Memória

Como o Brasil humilhou a Argentina em 2005 e depois fracassou na Copa

Foto: Arquivo Grpcom.

No espaço de um ano, a cidade alemã de Frankfurt marcou o auge precoce e o fracasso retumbante de uma das melhores seleções brasileiras já convocadas para uma Copa do Mundo. Pelo menos no papel.

Uma rara reunião de craques derrubada pela euforia, comando frágil e falta de comprometimento. À frente do roteiro que terminaria em fracasso, o veterano treinador Carlos Alberto Parreira. Quatro anos após a glória do penta na Ásia com Felipão, o Brasil de Parreira foi do brilhantismo à apatia em apenas 12 meses.

Em 29 de junho de 2005, um ano antes do Mundial, a seleção humilhou a Argentina por 4 a 1 na final da Copa das Confederações, gols de Adriano (duas vezes), Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Pablo Aimar descontou.

A histórica partida será retransmitida na Globo neste domingo (19), às 16h. O título, aliás, parecia o prenúncio do hexa (que até hoje não veio). E não podia ser diferente. O Brasil colocou a Argentina, desfalcada, é verdade, na roda. Sobrou. Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Robinho infernizaram.

O placar ficou barato para os hermanos. Era pra ter sido mais. E o time ainda aguardava Ronaldo Fenômeno para o Mundial. Não tinha como dar errado.

Mas um ano depois, no dia 1º de julho de 2006, a esperança, que já vinha se esfacelando pouco a pouco desde a estreia na fase de grupos, virou pó na derrota por 1 a 0 para a França e a eliminação da então favorita já nas quartas de final.

Quase dezesseis anos depois, o itinerário rumo à derrocada canarinha nos parece previsível. Só podia mesmo ter dado errado.

Preparação: carnaval suíço

Torcedora invade campo para abraçar Ronaldinho Gaúcho durante treinamento em Weggis. Cena rendeu aplausos e sorrisos do restante da seleção. Foto: Albari Rosa/Arquivo/Grpcom

A seleção se preparou para a Copa na pequena comuna de Weggis, com cerca de quatro mil habitantes, no Cantão Lucerna, na Suíça. A passagem canarinha teve o efeito de um Furacão – e clima de carnaval.

Arquibancadas de treino lotadas, churrasquinho do lado de fora e som alto eram rotina. A imagem de uma fã invadindo o campo e rolando na grama com Ronaldinho Gaúcho foi emblemática. O grupo de jogadores sorria diante da cena com o dentuço. “Weggis era aquela várzea”, resumiria em entrevista em 2014 o lateral Roberto Carlos, um dos vilões da eliminação contra a França.

Montagem com fotos de Albari Rosa do carnaval brasileiro na Suíça

Dupla de peso

Ronaldo e Adriano pareciam dupla dos sonhos para a Copa de 2006. Foto: AFP

Pilares do “quadrado mágico” completado por Kaká e Ronaldinho Gaúcho (com Robinho como estepe no banco), Adriano e Ronaldo naufragaram. Acima do peso e em baixa no Real Madrid, o Fenômeno anotou dois gols na fase de grupos, ambos contra o Japão, e outro contra Gana, nas oitavas de final.

Já o Imperador, também pesado e sem mobilidade, cumpriu dois, um contra a Austrália, na fase de grupos, e outro também contra Gana. Mal na Copa, foi sacado da partida contra a França. Também mal, Ronaldo ficou no time. Ao final da competição, a dupla sairia unanimemente criticada por torcedores e imprensa.

Um Ronaldinho de corpo presente

O corpo do Ronaldinho Gaúcho duas vezes seguida melhor do mundo estava na Alemanha, assim como a assustadora responsabilidade de ser o protagonista daquele Brasil favorito e repleto de craques. Mas a mente e o foco estavam longe dali e, com eles, também o seu futebol. Já não parecia interessado, estava sem fome. Tinha apenas 26 anos e esta seria sua última Copa.

Carlos Alberto Parreira

Parreira não conseguiu transformar reunião de craques em uma equipe coletiva. Foto: Albari Rosa/Arquivo/Grpcom

O revés para a França apenas consumou uma seleção que decepcionou do início ao fim na Alemanha. As vitórias contra Croácia, Austrália e Japão, na fase de grupos, e Gana, nas oitavas, não mudavam o sentimento de insatisfação de torcedores e analistas com o rendimento do time. Havia craques, é verdade. Mas o coletivo nunca existiu.

À beira do campo, Parreira gesticulava energicamente diante do domínio francês, enquanto Zidane parecia dançar em campo. Era tarde demais para instruções. O técnico campeão em 1994 já demonstrava estar ultrapassado e não foi capaz de fazer daquele apanhado formidável de craques um moderno time competitivo.

A queda decepcionante não o impediria de, oito anos depois, assistir do banco de reservas o 7 a 1 da Alemanha, no Mineirão, no Mundial do Brasil, como auxiliar de Felipão.

A meia de Roberto Carlos

Roberto Carlos durante derrota para a França em 2006. Foto: Arquivo

No segundo tempo, quando Zinedine Zidane cruzou falta na área brasileira, o lendário lateral Roberto Carlos encontrou algo mais importante para fazer em vez de marcar o atacante Thierry Henry em um jogo eliminatório de Copa do Mundo: arrumar o próprio meião.

Foi assim, agachado, ajeitando com zelo a meia esquerda e marcando somente com os olhos, que o lateral de chute potente observou de posição privilegiada Henry completar a bola de Zizou para as redes.  

A atitude ficou marcada na história, mesmo que o ex-atleta se indigne. A lenda do Real Madrid se defende dizendo que sua função era puxar um eventual contra-ataque. “Babaquice”, declarou anos depois sobre as críticas recebidas.

Zidane

Zidane elevou o futebol ao status de arte contra o Brasil em 2006. Foto: Arquivo

O camisa 10 flanou em campo. Era como se nem transpirasse, enquanto enfileirava brasileiros, tabelava com os volantes na construção de jogo e encontrava os atacantes em velocidade. Foi a estrela superior de uma seleção francesa de nomes como Barthez, Thuram, Makelele, Vieira, Ribery e Henry, que terminaria vice-campeão para a Itália.

Os volantes Gilberto Silva e Zé Roberto e os zagueiros Lúcio e Juan sofreram diante do meia carequinha de origem argelina. E sobrou até chapéu para cima do Fenômeno, que Zizou, elegantemente, completou com um passe rápido de cabeça, finalizando o drible o mais rápido possível, quase em respeito ao amigo gorducho.  

A final daquela Copa ficaria marcada pela espetacular cabeçada de Zidane no tórax do italiano Materazzi, então um dos zagueiros mais violentos do futebol mundial.

Elenco brasileiro

Goleiros: Dida, Rogério Ceni e Júlio César
Laterais: Cafu, Cicinho, Roberto Carlos e Gilberto
Zagueiros: Cris, Lúcio, Juan e Luisão
Volantes: Emerson, Zé Roberto, Gilberto Silva e Mineiro (na vaga de Edmílson, cortado)
Meias: Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ricardinho e Juninho Pernambucano
Atacantes: Ronaldo, Adriano, Robinho e Fred.
Técnico: Carlos Alberto Parreira.

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