Walter Alves/O Estado |
Serginho (D) treinou ontem no time de cima e pode ser opção. |
O que seria um simples apronto transformou-se em laboratório. Diante do risco de perder o volante Beto e o lateral Eltinho, lesionados, o técnico Caio Júnior tratou de testar opções, na busca de uma equipe equilibrada para a missão de domingo. Frente ao São Paulo – às 16h, na Vila Capanema -, o Paraná Clube precisa da vitória para garantir a inédita qualificação para a Copa Libertadores da América. O treinador só não abre mão do sistema tático utilizado com sucesso nas duas últimas jornadas.
?Creio que o time ficou mais dinâmico desta forma?, analisou Caio Júnior. Depois de quase uma temporada completa atuando com três zagueiros, o Tricolor trocou o líbero por uma maior ocupação do meio-de-campo. Um processo similar ao do adversário deste fim de semana. Depois da saída de Lugano, o São Paulo também demorou algum tempo para passar a jogar com apenas dois zagueiros. E, ao que tudo indica, Muricy Ramalho pretende recuperar o 3-5-2 no ?bota-fora? do Brasileirão.
A transformação do esquema tático do Paraná também ocorreu após a perda de uma de suas referências defensivas. Émerson rescindiu contrato, mas a comissão técnica só partiu para a nova estratégia depois que Neguete sofreu lesão de joelho. ?Era algo que eu sempre tive em mente, mas as circunstâncias da competição me fizeram retardar a aplicação deste esquema?, disse Caio Júnior. ?Mas, é inegável que o time conseguiu se adaptar perfeitamente a esse novo posicionamento.?
No coletivo de ontem, Serginho foi a novidade na cabeça-de-área. Porém, a comissão técnica vai aguardar até amanhã pela recuperação do capitão Beto. Com uma lesão na panturrilha, o jogador está sob tratamento intensivo desde a última quarta-feira. ?Acredito na sua recuperação, mas vamos aguardar?, disse Caio Júnior. Já o médico Mothy Domit se mostrava menos otimista. ?Ele apresenta um hematoma no local e isso dificulta até um exame mais apurado?, comentou. ?Vamos aguardar.?
Já a questão envolvendo Eltinho agravou-se após o trabalho de ontem. O jogador voltou a se queixar de dores no adutor direito e não suportou todo o coletivo. Como Edinho também está no departamento médico – e já vetado para este jogo – Caio Júnior improvisou, inicialmente, o lateral-direito Alex na posição. Depois, partiu para uma formação mais ousada, com o deslocamento de Batista para a ala e a entrada de Maicosuel no meio-de-campo. ?O Maicosuel treinou muito bem durante a semana e por isso dei uma chance para ele. Em relação à escalação, o jeito é esperar até sábado?, finalizou o treinador.
Foi um grande ano para o atacante Leonardo
Cristian Toledo
Leonardo é um vencedor. O atacante do Paraná Clube demonstrou em 2006 que se recuperou completamente de sérias lesões (que ameaçaram inclusive a continuidade de sua carreira) e foi um dos mais importantes jogadores do time nesta temporada. Mas a vitória ainda não está completa. Falta o detalhe final, falta aquele resultado que levará o Tricolor para a Copa Libertadores – basta vencer o São Paulo no domingo que a vaga estará assegurada. Aí sim ele estará plenamente satisfeito com o ano, e poderá pensar em seu futuro.
Ao chegar na Vila Capanema, em janeiro, Leonardo teve que conviver com a desconfiança.
Quem o vira jogar sabia que ele tinha qualidades, mas era inevitável a preocupação – será que ele voltaria a atuar com constância? A resposta veio com o tempo. ?Eu não posso reclamar desta temporada. Consegui ter uma seqüência de jogos, conquistamos o título estadual e estamos em uma situação boa neste final de Brasileiro?, comenta o atacante.
