Brasil goleia o Chile e carimba o passaporte pra Alemanha

Reuters
O quadrado mágico brasileiro
deu show e garantiu a seleção
em seu 18.º mundial.

Brasília – Além de confirmar a classificação para a Copa da Alemanha, em 2006, ao massacrar o Chile por 5 a 0 ontem, em Brasília, o Brasil não deixou dúvida de que tem, de longe, o melhor time do mundo atualmente. Não pela fácil vitória diante de um frágil adversário, mas por mostrar cada vez mais entrosamento e contar com Robinho, Ronaldo, Adriano e Kaká, entre outros, em ótima forma. O quarteto mágico deu show no ataque e, quem diria, levou o torcedor a esquecer que a seleção ainda tem à disposição Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor do planeta na última temporada, em eleição da Fifa.

O craque do Barcelona não entrou em campo por estar suspenso. E não fez falta. A equipe jogou bem e, na metade do primeiro tempo, já havia assegurado o triunfo. ?Esperava um jogo bem mais complicado, mas o time se aplicou e conseguiu fazer quatro gols no primeiro tempo?, comentou Carlos Alberto Parreira.

Com a goleada, o Brasil chegou a 30 pontos nas Eliminatórias Sul-Americanas e ficou apenas um ponto atrás da líder Argentina. Mesmo que perca os dois jogos restantes, contra Bolívia, em La Paz, e Venezuela, em Belém, a seleção não sai mais da zona de classificação para o mundial, que reúne os quatro primeiros colocados – apenas Equador e Paraguai podem ultrapassar os brasileiros. O quinto disputará repescagem com o campeão da Oceania.

A vaga para a Copa foi conquistada com mais facilidade que na última edição das Eliminatórias, quando o time, na época dirigido por Luiz Felipe Scolari, se classificou apenas na última rodada. Agora o Brasil terá de conviver com o rótulo de favorito antes do mundial. É apontado por treinadores, jogadores e jornalistas como o candidato número 1 ao título na Alemanha.

Vitória sem susto

O torcedor lotou o Estádio Mané Garrincha esperando ver bom desempenho da seleção. Mas seguramente não imaginava uma vitória tão fácil. O Chile entrou para jogar de forma defensiva, porém não foi capaz de parar o quarteto mágico brasileiro.

O primeiro gol levou apenas 11 minutos para sair e desmoronou o esquema dos chilenos. Kaká cobrou escanteio e o zagueiro Juan fez de cabeça. Em menos de meia hora, o placar já apontava 4 a 0. O lance mais bonito, que levantou a torcida nas arquibancadas, foi o do segundo gol, que contou com participação de todo o ataque. Adriano fez boa jogada individual pela direita e cruzou para Kaká. O meia tocou para Ronaldo, que, com categoria, pôs Robinho na cara do gol. O ex-santista fez sem dificuldade, chutando de primeira. O oportunista Adriano ainda marcou o terceiro e o quarto gols.

Na segunda etapa, a seleção, sem Ronaldo, substituído por Ricardinho por ter sentido dores musculares, diminuiu o ritmo. Nos acréscimos, quando o placar parecia definido, Adriano recebeu de Robinho e fez o quinto do Brasil, seu terceiro na partida.

Com a bola cheia

Brasília – Adriano fez três gols ontem na vitória do Brasil por 5 a 0 sobre o Chile e continuou sendo o menino encabulado de sempre. Estava feliz, claro, mas ainda não tinha noção do que havia feito. Foram sobretudo graças a seus gols que a seleção garantiu sua classificação para a Copa da Alemanha. A ficha parecia ainda não ter caído.

Talvez porque para Adriano fazer três gols numa mesma partida não é algo tão raro assim. Há duas semanas, o atacante também marcou três vezes na estréia da Internazionale no Campeonato Italiano. ?Estou muito feliz e espero continuar fazendo gols importantes. Eu e a seleção tivemos um dia de muita alegria. Estou feliz.?

Adriano foi o mais requisitado após a partida pelos jornalistas brasileiros e chilenos. Ele fez a festa no Mané Garrincha. Sua comemoração do quinto gol do Brasil, quando carregou nos ombros Robinho, que lhe deu o passe, mostrou a união do grupo. Adriano também lamentou as dores de Ronaldo. Disse que se ele estivesse em campo e o time continuasse no ataque, o Brasil poderia ter ganho de muito mais.

Ronaldo saiu no intervalo. De todos os jogadores da equipe foi de quem menos se comentou após o jogo. Sua apresentação foi abafada pelas atuações de Robinho e Adriano. O atacante da Inter de Milão tem agora cinco gols nas Eliminatórias e disse estar disposto a brigar pela artilharia da competição, o que quer dizer que ele se coloca à disposição de Parreira para as partidas contra Bolívia e Venezuela.

Adriano dividiu ontem com Robinho todas as atenções. O novo jogador do Real Madrid foi o mais aplaudido em campo, principalmente nas poucas vezes que tentou pedalar sobre os chilenos. Foram duas ou três vezes. Robinho usou a 10 e não sentiu o peso da camisa.

Ontem, a 10 do Rei estava sob seus cuidados. E foi bem tratada. Robinho parecia um veterano. Correu, marcou, roubou bolas, ordenou aos companheiros, deu passes para gols e fez o seu. ?A jogada do meu gol foi excelente, em que todos no ataque participaram.?

