O barbeiro Elias Torres tem um trabalho importante nesta sexta-feira. Vai até o CT do Galo cortar o cabelo dos jogadores da Argentina. Por trás dessa atividade prosaica, está um evento histórico: Elias vai esculpir a imagem com que os argentinos podem entrar para a posteridade, caso vençam a final contra a Alemanha.
Em um mundo cada vez mais dominado pela imagem, com milhões de pessoas ligadas na TV, a tesoura e o pente de Elias são objetos valiosos. “É um momento muito importante. Meu trabalho será visto pelo mundo inteiro”, orgulha-se. Nos últimos 30 dias, tempo de estadia da Argentina na Copa, Elias foi ao CT do Galo 12 vezes, o que significa quase três por semana. Sim, ele cortou o cabelo de Lionel Messi e confessa que ficou de perna bamba. “A gente vê um astro internacional nos campos e, de repente, ele está na sua cadeira. Mas pelo menos, as minhas mãos ficaram firmes.”
Messi fez o que sempre faz. Máquina quatro dos lados e um pouco de volume em cima. Da última vez, no entanto, Lavezzi, o único jogador do elenco que consegue fazer Messi dar risada, sugeriu um corte mais moderno, trocando a quatro pela dois, deixando o cabelo mais curto e moderno. Messi topou. O lateral Marcos Rojo, um protagonista improvável da seleção por causa do gol sobre a Nigéria na fase de grupos, corta o cabelo duas vezes por semana. Agüero fez questão de fazer duas faixas no cabelo – a maioria dos jogadores só faz uma. O segredo é ser diferente até para quem já é incomum. Os barbudos Lavezzi, Romero e Higuaín gostam da barba rente, não pode estar muito espessa, o que dá uma aparência de descuido.
Nomear Elias como barbeiro faz uma grande diferença. Barbeiro é o profissional especializado nos cortes masculinos. Esse é o negócio do Seu Elias, respeitado salão de Belo Horizonte que está se tornando referência nacional. Elias decidiu apostar em um nicho pouco explorado: um salão só para homens. “O mercado privilegia a mulher por duas razões: os cortes femininos são mais caros e as mulheres vão ao salão com mais frequência”, explica. “Decidi olhar para o outro lado e oferecer uma alternativa para os homens.” Ele dirige uma equipe com 12 pessoas em Belo Horizonte.
Elias foi indicado aos argentinos pelos jogadores do Atlético Mineiro e da seleção brasileira, todos seus clientes como atesta a parede forrada de fotos na entrada do salão. “A do Messi vai ficar ali”, diz, apontando para um lugar central. No salão, os cortes custam R$ 40. Elias disse que faz um preço camarada para os argentinos, incluindo apenas a taxa de deslocamento, sem abusos.
Naturalmente, Messi não tira uma nota de R$ 50 do bolso e fica esperando o troco. Quem paga os cortes é a Associação de Futebol Argentino (AFA). “Como o Brasil saiu, agora posso torcer por eles na final”, comemora Elias.