E ele confessa que teve dúvidas no início da competição. ?Eu fiquei com receio da gente começar o campeonato e logo ter que pensar em não cair para a segunda divisão. Eu já tinha passado por isso, sabia que era muito ruim, e não queria repetir a história?, conta Leonardo. Aconteceu o contrário, e hoje o Paraná depende das próprias forças para disputar o mais importante torneio do continente. E fazer com que a torcida, que muito sofreu nos últimos anos, festeje uma classificação inédita. ?Eu percebi que há uma expectativa muito grande, que todos confiam na gente. E não podemos decepcionar a torcida, a diretoria e a comissão técnica?, diz o atacante.
E ele também, pois o Campeonato Brasileiro que ele esperava – pelo menos nos desejos estritamente particulares – não foi perfeito. ?Eu queria fazer de doze a quinze gols este ano. Mas tive algumas lesões, perdi umas nove partidas e fiquei seis jogos atuando sem as melhores condições. Isto não deu certo, mas a conquista que nosso grupo pode conseguir é muito grande?, avalia. Conquista que, por sinal, pode ser o objetivo de Leonardo mesmo que ele não fique no Paraná em 2007. Ele foi oficialmente informado pelo presidente José Carlos de Miranda que o Flamengo fez uma proposta de empréstimo por um ano -no Mengão, o atacante disputaria a Libertadores. ?Não quero falar nisso, há pessoas que estão conversando sobre este assunto?, desconversa o atacante, que não descarta disputar o torneio continental pelo Tricolor. ?Seria um grande desafio, algo que me motivaria muito?, finaliza.
Angelo está na torcida
A torcida pelo Paraná Clube não se restringe à galera tricolor. Um ex-jogador do clube, com participação marcante na campanha neste Brasileiro, não vê a hora do time entrar em campo e confirmar a classificação para a Libertadores da América. O ala-direito Angelo aposta suas fichas nos companheiros e na comissão técnica que conduziu com segurança o Tricolor ao longo dessas 37 rodadas.
Há duas semanas, Angelo se submeteu a uma cirurgia no joelho esquerdo. Sua transferência para o Qatar acabou abreviada por uma lesão de ligamento cruzado anterior. O médico Edilson Thiele estima que a recuperação do jogador levará em torno de quatro meses. ?Na verdade, fiz apenas dois jogos no Al Sadd. Mas fui bem e antes de eu voltar para o Brasil, já se falava em uma renovação?, disse o jogador.
Angelo disse que não teve tempo nem para sentir a mudança de cultura, mas foi muito bem recebido por lá. ?O projeto deles é levar a seleção a uma Copa do Mundo. Até sondaram a possibilidade de eu me naturalizar?, revelou. ?Foi tudo muito rápido. Cheguei e já estreei e os responsáveis pelo clube me elogiavam diariamente?. O lateral conta que no Qatar todos são ?apaixonados? pelo futebol brasileiro. ?O nosso campeonato tem grande audiência por lá. Fui contratado porque me viram jogando pelo Paraná?.
O lateral – contratado junto à Adap, de Campo Mourão – se destacou com a camisa tricolor ao longo do primeiro turno. No total, foram 17 jogos e seis gols, com uma característica marcante: a precisão em cobranças de faltas. Peter assumiu sua posição na lateral, mas o Tricolor ainda se ressente da qualidade de Angelo nos lances de bola parada. ?Foram bons momentos. Fico feliz com a projeção que o Paraná está conquistando. Agora é vencer o São Paulo?, afirmou.
Em fase de recuperação – com sessões de fisioterapia diárias – Angelo ainda não sabe se estará na Vila Capanema, domingo. ?Só sei de uma coisa: vou estar torcendo. E muito. Esse grupo é brincadeira. Nunca vi um ambiente tão bom e chegar à Libertadores é um prêmio para cada um deles. Ou de nós, pois ainda me sinto parte deste elenco?, finalizou o ex-lateral paranista.