Brasil tem de explodir para bater Colômbia, diz Maturana

Francisco Maturana foi o técnico da geração que ainda é considerada a mais talentosa do futebol colombiano – a que tinha Rincón, Valderrama, Asprilla e o goleiro Higuita. E hoje, aos 65 anos, é mais um dos que se orgulham do que o time dirigido por José Pekerman está fazendo no Brasil. De Medellín, onde vive, ele falou com a reportagem.

Agência Estado – O senhor vê semelhanças entre a seleção de hoje e a que dirigiu nos anos 90?

Francisco Maturana – Nunca é bom fazer comparações, nem na vida nem no futebol. Na vida, as coisas mudam muito rapidamente, e no futebol também. Vou dar um exemplo: nos anos 50, uma pessoa que dirigia seu carro a 40 quilômetros por hora tomava precauções, porque era uma velocidade considerada alta. Hoje, se a pessoa dirige a 80 quilômetros por hora, dizem que está devagar. O futebol está diferente, cada época tem as suas particularidades. Mas posso dizer que esta geração chegou ao Mundial mais preparada do que aquela. Os atletas daquele time jogaram muito tempo na Colômbia, e os de hoje jogam em Madri, em Nápoles, em Florença, em Milão, em Mônaco… Eles têm mais experiência internacional e estão acostumados a enfrentar os jogadores que estão encontrando no Mundial.

Agência Estado – Qual a grande virtude da equipe da Colômbia de hoje?

Maturana – É um time que joga muito bem, com entusiasmo e muita técnica. O trabalho do treinador e seus auxiliares é excelente, porque se vê que estudam a fundo todos os adversários e preparam a equipe muito bem para cada jogo. O que me encanta é que vejo os rapazes se divertindo em campo, jogando com a alegria de quando jogavam na rua.

Agência Estado – Essa alegria explica o jogo agradável da equipe?

Maturana – Sem dúvida. A seleção conquistou o torcedor colombiano porque joga bem. Aliás, conquistou o respeito do mundo inteiro. Converso com amigos que vivem na França, em Portugal, na Espanha, na Argentina e todos dizem que a nossa equipe convida a ser querida. É muito fácil gostar desta Colômbia, porque diverte as pessoas.

Agência Estado – O que o senhor acha do meia James Rodríguez?

Maturana – Esse garoto é um artista, seu jogo tem muita técnica e fantasia. E ele está rodeado por jogadores de grande qualidade técnica, o que o ajuda a expressar todo o seu talento. Quando o time funciona bem coletivamente, o grande jogador tem mais facilidade para ser determinante nas partidas.

Agência Estado – A Colômbia está, pela primeira vez, nas quartas de final, e agora terá pela frente o Brasil, com o peso de sua história e o trunfo de jogar em casa. Como o senhor avalia as chances da equipe?

Maturana – Acho que a rica história do futebol brasileiro e a vantagem de ser o anfitrião do torneio não serão suficientes para levar o Brasil à vitória. Digo com sinceridade: se o Brasil não explodir e mostrar o seu melhor futebol, não tem chance contra a Colômbia.

Agência Estado – O senhor está decepcionado com a seleção brasileira?

Maturana – Sim. É um time que não tem jogo coletivo, não elabora as jogadas. Aposta tudo na individualidade de Neymar – que, sem dúvida, é extraordinário -, mas não pode ser só isso. Agora, é um gigante que pode acordar a qualquer momento, como fez na Copa das Confederações. Aquele Brasil que bateu a Espanha na final é temível, mas, neste Mundial, a equipe ainda não chegou nem perto daquele nível.

Agência Estado – Muita gente no Brasil diz que a Colômbia é mais talentosa e perigosa do que o Chile, mas marca menos e não se defende tão bem. O senhor concorda?

Maturana – Em primeiro lugar, gostaria de dizer que o Chile foi uma das boas notícias deste Mundial. Seu jogo tem mais intensidade do que o da Colômbia, mas não acho possível dizer que nossa defesa é inferior à deles pelo simples motivo de que ainda não foi testada. Com exceção do jogo contra a Costa do Marfim, em que sofreu nos minutos finais, a Colômbia resolveu as partidas sem levar sustos.

Agência Estado – A Colômbia é o melhor time desta Copa do Mundo?

Maturana – É o que menos sofreu, o que mostrou mais regularidade num nível alto. A Alemanha começou muito bem a competição, mas quem viu o jogo contra a Argélia deve ter pensado: “Como os alemães querem ser campeões com uma defesa que erra tanto?”. A Holanda também teve bons momentos, como o Chile e os Estados Unidos. Mas nenhuma foi regular como a Colômbia.

Agência Estado – A Colômbia mostrou contra o Uruguai muito equilíbrio emocional e segurança. É uma vantagem sobre o time que o senhor comandou em 94, que chegou cotado como um dos favoritos e caiu na primeira fase por não ter resistido à pressão?

Maturana – O rótulo de favorito é algo externo. Eu garanto que, naquele grupo, não havia ninguém que pensava que éramos favoritos ao título. Não fomos eliminados por não termos sabido lidar com a pressão que existe sobre os favoritos, como dizem muitas pessoas. Caímos cedo porque o futebol é um esporte em que isso pode acontecer. Perdemos o primeiro jogo (para a Romênia, por 3 a 1) e não conseguimos nos levantar. As pessoas precisam parar de criar histórias para justificar derrotas. Nós estávamos muito bem um ano antes e não conseguimos manter o nível até o Mundial. Isso aconteceu com outras equipes. A melhor seleção que vi jogar foi a Argentina que disputou as Eliminatórias para o Mundial de 2002, sob a direção do Marcelo Bielsa. Era uma equipe estratosférica, mas, no Mundial, caiu na primeira fase. E caiu por circunstâncias do futebol, um esporte único.

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