Jorge Gontijo/Estado de Minas |
Descontraídos, os jogadores brasileiros comemoram gol no treino. |
Munique (AE) – Copa do Mundo tem dessas coisas. O Brasil desembarcou na Alemanha com pompa e circunstância, cercado de mimos e dos melhores prognósticos em torno de sua caminhada. Sem contar a atenção incomparável, de mídia e público, concentrada em seus astros.
Os campeões de 2002 agora estão mais pressionados do que nunca e fazem jogo fundamental contra a Austrália, no Allianz Arena, a partir das 13h (de Brasília) de hoje, na segunda rodada do Grupo F.
O duelo no estádio mais chamativo das 12 sedes nem preocupa tanto para definir o futuro da seleção, pois só um choque de meteorito a deixará fora da próxima fase. Mas coloca em xeque prestígio de alguns jogadores e até o sistema de jogo. O alvo é o quadrado mágico.
Exceto por Kaká, o quarteto travou em três pontas, na estréia contra a Croácia. Ronaldinho Gaúcho ensaiou algumas acrobacias, teve uma chance de gol, e ficou nisso. Adriano correu, deslocou-se, mas raras vezes apareceu na área e ainda perdeu uma oportunidade incrível. Ronaldo desapontou mais do que todos, com uma de suas atuações mais fracas em 12 anos com a amarelinha.
Parreira está mesmo de olho na dupla de atacantes "de peso", como ele definiu sem trocadilho, que pode ganhar nova configuração durante o jogo, outra vez com a entrada de Robinho, ou tornar-se definitivamente diferente já contra o Japão. "Adriano e Ronaldo são experientes, decisivos, têm crédito", diz Parreira para o público externo.
Ao mesmo tempo, dá a entender que não ficará impassível no banco de reservas, se as bombas não caírem sobre o gol australiano. Um plano B existe, avisa o comandante, se sentir que há risco de complicar-se hoje ou, pior, se precisar arriscar tudo contra o Japão.
Há consciência de que o quarteto estará no olho do furacão – cada um fez sua autocrítica e se mostra disposto a contribuir para o sucesso coletivo. "Me preparei para ganhar a Copa e não para ser destaque", tem repetido Kaká, 24 anos e já um dos mais centrados e maduros dessa expedição. "Precisamos de mais movimentação", reconheceu Ronaldinho Gaúcho, que tem a responsabilidade de criar. "Não fiquei contente com minha atuação e espero que seja bem diferente agora", analisou Ronaldo. "A gente vai ganhar ritmo", previu Adriano.
Os outros setores, antes tão criticados, parecem ter passado sem sobressaltos pelo teste inicial. Dida fez defesas seguras e voltou a seu mutismo já clássico. Cafu e Roberto Carlos mostraram bom fôlego e seus reservas Cicinho e Gilberto parecem destinados a esquentar banco por mais tempo. Lúcio e Juan falam pouco, dentro e fora de campo, mas não comprometeram. Emerson e Zé Roberto fizeram uma barreira diante da zaga e não fazem Parreira perder o sono.
Mas são os dois cãs-de-guarda que sofreram mais na rodada inaugural. Eles tiveram de correr de um lado para outro para tapar brechas deixadas pelo restante do meio-campo e ataque. Por isso, têm pronta a sugestão, reconhecida e acatada pelos demais. "Precisamos errar menos passes", admitiu Emerson. "Se houver mais movimentação dos atacantes, fica difícil o contra-ataque rival", emenda Zé Roberto, encarregado de dar sustentação às descidas de Roberto Carlos.
Só não se deve esperar espetáculo dos jogadores mais famosos do mundo. Na última sexta-feira, Cafu lançou o alerta, ao afirmar que o Brasil não é como os Globetrotters e que dará prioridade ao resultado. "Se pudermos golear, será ótimo. Mas prefiro vencer", reforçou Emerson, pragmático. "Quero voltar para casa com a taça. Isso é possível, mas não custa nada jogar mais."