Buenos Aires (AE )- Bêbado e feliz às 12h30, em pleno horário de almoço, João Carlos saiu tropeçando do bar Maluco Beleza, o bar mais emblemático da comunidade brasileira em Buenos Aires, na Rua Sarmiento. João Carlos na verdade é “Juan Carlos”, um argentino fanático pelo Brasil, que até faz questão de “aportuguesar” o próprio nome e pronunciar cada palavra com um peculiar sotaque portenho-carioca. “Sempre fui um fã do Brasil, desde criança, quando meus pais iam passar as férias em Florianópolis. Gostei da vitória brasileira. Isso é que é jogo bonito”.
Vestido com a camiseta da seleção, disse que se o Brasil ganhar da Inglaterra, irá comemorar com uma bandeira verde-amarela em pleno Obelisco, monumento-símbolo da cidade de Buenos Aires. “E de lá, vou descer a Avenida 9 de Julio até o monumento aos mortos das Malvinas (na praça San Martín), para prestar homenagem e celebrar a derrota inglesa na Copa”, disse à Agência Estado.
Uma pesquisa publicada poucos dias antes do início da Copa indicava que a seleção que os argentinos não queriam que vencesse de forma alguma o certame mundial era a Inglaterra. O país da rainha Elizabeth II nunca foi um rival clássico no futebol para a Argentina (ao contrário do Uruguai até os anos 60 e o Brasil posteriormente), mas desde a derrota argentina para as tropas britânicas na Guerra das Malvinas, em 1982, vencer os ingleses – pelo menos nos estádios – tornou-se um ponto de honra.
A menos de duas quadras dali, Alfredo, um dentista que empurrava um carrinho de bebês ao longo da Avenida Callao, disse à Agência Estado que “é preciso que o Brasil ganhe e traga a Copa para a América Latina. Primeiro, Felipao (pronunciado assim com as vogais abertas) tem que derrotar esses piratas ingleses. E depois, tem que impedir que os Estados Unidos ganhem”.
Em uma esquina da Avenida Santa Fe, a advogada Cristina Buono, estudante de português, disse que desde a desclassificação da Argentina, estava torcendo pelo Brasil. No entanto, Cristina, que costuma entrar nos chats da internet, lamentou o fluxo “impressionante” de brasileiros que entraram nos sites da Argentina para gozar dos argentinos. Além disso, afirma, teve que agüentar a ironia de seu próprio professor de português, que é um brasileiro do Rio Grande do Sul. “Era, com sinceridade, torcedora do Brasil. Mas não mais. Não vejo porque os brasileiros precisam se comportar de forma tão arrogante. E depois falam que nós, argentinos, é que somos os prepotentes. Infelizmente, os brasileiros estão se argentinizando”.