Brasil sofre contra o Japão, mas se classifica

Quando terminou o jogo entre Brasil e Japão, ontem, Zico foi em direção a Carlos Alberto Parreira para cumprimentá-lo. Tinha no rosto um sorriso alegre, vitorioso. Sabia que, não tivesse sido prejudicado pela arbitragem, teria chegado à semifinal da Copa das Confederações. Foi recebido com um sorriso amarelo, forçado. Parreira sabia que não tivesse sido beneficiado por um erro de arbitragem, sairia do estádio rumo ao aeroporto para voltar ao Brasil. Mas o 2 a 2 em Colônia mantém a seleção viva (viva!?) na competição. Sábado, enfrenta a anfitriã Alemanha, às 13h (de Brasília). E se mantiver o ?nível? vai precisar torcer para que o adversário não esteja inspirado. Do contrário…

Foi patético ver a seleção de um país que ganhou cinco títulos mundiais fazer cera nos acréscimos do segundo tempo, para segurar o ?empate salvador? contra um adversário que começou a jogar futebol anteontem. E o pior é que quase não consegue. O Brasil só não levou o terceiro gol porque Marcos (que falhou no primeiro gol japonês) fez grande defesa numa cabeçada à ?queima-roupa? de Oguro, aos 47 minutos.

A estatística do jogo, feita pela Fifa, mostra que o Brasil teve 58% de posse de bola, contra 42% dos japoneses. Significa, então, que dominou a partida? Não, significa apenas o que mostra a frieza da estatística: que a bola ficou mais tempo com o time de Parreira.

O problema foi que os jogadores não souberam o que fazer com ela. Quando encontrou espaços para jogar -o Japão é veloz, toca bem a bola, mas em essência marca mal -, a seleção fez algumas boas jogadas, os integrantes do quarteto fantástico (fantástico!?) fizeram tabelas e deram bonitos (e por fim inúteis) dribles. Mas a equipe voltou a afunilar jogadas (como fez na derrota para o México por 1 a 0 no domingo) e explorar pouco os lados do campo.

Além disso, bastava o Japão se posicionar um pouco melhor para que o Brasil passasse a tocar bola no campo de defesa, com lentidão irritante. Não foi à toa que as vaias apareceram no final do primeiro tempo.

O Brasil vencia o jogo, gols de Robinho, aos 10 minutos (após contra-ataque puxado por Ronaldinho Gaúcho) e Ronaldinho, aos 32 (após cruzamento da esquerda de Robinho). Mas o Japão teve um gol erradamente anulado pelo juiz Mourad Daami aos 4 minutos (assinalou impedimento inexistente de Kaji), acertou uma bola na trave, criou várias chances e fez um gol, num chute do ?meio da rua? de Nakamura em que Marcos falhou feio ao pular atrasado.

Pelo menos, no primeiro tempo o Brasil fez alguma coisa. Na etapa final, nada fez. Jogou um futebol modorrento e irritante.

E Parreira, que após um injustificável suspense colocara em campo o time com quatro alterações em relação à partida contra o México – Marcos, Juan, Léo e Gilberto Silva nos lugares de Dida, Roque Júnior, Gilberto e Emerson, respectivamente -, resolveu inventar. Tirou o centroavante Adriano, que não jogou nada mas deixou o campo chateado, e colocou Júlio Baptista, que no São Paulo era volante e no Sevilla virou meia, como atacante. Não deu certo: Júlio sentiu-se visivelmente desconfortável.

Perdendo um jogo que precisava ganhar, o Japão foi à frente e o Brasil voltou a apresentar falhas no sistema defensivo – má colocação dos jogadores e marcação frouxa. E o empate acabou saindo, aos 43 minutos. Nakata acertou a trave na cobrança de uma falta, a zaga ficou assistindo e Oguro fez o gol.

Fim de jogo e Parreira saiu elogiando os japoneses e lamentando o ?cansaço? dos brasileiros. Já Zico reclamou da arbitragem. ?Não podemos ser prejudicados dessa forma.?

Parreira diz que o risco de eliminação foi ?calculado?

Colônia – Carlos Alberto Parreira não mudou o discurso, mesmo depois de quase ser surpreendido pelo Japão, ontem, em Colônia. Repetiu que a seleção brasileira veio à Copa das Confederações para avaliar jogadores e que tudo não passou de um risco calculado. O importante, na sua análise, foi classificar o Brasil às semifinais e, ao mesmo tempo, observar 20 dos 23 jogadores convocados.

Contra a Alemanha, no sábado, Parreira disse que vai ter de se virar para formar um time saudável. ?Os jogadores estão exaustos?, explicou o treinador.

?Alcançamos o nosso objetivo na primeira fase da competição. Usamos 20 jogadores em três jogos. O entrosamento ficou prejudicado. Por outro lado, cumprimos uma meta que era avaliar o maior número possível de atletas. O segundo objetivo era garantir a classificação às semifinais. Conseguimos?, disse Parreira, após o empate por 2 a 2 com o Japão.

Perguntando se não correu risco alterando o time no jogo decisivo explicou: ?Foi um risco calculado. Sempre se corre perigo quando você usa uma competição para tirar conclusões. Falei no início que não iria formar um time e sim, observar jogadores. Controlamos o jogo contra o Japão. Eles conseguiram empatar aos 43 do segundo tempo depois de uma cobrança de falta?, explicou o técnico, sem fazer comentários sobre a péssima arbitragem de Mourad Daami.

Contra a Alemanha, o treinador não pretende ampliar as avaliações. A hora é de montar o time com o que tem de melhor para chegar à final do torneio. Gente de qualidade ele tem de sobra. Só não sabe quantos estão inteiros para a dura empreitada diante dos alemães. A tendência de Parreira é repetir o time do primeiro jogo na Copa das Confederações.

?A Alemanha terá um dia a mais que o Brasil para se armar. Nossos jogadores estão exaustos, a maioria sente dores musculares. E ainda temos de formar uma equipe saudável para vencermos os alemães e disputar a final contra Argentina ou México. Não será nada fácil?, disse o técnico.

Zico lamenta lambança da arbitragem

Colônia – Zico saiu de campo com a sensação de dever cumprido, mas inconformado. O ex-astro da seleção não lamentou as oportunidades perdidas, nem mesmo o último lance, em que Oguro cabeceou à queima-roupa e Marcos defendeu.

O desapontamento concentrou-se no árbitro tunisiano Mourad Daami, que anulou gol de Kaji aos 3 minutos do primeiro tempo, sob a alegação de impedimento.

?Perder chances faz parte do jogo, não me incomoda?, comentou o técnico. ?O que não pode ocorrer é uma decisão como aquela do juiz, em que todo mundo viu que não havia nenhuma irregularidade.?

Zico foi um dos grandes personagens da partida. Assim que se dirigiu para seu lugar, no banco de reservas, batalhão de fotógrafos o colocou no foco das lentes, para vê-lo cantar o hino nacional, embora pela primeira vez como adversário. Enquanto o alto-falante tocava os acordes do hino, o Galinho manteve a classe e a atitude respeitosa. Mas se esforçou demais para driblar a emoção com a mesma categoria com que driblava rivais, em seus tempos de estrela. Uma experiência nova, que não pretende viver outra vez. ?O coração bateu forte, o sentimento foi profundo?, admitiu. ?Ainda bem que o hino parou no meio?, brincou.

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