O craque sentiu-se à vontade e feliz numa partida tão importante. Mostrou estar preparado para fazer bonito na Alemanha. ?Graças a Deus deu tudo certo e conseguimos a nossa classificação.? O jogador deu sua camisa para o goleiro Tapia, que a pediu antes do intervalo.

Robinho, que atuou com o chileno na Vila, disse ter prometido fazer dois gols no ex-companheiro durante a Copa. ?Um eu já fiz.? E não deverá fazer o outro, pois o Chile reduziu bastante suas chances de chegar ao mundial.

O meia Kaká também comentou o quanto as Eliminatórias foram importantes em sua carreira. ?Eu vivi uma transição na seleção nesse período. Era uma promessa no começo e fui ganhando meu espaço. Hoje, posso dizer que sou um jogador pronto para disputar bem uma Copa.?

Volta de Ronaldinho deixa técnico na dúvida

Brasília – O técnico Carlos Alberto Parreira respirou aliviado após festejar com os jogadores no campo e no vestiário a classificação do Brasil para a Copa do Mundo de 2006. E ainda no Estádio Mané Garrincha definiu o próximo desafio do time pentacampeão do mundo: superar a Argentina nas duas últimas partidas que ainda faltam das eliminatórias sul-americanas.

?Vamos agora colocar pressão neles. Temos seis pontos para disputar e quero duas vitórias do time?, disse o técnico, agora declarando que irá trabalhar com a base dessa equipe nos jogos contra Bolívia e Venezuela, em outubro.

Parreira era só alegria. Disse que a vitória elástica por 5 a 0 o surpreendeu. ?Esperava um jogo mais complicado, sobretudo pela importância da disputa. O Brasil lutava para conseguir sua vaga e o Chile para tentar subir na tabela. Esperava um jogo bem mais complicado do que foi?, disse.

O técnico também deu ontem uma dica aos torcedores que esperam ver Ronaldinho Gaúcho junto com o quarteto de frente que atuou ontem em Brasília, formado por Kaká, Robinho, Adriano e Ronaldo. Eles não jogaram juntos. ?Temos aí um problema conceitual. Um quadrado só tem quatro lados. Não há como ter cinco.? Para bom entendedor isso significa que alguém sairá para a volta de Ronaldinho Gaúcho. Mas quem?

Parreira não responde. Nem os jogadores. Robinho causa frisson e é a nova sensação do Brasil e da Europa. O povo quer vê-lo em campo. Ronaldo é Ronaldo até a Copa do Mundo e dificilmente ele perderá seu lugar. Parreira é fiel a ele. Kaká é cada vez mais titular e imprescindível no meio.

Sobra então Adriano. Mas como sacar um atacante que marcou três gols?

?O Parreira tem um grande problema, uma enorme dor de cabeça. Eu não tiraria nenhum e ainda incluiria Ronaldinho?, brincou o capitão Cafu.

Parreira apenas ri sobre o assunto. ?Vamos pensar nisso mais para frente.?

Amanhã, a seleção volta a campo em amistoso com o Sevilla. Ronaldinho Gaúcho está convocado. Não jogou ontem por estar suspenso. Como Ronaldo sente dores musculares na coxa direita – e por isso ele saiu do jogo no intervalo -, ganha força a possibilidade de o atacante não atuar na Espanha.

Parreira qualificou a vitória do Brasil sobre o Chile como uma exibição de gala. Nem ele imaginava que o time jogaria tão bem nos primeiros 30 minutos, quando sacramentou o resultado. ?Estaria contente com uma vitória por 1 a 0. Isso já me bastava. Mas o Brasil gostou do jogo e sobrou em campo?, disse. ?A primeira etapa está vencida. Podemos agora pensar nos preparativos para o mundial.?

No seu balanço dessas eliminatórias, o treinador jogou para o alto sua modéstia. ?Desculpe a minha sinceridade, mas não tivemos problemas em nenhum momento dessa disputa. Nunca ficamos ameaçados. Foi uma eliminatória equilibrada, mas sem sobressaltos para a seleção brasileira.? O treinador lembra apenas de dois episódios que o incomodaram: a derrota para a Argentina por 3 a 1 e o empate com o Uruguai por 3 a 3. ?Foram partidas que bobeamos.?

Parreira sonhava com essa classificação antecipada. E tinha motivos para isso. Em 93, ele viveu o inferno com a possibilidade, naquela época, de o Brasil ficar fora da Copa dos Estados Unidos. ?Era uma pressão tremenda.?

Se não conseguisse a vaga em Brasília, Parreira corria o risco de sofrer o mesmo martírio, pois o duelo com a Bolívia em La Paz será na altitude de 3.600 metros.

É, portanto, um jogo sem previsão de resultados.

O Brasil já perdeu lá.

O tumulto que tomou conta do estádio após a classificação fez a comissão técnica mudar os planos de viagem para a Espanha. O time, que seguiria direto para o aeroporto após o jogo, preferiu retornar para o hotel e só partir após o jantar. Era previsto que a seleção deixasse a capital federal às 23 horas. Ronaldo é a única preocupação de Parreira.

O jogador voltou a sentir dores e será reavaliado nesta segunda-feira.

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