Daqui a dois meses, mais um brasileiro poderá ocupar um alto cargo na administração do esporte mundial. Em campanha há três semanas, Andrew Parsons surge como favorito na corrida eleitoral pela presidência do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês).
A votação marcada para 8 de setembro em Abu Dabi, durante a Assembleia Geral do IPC, vai definir o terceiro presidente da história da entidade, que substituirá Phillip Craven, britânico que está no posto desde 2001.
Além do brasileiro, que já presidiu os comitês paralímpicos do Brasil e das Américas, também estão na disputa a chinesa Haid Zhang, da Federação Chinesa para Pessoas com Deficiência; o dinamarquês John Petersson, ex-presidente do Comitê Paralímpico Europeu; e Patrick Jarvis, que comanda o Comitê Paralímpico do Canadá.
À Agência Estado, Parsons disse que o principal desafio do movimento paralímpico é “encarar as dores de seu próprio crescimento”. Para ele, isso significa manter o interesse da comunidade esportiva internacional, entender as formas como o mundo consome esporte e se manter conectado à realidade esportiva.
“O movimento paralímpico é jovem e algumas questões de profissionalismo precisam evoluir, sempre tendo em vista nossos valores e nossa história”, opinou Parsons. O modo de gestão dentro de entidades esportivas é uma dessas mudanças necessárias, de acordo com o brasileiro, para “não cair no erro de outros movimentos desportivos.”
“O esporte no mundo tem sofrido uma onda de denúncias de corrupção. A transparência é fundamental. O IPC já tem muita credibilidade e tem que continuar assim. O que ainda precisamos é aumentar a vigilância em relação a membros associadas, cobrando medidas e exigindo uma ampla divulgação dos resultados financeiros, dos gastos e investimentos.”
Para Parsons, a transparência vem tendo cada vez mais uma relação direta com o aumento nos investimentos no esporte. “Existe uma onda muito positiva de patrocinadores exigindo transparência de seus patrocinados. É uma atitude de quem entende que a transparência é uma característica importante para ser levada em conta no processo de venda de patrocínio. Ninguém quer se associar a uma entidade que não seja transparente.”
DOPING – O doping é outro problema a ser encarado, segundo Parsons. “O esporte paralímpico também mexe com interesses financeiros, que vão das bolsas concedidas pelos países até os direitos de transmissão dos jogos para a imprensa. A tendência de haver mais casos de doping existe, mas precisamos conscientizar os atletas desde as bases sobre o que é doping e quais os riscos, e incentivar as agências nacionais a realizar mais testes.”
Para ele, não deve haver tolerância com casos como o escândalo de doping da Rússia, que acabou banida dos Jogos Paralímpicos pelo IPC por tempo indeterminado por conta do problema. “Se eu for eleito, vou manter esta posição do IPC. Somos absolutamente intolerantes em relação do doping. Fui um dos membros que votou por essa decisão (de banir a Rússia). Foi uma decisão que surpreendeu muita gente, mas era o certo a se fazer. Queremos os atletas russos de volta, mas queremos os atletas russos limpos.”
CAMPANHA – Parsons conta que a campanha para tentar garantir ir votos vem sendo feita por meio de conversas individuais com membros votantes. Têm direito a voto cerca de 200 comitês paralímpicos internacionais, entidades continentais e federações por área de deficiência.
À Agência Estado, Parsons evitou falar em favoritismo. “Os três adversários são muito fortes e com históricos muito diferentes. A candidatura da Zhang surpreendeu o movimento paralímpico internacional; John foi presidente do Comitê Europeu; e Patrick já acumula três mandatos no comitê executivo do IPC.”
O brasileiro viaja a Londres na próxima segunda-feira para acompanhar o Mundial de Atletismo Paralímpico e deve se reunir com lideranças de comitês internacionais. Se eleito, ele se juntará a Ary Graça Filho, presidente da Federação Internacional de Vôlei, como os brasileiros nas posições mais altas do esporte mundial atualmente.
Na avaliação de Parsons, sua eleição teria uma importância também simbólica para a atividade paradesportiva brasileira. “Seria um reconhecimento ao crescimento do esporte paralímpico do País. A visão brasileira vai estar sendo representada no mais alto nível de decisão do movimento paralímpico.”