infelizmente, fazem parte da rotina das profissionais que trabalham na área.
Por conta dessa realidade e, também, devido a episódios recentes envolvendo agressões verbais e físicas a jornalistas esportivas, um grupo composto por mulheres que atuam no futebol criou a campanha #deixaelatrabalhar. Fazem parte da ação que visa conscientizar sobre o respeito às mulheres jornalistas, árbitras e comentaristas.
A jornalista Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, passou recentemente por uma situação de ódio gratuito, que mostra o desrespeito que ainda existe com as mulheres no meio do futebol.
“Aconteceu no Gre-Nal do último dia 11, quando um homem me agrediu verbalmente e, quando comecei a filma-lo, tentou me agredir fisicamente. Eu não estava no ar. Eu não tinha falado nada. O agressor se sentiu no direito de me chamar de cadela, puta e vadia só pelo fato de eu ser mulher. Isso é reflexo das pequenas violências que enfrentamos todos os dias”, comentou Renata, que lembrou que esse caso, apesar de ser grave, não foi isolado.
“Como mulher, a gente sofre com dois tipos de situações. O primeiro e mais frequente, quase diário, é o machismo que se manifesta de forma muito natural. Nas redações, contestam nossa apuração, insinuam que conseguimos informações porque a fonte ‘facilita pra mulher’. Também há agressão e assédio, com objetivo de nos diminuir, de nos intimidar”, explicou a repórter que é uma das participantes da campanha #deixaelatrabalhar.
“Causar reflexão é nosso principal objetivo. Atitudes como as que citei antes são muito comuns no meio futebolístico e jornalístico. Sempre foram tratadas de maneira natural: ‘sempre foi assim’. Agora, chegou em um ponto que cansamos. Fazer com que as pessoas percebam que devem respeitar nosso trabalho é um avanço enorme”, detalhou.
Aqui não é diferente
A jornalista Nadja Mauad, da RPC, conta que hoje é respeitada em seu meio profissional, mas no começo da carreira chegou a ouvir comentários negativos ou “piadinhas” sobre ser mulher e não entender de futebol.
“Por sermos mulheres temos que mostrar duas vezes que entendemos de futebol. Se erramos o pensamento é: ‘ah, errou porque é mulher e não sabe nada’. Mas se o homem erra: ‘ah, errou, é normal’”, explicou a repórter que tem quase 10 anos de experiência na área esportiva e infelizmente recebe de torcedores comentários machistas e palavrões com frequência.
“Não queremos ficar apenas nas redes sociais. Queremos que as pessoas se sensibilizem de uma maneira geral. Clubes, torcedores, jogadores, colegas. É justamente pra mostrar isso que acontece todos os dias, com todas as profissionais que trabalham com esporte. Todas tem um depoimento, uma história . É frequente e precisamos combater. Durante muito tempo tivemos que aprender a lidar, não queremos mais isso, chega. Queremos que as pessoas aprendam a ter respeito. O movimento começou e tomou uma proporção internacional. Nós estamos cada dia mais engajadas”, finalizou Nadja.