Brasil vence nos pênaltis e conquista a Copa América

Se a rivalidade entre argentinos e brasileiros já era grande, agora tomou proporções imensuráveis. Não que a decisão da Copa América de 2004 tenha tido o mesmo significado de uma final de Copa do Mundo. Entretanto, o Brasil judiou da Argentina ao derrubar os inimigos quando eles já estavam com os pés no pódio, esticando o pescoço para receber a medalha pelo título que almejam a nada menos que 11 anos – desde 93, os argentinos não ganham um título importante.

Azar o deles. Quem disse que Adriano, artilheiro da competição, se importou em empatar a partida em 2 a 2 aos 48 minutos do segundo tempo? Quem disse que Júlio César sentiu dó ao defender o pênalti cobrado por D?Alessandro? E, por fim, quem disse que a torcida brasileira não “secou” a cobrança de Heinze, colocada para fora tal qual o italiano Roberto Baggio na decisão da Copa do Mundo de 1994?

O mais inebriante na conquista, porém, não foi responder às eternas provocações argentinas, que insistem em chamar os brasileiros de “macaquitos”. Foram as circunstâncias da decisão.

Pressionado pela nação portenha, o técnico Marcelo Bielsa, que vê seu cargo ameaçado pelo ex-técnico do Boca Juniors, Carlos Bianchi, convocou a seleção principal do país, com direito ao provocativo Killy González. Já Parreira, disposto a testar jogadores para as Eliminatórias e a dar uma folga aos “titulares”, convocou um grupo que logo recebeu a alcunha de “time B”.

Em um primeiro instante, no jogo de ontem, a Argentina deu mostras naturais de que realmente tinha um time mais entrosado. Em um jogo de marcação forte, era clara a melhor sintonia defensiva dos argentinos, que fizeram uma barreira quase intransponível. Na pressão, o rival conseguiu uma penalidade logo aos 20 minutos. O Brasil só conseguiu empatar no finalzinho da primeira etapa, num lance originado em uma cobrança de falta de Alex, que Luisão mandou para o gol, de cabeça – só assim para furar o bloqueio argentino.

A segunda etapa não foi muito diferente. Os argentinos ditavam o ritmo do jogo e o Brasil tentava se defender como podia, em raras subidas pelas laterais. O gol argentino aos 41 minutos, quando os brasileiros já tentavam cadenciar a bola para a decisão nos pênaltis, jogou um balde de água fria nos mais otimistas. Menos em Adriano, que acabou com a festa e mandou a decisão para os pênaltis, no “apagar das luzes”. Assim como aconteceu com o Uruguai, o Brasil atropelou e nem precisou da quinta cobrança. Com a precisão de Adriano, Edu, Diego e Juan, uma defesa de Júlio César e um erro argentino, o Brasil levantou mais uma vez a taça. Se o jogo foi mesmo uma partida de xadrez, como previu Parreira, o Brasil deu xeque-mate nos portenhos.

Adriano, das críticas à consagração

AE

Lima – O atacante Adriano, não só do jogo de ontem, mas de toda a Copa América, foi o maior destaque da seleção brasileira. Com sete gols na competição, o artilheiro resolveu testar os corações brasileiros ao marcar o último deles aos 48 minutos do segundo tempo da decisão contra a Argentina, empatando em 2 a 2 e levando a decisão para os pênaltis. Oportunista como sempre, decisivo como sempre.

“Estou muito feliz. Agradeço primeiramente a Deus, à minha família e a meus companheiros. É uma emoção inexplicável”, disse emocionado após o jogo o atacante de 22 anos, revelado pelo Flamengo e atualmente na Inter de Milão. A maior parte do time, aliás, chorou muito após a cobrança decisiva de Juan.

O técnico Parreira ganhou, além do título, uma deliciosa dor de cabeça para escalar a seleção principal. Ronaldo, do Real Madrid, e Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, vão ter de se desdobrar daqui para a frente, porque, no banco de reservas, estará provavelmente o forte e matador Adriano.

