Após ostentar por mais de uma década o status de principal torneio do País no circuito da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), o Brasil Open vive tempos de sofrimento. Embora aposte que será sucesso de público nas quadras do Esporte Clube Pinheiros, que recebe a 17ª edição da competição a partir desta segunda-feira, a organização do ATP 250 realizado em quadras de saibro não esconde o seu descontentamento com o fato de que está situado em uma semana ruim do calendário.
A popularidade e o status do Brasil Open caíram principalmente depois que o País passou a contar com um ATP 500 em seu calendário a partir de 2014, com a introdução do Rio Open, que viveu nesta última semana a sua quarta edição após se tornar o principal torneio de tênis da América do Sul.
Em entrevista exclusiva ao Estado, o diretor do Brasil Open, Roberto Marcher, fez questão de ressaltar a tradição do evento, que começou a ser realizado na Costa do Sauipe, na Bahia, em 2001, e depois passou a acontecer em São Paulo, onde anteriormente era realizado no ginásio do Ibirapuera antes de ser transferido, a partir de 2016, para o Esporte Clube Pinheiros.
Otimista em relação ao sucesso desta próxima edição do torneio, o dirigente, porém, lamentou o fato de que na mesma semana de disputas na capital paulista o Brasil Open concorre com o interesse dos tenistas do circuito com outros dois torneios de nível ATP 500. “Somos os únicos do calendário que competimos na mesma semana com torneios ATP 500, de Acapulco e Doha”, afirmou Marcher, que também enfatizou que não se incomoda com o fato de o Rio Open anteceder a competição em São Paulo.
“Não existe concorrência entre o Rio Open e o Brasil Open. O Rio tem uma data excelente, nós não temos, temos a pior data do calendário da ATP. Eles (do Rio) têm um ATP 500 e espero que chegue a virar Masters 1000, até 2000 (brincou)”, destacou o diretor, enaltecendo que é benéfico para o tênis do País a existência de um torneio com este status enquanto o Brasil Open segue como um dos 41 eventos de nível ATP 250 no calendário. “O ruim para a gente hoje é data, mas a gente vem ‘aguentando o rojão'”, disse Marcher, que qualificou o atual calendário do circuito como “mal feito, uma piada”.
No caso, o diretor se refere ao fato de que o Brasil Open faz parte de um giro sul-americano no qual se vê posicionado entre as semanas de disputas do Torneio de Buenos Aires, outro ATP 250, e do Rio Open, sendo que na sequência, em março, o calendário conta com os Masters 1000 de Indian Wells e Miami, ambos em quadras duras nos Estados Unidos. A incoerência é que após essas duas grandes competições norte-americanas os tenistas voltam para uma longa série de torneios no saibro em solo europeu entre a primeira quinzena de abril e o início de junho, quando o Grand Slam de Roland Garros fecha o período de competições neste tipo de superfície.
“O Brasil Open hoje está em uma data mal colocada, com a qual não concordamos, mas estamos segurando essa barra injustamente”, reclama Marcher, que ao mesmo tempo evita críticas à ATP, até pelo fato de que recentemente, em 2015, o Brasil Open conseguiu ser posicionado em uma data melhor do calendário, ocorrendo uma semana antes do Rio Open e duas antes do Torneio de Buenos Aires.
A organização do Brasil Open pleiteia justamente a inversão de datas com o evento da capital argentina no calendário, mas Marcher esclarece que essa mudança não depende de um acordo entre os organizadores das duas competições, mas sim de uma decisão a ser tomada pela ATP ao definir o seu calendário.
“O presidente da ATP, Chris Kermode, veio, nos visitou, e também falou com o pessoal da Argentina. E teve um ano em que pegamos uma data melhor no calendário”, lembrou o diretor, para depois, sem otimismo ou pessimismo, garantir que “sempre existirá a expectativa de uma mudança de data” do Brasil Open para a próxima temporada.
PREMIAÇÃO MODESTA E FALTA DE ESTRELAS – Com uma premiação total de um pouco mais de US$ 455 mil (aproximadamente R$ 1,4 milhão), o Brasil Open possui uma distribuição de recompensas aos tenistas mais de três vezes menor do que a do Rio Open, que é de cerca de US$ 1,4 milhão (algo em torno de R$ 4,4 milhões).
