Desde que a Argentina passou às quartas de final, a procura por passagens aéreas para o Rio e para São Paulo aumentou 1.600%. Uma das companhias, a estatal Aerolíneas Argentinas, colocou 20 voos adicionais que partiriam entre sexta e sábado para o Rio. A empresa triplicou o preço da passagem nos últimos 15 dias. Centenas de portenhos, com dinheiro no bolso, estavam dispostos a pagar entre US$ 10 mil e US$ 31 mil por um “kit-Copa”, com passagem aérea, estadia, refeições, transporte e ingressos para a final.
Muitos argentinos, sem achar lugar nem mesmo nos voos adicionais, atravessaram o Rio da Prata em uma viagem de três horas em ferryboat, até Montevidéu, no Uruguai, para dali viajar para o Brasil. Outros alugavam voos privados, compartilhando os gastos entre amigos, para chegar ao Rio. A Polícia Federal registrou a entrada de 7,1 mil turistas argentinos pelos postos de fronteira e pelo Aeroporto Salgado Filho, no Rio Grande do Sul, somente nesta sexta.
A maioria chegou por Uruguaiana, de carro. Muitos se disseram dispostos a viajar mais um dia e meio para torcer por Messi e seus companheiros no Rio. Outros anunciaram que vão acompanhar o jogo nas Fan Fests de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo.
ÔNIBUS – E teve quem resolveu ir de ônibus mesmo, numa viagem de 40 horas até a capital fluminense. Só na noite de quinta-feira, partiram de Buenos Aires dez ônibus rumo ao Rio. Um dos passageiros era o professor de música Marcos López, de 28 anos. Sem dinheiro para hotel, ele recorreu à velha agenda telefônica, onde tinha anotado o nome de um affair carioca do carnaval de 2004. “Passaram-se dez anos, mas me arrisquei. Telefonei para Ana Lúcia e pedi um lugarzinho no sofá da sala”, explicou à reportagem. “Ela não morava mais no apartamento do qual tinha o telefone, mas a pessoa tinha o número novo dela e me passou. E, dessa forma, ficarei no Méier.” A moça só pediu um favor: “Me disse para não falar que sou argentino. Para os vizinhos e a família, tenho de fingir que sou uruguaio. Sabe como é essa coisa da rivalidade, né?”, conta.
De 70 mil a 100 mil argentinos chegariam ao Brasil entre sábado e domingo por vias aérea e terrestre, segundo estimativas de agências de turismo, diplomatas em Buenos Aires e autoridades policiais. Desde a noite da quarta-feira, quando a seleção venceu o time holandês, torcedores planejam às pressas uma maneira de chegar ao País e assistir à final no Maracanã.
No entanto, a imensa maioria terá de se resignar a uma final “tangencial”, diante da árdua tarefa de conseguir um ingresso para o jogo. Muitos torcedores planejam ficar do lado de fora do estádio, em bares ou na área da Fan Fest, em Copacabana, na zona sul.
Ainda na sexta, Lorenzo De Santis tinha a esperança de conseguir ingressos com algum cambista no Rio. “Estou levando US$ 3 mil para tentar um ingresso. Não sei se vai dar. Se não der, fico na Fan Fest mesmo. O importante é ‘hacer el aguante’ (expressão argentina para indicar o respaldo enfático e persistente de uma pessoa a outros) aos rapazes da seleção.” De Santis havia conseguido a passagem de avião de presente de seus avôs. “O pai de meu pai viu a vitória da seleção no Estádio Monumental de Núñez (em Buenos Aires), em 1978. Mas meu pai não conseguiu ir ao México em 1986 (quando a Argentina conquistou o bicampeonato). Desde o início da Copa, a Polícia Federal impediu a entrada no País de 35 argentinos do cadastro de torcedores envolvidos em episódios de violência.
SAMBÓDROMO – A invasão argentina não chega ao fim no Rio. Preparados para gritar muito na final da Copa do Mundo contra a Alemanha, neste domingo, no Maracanã, os argentinos não param de chegar à capital fluminense. Depois de esgotarem a lotação do Terreirão do Samba com 116 veículos, os ‘hermanos’ também tomaram o Sambódromo. Já não há mais espaço na Praça da Apoteose – 400 carros estão estacionados ali.
A Riotur informou que o local não irá receber novos carros, apenas trailers e motorhomes serão aceitos. Os carros que chegam à Apoteose serão encaminhados para o estacionamento do Centro de Tradições Nordestinas, conhecida como Feira de São Cristóvão.
O secretário de Turismo do Rio, Antonio Pedro Figueira de Mello, negociou a gratuidade no estacionamento do Centro e no ingresso da feira, para que os argentinos possam usar banheiros, restaurantes e bares. Basta apresentar documento, comprovando a nacionalidade. (Colaboraram Elder Ogliari, de Porto Alegre, e Clarissa Thomé, do Rio).