Em toda a Copa América, Adriano demonstrou não só ser um artilheiro nato, como um jogador pronto para fazer de tudo por seu time. Voltava para ajudar o meio-de-campo, dividia todas as bolas e corria 90 minutos. Sua atuação foi tão importante que, a despeito das críticas que recebia, de ser um jogador sem técnica e pouco criativo, se firmou entre os titulares, deixando em segundo plano o companheiro de ataque Luís Fabiano e barrando de vez as portas para o reserva Vágner Love.

Luisão tem suspeita de fraturas no maxilar e malar

Lima –

A seleção brasileira, que desembarca no Aeroporto de Cumbica, hoje, às 16 horas, poderá estar sem o zagueiro Luisão. Após ser examinado em um hospital de Lima, constatou-se a possibilidade de o jogador ter sofrido duas fraturas: uma no maxilar e outra no malar. Ele pode ficar em observação.

Luisão sofreu uma cabeçada do zagueiro argentino Ayala na área brasileira aos 14 minutos do segundo tempo e na seqüência bateu com o rosto no chão. Chegou a desmaiar, mas, reanimado, voltou a campo e jogou mais 21 minutos. Acabou substituído por Cris, após sentir dores e seguiu para o hospital.

Luisão foi obrigado a vibrar com o título diretamente do hospital.

Luisão estava consciente no início da noite de ontem e falou com sua mãe por telefone.

O lance que tirou Luisão da partida foi tão impressionante que o zagueiro Ayala, capitão argentino, não conseguiu esconder o susto ao ver o estado em que se encontrava o brasileiro após o choque. A pancada foi tão forte que assustou também os companheiros de equipe. Os atletas cercaram Luisão e ficaram ainda mais preocupados quando perceberam que ele estava inconsciente.

“Não se brinca com o Brasil”

Lima –

Carlos Alberto Parreira costuma ser comedido, nos momentos de tensão e de alegria. Mas ontem deixou de lado um pouco o estilo altivo e não conteve a emoção. Assim que terminou a partida, enquanto os jogadores comemoravam a conquista no centro do campo, o treinador tetracampeão do mundo mandou o recado para os argentinos. “Quiseram pisar na bola e fazer gracinha”, desabafou. “Não se brinca com o futebol brasileiro.”

O recado era para Tevez, o irrequieto atacante que decidiu brincar nos últimos minutos do tempo normal, logo depois do gol de Delgado que deixava a Argentina com a mão na taça pela 15.ª vez.

COPA AMÉRICA
Final
Local: Estádio Nacional (Lima-PER).
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR).
Gols: Killy Gonzalez aos 20 e Luisão aos 45 do 1.º tempo; Delgado aos 41 e Adriano aos 48 minutos do 2.º tempo.
Cartões Amarelos: Edu, Luisão e Sorín.

Brasil 2×2 Argentina
(4×2 nos pênaltis)

Brasil: Júlio César; Maicon, Luisão (Cris), Juan e Gustavo Nery; Renato, Kléberson (Diego), Edu e Alex (Felipe); Adriano e Luís Fabiano. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Argentina: Abbondanzieri; Coloccinni, Ayala e Heinze; Zanetti, Mascherano (D?Alessandro), Lucho González, Tevez (Quiroga) e Sorín; Killy González e Rosalez (Delgado). Técnico: Marcelo Bielsa.

Uruguai é 3.º

Cuzco –

O Uruguai ficou com o terceiro lugar na Copa América, ao derrotar, por 2 a 1, sábado à noite, a Colômbia, em Cuzco, no Peru.

Fabián Estoyanoff abriu o placar para os uruguaios, aos três minutos de jogo. Sergio Herrera, de pênalti, aos 25 minutos da etapa final, empatou para a Colômbia. Vicente Sanchez, aos 35, fez o gol da vitória.

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