A luta continua!

Brasil mostra superação na Copa do Mundo e se despede pedindo mais investimentos no futebol feminino

Comandada por Marta, maior artilheira das Copas do Mundo, Brasil se despediu do Mundial após lutar muito e provar que tem valor. Foto: Rener Pinheiro/MoWa Press

Elas tentaram, se entregaram, deram o que podiam, mas não conseguiram seguir rumo ao sonho de um inédito título mundial. Enfrentando um estádio lotado contra e todas as dificuldades na preparação para a competição, a seleção brasileira perdeu por 2×1 para as favoritas anfitriãs na prorrogação das oitavas de final e se despediu da Copa do Mundo de Futebol Feminino da França. Na tarde de domingo (23), no Estádio Océane, em Le Havre, o Brasil não se deixou abater ao ver as francesas balançarem as redes primeiro e correu atrás do empate. Porém, na prorrogação, com muito desgaste, elas sofreram o gol que representou não só a eliminação, mas também o adiamento de uma vontade de provar, na marra, que merecem estar no topo.

O choro de Marta no apito final, na despedida quase certa de sua participação em Copas, fez muitos se emocionarem juntos pela imensa vontade de fazer o Brasil ir mais longe na competição. “A gente deu o nosso melhor. Foi um grande jogo, já esperávamos tudo isso, a torcida contra. Mas fizemos um grande trabalho, não conseguimos a vitória e a equipe delas foi melhor nas chances que tiveram. Agora é seguir em frente, cabeça erguida, com muito orgulho dessa equipe”, disse a camisa 10, seis vezes a melhor do mundo e a maior artilheira da história em mundiais, com 17 gols.

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Presente desde a primeira edição da Copa do Mundo Feminina, em 1991, a seleção brasileira foi para a oitava edição da disputa muito desacreditada. A equipe vinha de nove derrotas consecutivas na preparação, contando com um comando técnico muito contestado por, até aqui, não ter conseguido grandes feitos.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sempre levou a seleção feminina como dava e, até por isso, não interferiu para que Vadão, que tem no máximo em seu currículo um título da Série C, em 1995, com o XV de Piracicaba, e uma seletiva da Libertadores em 1999 e um Campeonato Paranaense em 2000, com o Athletico, fosse questionado no cargo. O técnico está desde 2014 no posto, com uma breve saída em 2017, quando treinou o Guarani por 29 jogos, e se sente bem confortável na posição. Se há uma máxima no futebol brasileiro de que a vida útil dos técnicos depende de resultados, isso não vale para a seleção feminina.

Após nove derrotas seguidas, Vadão foi mantido como técnico da seleção pra Copa, mas não conseguiu melhorar tanto o rendimento do time. Foto: Rener Pinheiro/MoWa Press
Após nove derrotas seguidas, Vadão foi mantido como técnico da seleção pra Copa, mas não conseguiu melhorar tanto o rendimento do time. Foto: Rener Pinheiro/MoWa Press

Ainda que não estivesse nem perto dos times favoritos, a trajetória do Brasil na primeira fase contou com um 3×0 em cima da Jamaica, uma derrota de virada de 3×2 para a Austrália, em um jogo em que a seleção teve momentos de domínio total, e um digno 1×0 em cima da Itália, favorita naquele compromisso.

Nas oitavas, o desafio foi diante da invicta França, primeira do Grupo A. O resultado foi a eliminação, mas o time segurou como pôde o ímpeto das adversárias e vendeu caro a derrota, deixando a decisão para os acréscimos.

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Há ainda muito que ser feito para que as brasileiras cheguem preparadas para uma disputa de tão alto nível. É evidente a falta de mais investimentos em categorias de base, por exemplo, para a preparação de atletas de ponta. Não havia no próprio grupo condições de fazer substituições sem ter a queda de rendimento. Isso porque as craques brasileiras são frutos de descobertas preciosas ao acaso e não de trabalho de observação e preparação desde cedo.

Tristeza tomou conta das meninas após a derrota pra França, mas o apoio de todo o país para elas provou que o futuro pode ser melhor. Rener Pinheiro/MoWa Press
Tristeza tomou conta das meninas após a derrota pra França, mas o apoio de todo o país para elas provou que o futuro pode ser melhor. Rener Pinheiro/MoWa Press

Falta apoio, incentivo e respeito, mas ainda que em pouca quantia, essa realidade foi minimamente mudada com a visibilidade que a Copa do Mundo teve. A TV aberta transmitiu o jogo das mulheres e havia quem se reunisse em casa, nos bares ou até no trabalho para acompanhar as representantes do país. Se antes da Copa o sinônimo de seleção brasileira feminina era apenas Marta, Formiga e Cristiane, agora os brasileiros também identificam Bárbara, Debinha, Andressa Alves, Andressinha, Tamires, Thaisa, Ludmila e tantas outras.

Mesmo eliminadas, as mulheres brasileiras deixam um legado importante e uma lição de que elas fizeram a diferença para o futuro do esporte com a participação nesta Copa.

“Sem dúvidas é um momento especial e temos que aproveitar. Digo isso no sentido de valorizar mais. Pedimos tanto apoio, mas também precisamos valorizar. O momento é muito emocionante. Eu queria estar sorrindo ou até chorando de alegria. E é esse o primoridal, chorar no começo para sorrir no fim. Quando eu digo isso, é querer mais, treinar mais, se cuidar mais, dar conta para jogar 90 e mais 30 minutos. Isso que eu peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga, uma Marta, uma Cristiane pra sempre. E o futebol feminino depende de vocês para sobreviver”, finalizou Marta, deixando o apelo por mais investimento na modalidade.

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