Por muito pouco o Brasil não conseguiu disputar uma medalha de ouro no 2º Campeonato Mundial Feminino de Boxe, realizado em Antália, na Turquia. Depois de vencer duas adversárias e garantir a medalha de bronze, a paulista Ana Paula Lúcia dos Santos perdeu na semifinal da categoria 60 kg para a canadense Jennifer Ogg, por apenas dois pontos de diferença: 18 a 16.
O resultado foi considerado muito bom para a delegação do País que disputa o Mundial, de acordo com avaliação da Confederação Brasileira de Boxe. ?Precisamos valorizar essa medalha de bronze. Criamos a divisão feminina da CBBoxe no fim do ano passado e em apenas dez meses conseguimos levar três atletas para o Mundial. Além disso: ganhamos um medalha?, comentou o presidente Luiz Cláudio Boselli.
Apesar de toda a satisfação, a colocação poderia ser melhor não fosse um contratempo antes da luta: boatos de que Ana Paula, que bate duro (vem do muay thai e do kickboxing), era profissional. ?Toda a delegação enfrentou muita pressão?, informou Boselli.
Segundo o presidente da CBBoxe, a atleta precisou provar que não era Ana D?Ávila Santos ?Miúra?. A organização do evento recebeu um fax da Argentina, informando que ?Miúra? havia participado de uma luta profissional e portanto não poderia participar do Mundial Amador.
?Foi um transtorno. Precisei ligar para lá três vezes para ver o que estava acontecendo. O pessoal passou a acreditar ela já era profissional, ainda mais pelo ótimo desempenho. Meia hora antes do combate a delegação brasileira ainda estava tentando resolver o problema?, explicou Boselli.
Toda a equipe, incluindo o treinador Gabriel Chalot, a chefe Cidinha Oliveira e a própria atleta participaram de cansativas reuniões para tentar provar que Ana D?Ávila Santos era outra pessoa. Conclusão: a organização do Mundial aceitou que a brasileira não era profissional, mas Ana Paula foi prejudicada psicologicamente antes do combate com a canadense.
A pugilista vinha de duas vitórias seguidas. A primeira, contra a italiana Barbara Commo – por decisão do árbitro no primeiro assalto -, e a segunda, frente à sueca Frida Walberg (campeão mundial de 2001 na categoria 63,5 kg) – por 14 a 10.
Por causa desse combate, a organização do Mundial também recebeu críticas do presidente da CBBoxe: ?Ontem, a Ana Paula venceu a italiana e deveria enfrentar a vencedora de Polônia e Suécia. A polonesa Anna Kasprzak ganhou da sueca, mas foi desclassificada por já ter lutado como profissional, como descobriu a AIBA (Associação Internacional de Boxe Amador). Deveriam ter dado W.O. a favor do Brasil porque uma perdeu e a vencedora foi desclassificada. Mas chamaram a sueca de volta e teve outra chance?, contou o dirigente, indignado. ?De todo jeito acabou sendo bom, porque a Ana Paula foi e venceu a campeã mundial.?
A equipe brasileira que participou do Mundial da Turquia foi composta por apenas três atletas. Além de Ana Paula, Maria Luciene de Oliveira (da categoria 70 kg), a ?Maria Marreta?, e Cristiane Valério Nascimento (da 91 kg).
O País contaria com cinco pugilistas, mas a verba do COB para o Mundial Feminino foi uma das transferidas para os Jogos Sul-Americanos. Ana Paula, Cristiane e Maria Marreta só foram graças a patrocinadores.
Maria Marreta foi bancada pelo governo do Amazonas e Ana Paula, assim como treinador Gabriel de Chalot e Cidinha Oliveira chefe da delegação, contaram com o suporte da Oi, empresa de telefonia celular, e da Auto Peças Gatto, de Santos. Cristiane Valério Nascimento, que não tinha arrumado um patrocínio, conseguiu comprar a passagem na última hora, patrocinada por Perequê Mirimi/Materiais para construção.