São Paulo – É preciso chegar bem perto para ver. No alto do capacete que Michael Schumacher está usando em Interlagos, estão inscritos 91 nomes de circuitos. Ao lado de cada um deles, um ano. São as 91 vitórias que o alemão conquistou na Fórmula 1 desde 1992, quando ganhou pela primeira vez, em Spa-Francorchamps.
É que ele não vai correr mais. Por isso, a inscrição ?Interlagos 2006? talvez nunca seja incluída no seu capacete vermelho. Embora, na cabeça do piloto da Ferrari, uma vitória seja o único resultado aceitável na corrida de amanhã, que encerra a temporada 2006. ?Estamos aqui para fazer uma dobradinha e para ganhar o Mundial de Construtores?, disse ontem, depois dos treinos que abriram o GP do Brasil.
Schumacher não fala em bater Fernando Alonso, da Renault, que tem dez pontos mais do que ele na classificação, e só precisa de um modestíssimo oitavo lugar para conquistar o bicampeonato. Não é exatamente uma posição a qual o espanhol esteja acostumado. Ele só terminou em oitavo lugar na F1 uma vez, em Monza/2003. ?Eu já falei que para mim o título de pilotos acabou em Suzuka?, repetiu o ferrarista. ?Não dá para ficar contando com a desgraça dos outros?.
Alonso, após as duas sessões livres, demonstrava total tranqüilidade às vésperas daquele que tem sido chamado de ?duelo final? da temporada e, claro, da carreira de Schumacher. ?Tudo correu bem e temos de nos preparar para uma corrida longa e segura. Vou lutar para vencer, é claro. Mas também é claro que se estiver em quinto, por exemplo, no fim da corrida, vou manter minha posição sem arriscar nada?.
Michael, por sua vez, não aparentava a mesma calma que o rival. Isso apesar de ser 12 anos mais velho e ter nove temporadas a mais nas costas do que o asturiano, além de um monte de títulos e todos os recordes já mais do que conhecidos. ?É difícil tirar da cabeça que este é meu último GP. Só consigo me desligar disso na hora em que entro no carro, fecho a viseira e vou para a pista?, falou. Na verdade, caiu a ficha para ele e para o time que a ?era Schumacher? acabou. ?A gente tenta não pensar nisso, mas é impossível?, confessou o diretor Jean Todt.
Hoje, os duelistas voltam à pista às 11h para o último treino livre. Às 14h, disputam as melhores posições no grid. Schumacher terminou a sexta-feira com o sexto melhor tempo, 1min13s713, o terceiro entre os pilotos titulares – os três mais rápidos do dia foram pilotos de testes, Wurz (Williams), Davidson (Honda) e Vettel (BMW). Alonso ficou mais para trás, em décimo.
?Deu para perceber que será uma disputa muito apertada até o fim, há muito equilíbrio?, resumiu Michael. Os treinos de ontem aconteceram com pista seca. A previsão para hoje e amanhã é de tempo seco em São Paulo.
De macacão verde e amarelo
São Paulo – Felipe Massa recebeu um privilégio em seu 1.º GP do Brasil como piloto da Ferrari: foiautorizado pela equipe a abandonar o tradicionalíssimo macacão vermelho e usar uma roupa verde e amarela. ?Isso é histórico. Foi idéia minha, e fico muito feliz por poder correr em casa, numa equipe que é vermelha, com as cores do meu país?, afirmou o piloto.
Massa contou que já usou esse macacão uma vez num evento da Ferrari, numa brincadeira em Madonna di Campiglio, na Itália, onde a equipe reúne pilotos e jornalistas no início de cada temporada. ?Ele é bacana?, disse.
Depois de fazer apenas o 17.º tempo nos treinos livres, Massa explicou que teve problemas para conseguir acertar o carro, e precisou de muita conversa com os engenheiros. ?Não significa que o carro vá estar assim na corrida?, explicou o piloto, que classificou a pista como ?suja e lisa?.
Massa disse que tem esperanças de conseguir a pole position no treino de classificação, que começa às 14 horas de hoje – antes, às 11 horas, haverá a última sessão de treinos livres. ?Seria sensacional, mas temos de pensar na corrida, que é mais importante?, afirmou, sem prometer a primeira posição no grid, nem arriscar palpites. ?O carro está equilibrado, e tanto a Ferrari quanto a Renault estão competitivas?, resumiu.
Bruno: ?Em dois anos estarei na F1?
São Paulo – O primeiro-sobrinho Bruno Senna esteve ontem em Interlagos, vestido com a camisa de sua equipe na F3 Inglesa, que pertence a Kimi Raikkonen. O finlandês, que em 2007 correrá pela Ferrari, é apenas um dos fortes ?cabos eleitorais? do piloto, que pretende, segundo ele mesmo, estar na F1 daqui a dois anos. O outro é Gerhard Berger, atual sócio da Toro Rosso e muito amigo da família Senna – ele foi companheiro de Ayrton na McLaren no início da década de 90.
Bruno, terceiro colocado na temporada britânica da F3 neste ano, já fez alguns testes com um carro da GP2, categoria que corre em rodadas duplas nos mesmos finais de semana da F1 nas pistas européias. ?Pretendo ficar dois anos na GP2 para conhecer os circuitos, e depois, se tudo der certo, chegar à F1?.
Sobre a decisão de amanhã, Senninha cravou Alonso como campeão. ?O Schumacher costuma dar azar no Brasil?, disse.