Orlândia, interior de São Paulo, é pertinho de Campinas (SP), terra de Chitãozinho e Xororó. Bem, 258 km é mais perto do que os 9.500 que separam Londres e São Paulo. Pois foi na zona mista do estádio Olímpico da capital britânica que o caipira (“com muito orgulho”) Thiago Paulino conquistou a sua segunda medalha de ouro no Mundial de Atletismo Paralímpico de 2017, desta vez no lançamento de disco, classe F57 (para amputados de membros inferiores) – a primeira foi no arremesso de peso. E, na comemoração, nada melhor do que cantar a letra, no ritmo certo, do sucesso Evidências, de uma das duplas sertanejas mais queridas do povo brasileiro.
A ideia surgiu da brincadeira feita por uma mulher em São Paulo, que pediu aos usuários da Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo ajuda para cantar a música e declarar o seu amor por uma pessoa. O pessoal da assessoria de imprensa do Comitê Paralímpico Brasileiro (CpB) passou a pedir para os medalhistas cantarem trechos da canção – a cinegrafista Graziella Batista até saiu correndo para imprimir a letra para o atleta, mas nem precisou.
“Putz, tô nervoso, mas perae… ah vamo… ‘E nessa loucura, de dizer que não te quero, vou negando as aparências, disfarçando as evidências, mas pra que viver fingindo, se eu não posso enganar meu coração, eu sei que te amo, chega de mentiras, de negar o meu desejo, eu te quero mais que tudo, eu preciso do seu beijo, eu entrego a minha vida, pra você fazer o que quiser de mim, só quero ouvir você dizer que sim, diz que é verdade, que tem saudade, que ainda você pensa muito em mim…'”. Thiago Paulino arrancou gargalhadas até dos sisudos “stewards” (vigilantes) ingleses no frio do verão londrino – 12 graus Celsius, chuva fina e sensação térmica de 8 graus na estação mais quente do ano.
Antes, nem sentiu o vento ao lançar o seu disco a 46,58 metros em sua terceira tentativa. A prata ficou com o croata Miroslav Petkovic (45,99 metros) e o bronze com o chinês Guoshan Wu (45,62 metros). “Eu treinei muito duro para esse campeonato mundial é claro, mas é muito bom ganhar duas medalhas de ouro. Eu tenho a minha filha e o meu filho que vai nascer em breve, então agora eu tenho uma medalha para cada um deles né?”, brincou o medalhista.
Na prova, após o seus lançamentos, Thiago Paulino olhava para a comissão técnica e batia com a mão no peito a cada chance do rival croata. “Era para acalmar meu coração, ‘tava’ quase saindo pela boca”, disse. “Eu fiquei nervoso porque os rivais eram muito bons. Precisa lançar no meu máximo e depois esperar para ver o que eles iriam fazer. Foi muita ansiedade”, completou.
Thiago Paulino ainda agradeceu o técnico João Paulo. “Ele conduziu a minha prova muito bem, me orientou, passou os exercícios para eu me aquecer melhor, daí eu consegui fazer as minhas melhores marcas nos meus três últimos arremessos”.
E o futuro, Thiago Paulino? “Eu não consegui igualar as minhas marcas, mas sei que Mundial é muita pressão, então vou ficar feliz até 2019, quando vai ter outro Mundial”, disse o brasileiro, rindo, e cantarolando Evidências mais uma vez – o vídeo com alguns dos medalhistas cantando a moda sertaneja poderá ser visto em breve, após o pessoal de vídeo do CpB terminar de gravar e editar todos.