Por necessidade de cuidados especiais relacionados à saúde, o ainda adolescente Hélio Gracie se via impossibilitado de praticar uma arte marcial japonesa treinada por Carlos, seu irmão mais velho. No entanto, de tanto olhar, aprendeu as técnicas de controle e imobilização de oponentes, contando posteriormente com uma imprevista ausência do primogênito da família em sua academia para ganhar a oportunidade de se tornar professor na modalidade. Diante do grande interesse pelo esporte, mas tendo a frágil estrutura corporal como empecilho, o filho de imigrantes escoceses resolveu então adaptar o estilo oriental. Criou assim o Brazilian Jiu-Jitsu, luta que acabou se tornando tão popular quanto a original e, pela sua eficácia, teve papel importante na difusão do MMA (Artes Marciais Mistas).
Allan Costa Pinto |
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Roger “Xuxa” participou de um seminário de Gracie em Curitiba. |
No Brazilian Jiu-Jitsu prevalece um sistema de guarda onde se aumenta a capacidade de manter o oponente afastado, diminuindo o impacto de seu peso. ‘Diferencia pelo fato de uma pessoa franzina ter a possibilidade de dominar e submeter uma pessoa forte’, conta Carlson Gracie Júnior, faixa-preta da terceira geração da família criadora da modalidade. ‘Ele (Hélio) começou a praticar de um jeito que não precisava de força. O Jiu-Jitsu de alavanca, o Jiu-Jitsu suave’, completa o professor e atleta faixa-preta Rodrigo Fajardo, da academia Gracie Barra Curitiba.
Após Carlos Gracie receber em Belém, no Pará, os ensinamentos do japonês Mitsuyo Maeda, conhecido como Conde Koma, que chegou ao Brasil em 1914, a família Gracie formou renomados lutadores em diversas gerações. Da trajetória iniciada inclusive com desafios contra praticantes de outras artes marciais, surgiu Royce Gracie, vencedor da primeira edição do Ultimate Fighting Championship (UFC), em 1993.
A conquista de Royce no antigo ‘Vale-Tudo’ recolocou em evidência não apenas o nome da família, que anteriormente teve campeões de renome como Carlos, Hélio e Carlson Gracie. Ajudou também a popularizar o esporte pelo país. ‘O Jiu-Jitsu chegou ao Paraná na década de 1990. Em 80 tinham professores, mas a modalidade começou a pegar corpo após a febre mundial que foi o UFC’, ressalta Rodrigo Fajardo.
Diante do sucesso da família em provar a eficácia do Brazilian Jiu-Jitsu, diversos lutadores de MMA optaram por também se desenvolver na modalidade. Entre os curitibanos, Fajardo cita alguns exemplos. ‘O Murilo Ninja já treinou comigo. O próprio (Maurício) Shogun treinou muito tempo na Gracie’.
Carlson Júnior também enfatiza que existe a expectativa de que um novo Gracie volte a ser protagonista nas Artes Marciais Mistas. ‘Roger Gracie é o melhor lutador de Jiu-Jitsu do momento. Ele está se dedicando ao MMA, onde viu que tinha necessidade de melhorar parte de estratégia em pé, melhorar chute e soco pra poder utilizar sua técnica que é o chão’, disse.