Inserido também em um contexto de crise que atinge o País atualmente, o Brasil Open também só recebe aporte do governo federal hoje (não tem verba cedida pela Prefeitura de São Paulo e ou do governo estadual), o que rende ao evento uma verba de R$ 3.326.582,20 por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, enquanto o Rio Open teve um valor captado para esta edição do torneio de R$ 4.648.851,00 por meio do governo nacional. Há as receitas oriundas de patrocinadores também para o evento em São Paulo, mas os custos são altos para a organização de um torneio que faz parte do circuito da ATP.
Esses são fatores relevantes que dificultam a vinda de tenistas do primeiro escalão do circuito a São Paulo, sendo que Marcher ressaltou o fato de que o ATP 250 paulistano tem uma política austera e não paga cachê para contar com jogadores Top. “Aqui não tem garantia para nenhum tenista, não pagamos nada, a não ser uma melhor condição de hotel, uma passagem aérea. Mesmo assim, o francês Benoit Paire, que era 19º tenista do mundo (na realidade, o 20º) e foi cabeça de chave número 1 no ano passado, veio para jogar aqui. Há dois anos que nós não pagamos nenhum centavo para ninguém jogar aqui”, assegurou.
Com esses obstáculos financeiros e de calendário, esta edição do Brasil Open terá apenas dois tenistas do Top 30 do ranking mundial, entre eles o atual bicampeão, o uruguaio Pablo Cuevas, que hoje é justamente o 30º colocado da ATP. O outro integrante deste grupo que está na lista de confirmados na competição é o espanhol Pablo Carreño Busta, o 24º do mundo. Já o outro único integrante do Top 50 que está confirmado no torneio é o italiano Fabio Fognini, o 45º da ATP.
Assim, o que acaba sobrando de mais atrativo para o público é torcer pelos tenistas brasileiros que estarão em ação, assim como se contentar com a presença de um ou outro veterano que um dia já figurou entre os melhores do mundo. Desta vez, o único que se enquadra neste perfil é o sérvio Janko Tipsarevic, que em 2012 chegou a ser oitavo colocado do ranking e hoje ocupa o 96º posto no geral.
Entre os jogadores da casa, Thomaz Bellucci é a principal estrela e chega com moral depois de ter estreado no Rio Open batendo ninguém menos do que o japonês Kei Nishikori, quinto colocado da ATP, em sua estreia. Hoje como 76º do mundo, ele é um dos três do País no Top 100 que estarão jogando em São Paulo – os outros são Thiago Monteiro (85º) e Rogério Dutra Silva (88º). João Souza, o Feijão, é o outro brasileiro que entrou direto na chave principal do Brasil Open.
PÚBLICO – Com preços atrativos para os padrões do tênis, com ingressos que partem de R$ 35, além de pacotes que começam no honesto preço de R$ 190 para ver as semifinais e as finais, a organização do Brasil Open também aposta em um grande público comparecendo ao Pinheiros ao longo de toda esta semana. Para isso, confia também na tradição histórica de paixão pelo tênis que tem o público paulistano.
“O torneio é sustentado pela cidade de São Paulo, é o torneio que tem mais tradição no Brasil. O torneio não cai, estamos sempre cheios, de uma forma normal”, afirmou Marcher, para depois enfatizar: “A previsão é a de que público compareça em massa”.
Na última quinta-feira, 50% dos bilhetes já estavam vendidos, segundo a organização do evento. E o diretor garante não temer por um impacto significativo com o fato de o Brasil Open ocorrer pelo segundo ano seguido em um palco menos badalado do que o tradicional ginásio do Ibirapuera.
“Os tenistas e o público adoram o Pinheiros, a quadra central é linda. Vamos continuar entregando um evento. É um lugar maravilhoso, com certeza total de lotação, e os jogadores começaram a adorar o local. A própria atmosfera do clube ajudou muito para atrair os patrocinadores porque aqui eles podem fazer relacionamento. Temos clínica de tênis aqui dentro e o próprio fato de estarem dentro de um clube já é um atrativo por si só para os tenistas”, ressaltou.