Ricardo Gomes conversa com os jogadores
durante o treino da seleção brasileira.

Viña Del Mar ? A rivalidade que existe entre Brasil e Argentina é o prato forte da rodada de abertura do quadrangular que definirá os dois países sul-americanos classificados para os Jogos Olímpicos de Atenas. O principal clássico do continente começará à meia-noite (de Brasília) no estádio Playa Ancha, em Valparaíso, logo depois de Chile e Paraguai.

Ricardo Gomes ontem decidiu que Paulo Almeida e Elano vão para o banco, formando o meio-campo com Fábio Rochemback, Dudu Cearense, Diego e Daniel Carvalho. “Essa formação é muito ofensiva, pois Dudu e Fábio, embora saibam defender, são mais ofensivos que Paulo Almeida e Elano. Esse time estava na minha cabeça desde o jogo contra o Chile. E é uma formação para enfrentar a Argentina, não para o torneio todo.”

Ele tem falado muito com os jogadores sobre a rivalidade que cerca o confronto de hoje à noite. Com a experiência de quem enfrentou muitas vezes os argentinos nos tempos em que era zagueiro, ele considera saudável tocar no assunto. “Sou a favor de cultivar essa rivalidade, de alimentá-la. É desse tipo de jogo que nós vivemos, todo mundo gosta de um jogo assim. O confronto com a Argentina tem muita história e devemos usar isso como mais um fator de motivação.” É opinião bem diferente da de seu colega Marcelo Bielsa. O técnico argentino disse que se prepara do mesmo jeito para enfrentar o Brasil num jogo de campeonato ou Honduras num amistoso.

“Quando trabalho pela seleção argentina, seja pela principal ou pela sub-23, vivo todos os momentos com a mesma intensidade, com a mesma vontade.”

A seleção brasileira encara a partida como uma “final antecipada”. Pelos cálculos da comissão técnica e dos jogadores, o time que conseguir seis pontos garantirá pelo menos a segunda vaga. E abrir três sobre o rival teoricamente mais forte seria passo muito grande rumo a Atenas. Pela lógica, o clássico deveria ser o jogo de fundo da rodada de domingo em Viña del Mar. Mas como o Brasil perdeu a liderança da chave para o Chile o confronto foi antecipado.

Ricardo Gomes acredita que a passagem pela repescagem serviu como aprendizado para os garotos e fortaleceu o grupo. ” Ir para a repescagem foi um susto útil, que fez os jogadores crescerem num momento fundamental da competição.”

Bielsa não vê duelo como mortal

Viña del Mar – Marcelo Bielsa pode estar mais flexível com relação à presença de jornalistas e torcedores nos treinos da seleção argentina – todos foram abertos desde que o time chegou ao Chile, dia 4 -, mas continua com o rigor de sempre para dar entrevistas. Não fala com exclusividade para ninguém, não conversa informalmente com jornalistas no hotel -Ricardo Gomes está sempre aberto a bate-papo na concentração brasileira – e na segunda-feira à noite deu sua única coletiva desde que o time chegou a Viña del Mar, na manhã de sábado.

Fiel ao seu estilo de responder olhando para o nada, como se fosse cego – só levantava os olhos quando a pergunta partia de um brasileiro – o treinador falou durante pouco mais de meia hora em uma sala da Universidad Ibañez. E, ao contrário do que afirmam os brasileiros, disse que o jogo de hoje não decidirá nada. “Não creio que o vencedor possa se considerar quase garantido nos Jogos Olímpicos nem que o perdedor não possa se recuperar, apesar de os dois jogos seguintes serem muito próximos. É uma questão matemática: ninguém se classificará com apenas três pontos e o perdedor ainda poderá chegar a seis, que devem ser suficientes para garantir uma vaga. Tudo vai depender de como cada equipe vai trabalhar em cima do resultado.”

Embora não classifique o jogo de hoje como decisivo – “é apenas uma das três partes do caminho para os Jogos Olímpicos” -, Bielsa admite que é um confronto “diferente”. “Não há dúvida que a partida contra o Brasil é sempre especial para nós argentinos. É um clássico que sempre influi no ânimo dos jogadores.”

Tática

A Argentina joga no 3-4-3, com Leandro Fernandez marcando pela direita, Burdisso pela esquerda e Gonzalo Rodriguez de líbero. Clemente Rodriguez jogou as duas primeiras partidas como ala pela direita, com Ferreyra na esquerda, Mascherano no meio e Lucho Gonzalez como homem de ligação. Ele cumpriu suspensão na terceira rodada, foi substituído por Medina (Mascherano foi deslocado para a ala direita) e continuou no banco contra o Equador, o que o irritou. Mas nos treinos desta semana ele foi muito exigido por Bielsa pelo lado esquerdo. “Contra o Brasil, Clemente pode ser útil daquele lado.”

Com ele em sua verdadeira posição, a Argentina pode até mudar o sistema durante o jogo e passar para o 4-4-2, com Leandro Fernandez assumindo a lateral-direita.

Zagueiro do Santos debuta contra a Argentina

Viña del Mar – Enfrentar a Argentina logo na primeira rodada do quadrangular final é o preço que o Brasil pagará por ter ficado em segundo lugar na primeira fase e disputado a repescagem, mas o zagueiro Alex está feliz por ter logo os arqui-rivais pela frente. “Acho uma boa pegar a Argentina logo de cara. É um jogo que motiva bastante e que vai nos dar muita confiança se vencermos. E se conseguirmos os três pontos dificilmente ficaremos fora da Olimpíada.” Será a primeira vez que ele enfrentará uma seleção argentina.

Autor de 15 gols na temporada passada com a camisa do Santos, Alex começou 2004 mantendo o “instinto goleador”. Marcou nas duas últimas partidas e é um dos vice-artilheiros do Brasil ao lado de Diego e Marcel, atrás apenas de Robinho – que marcou três, dos quais dois foram de pênalti. “Tô chegando na artilharia”, brinca.

Nos três primeiros jogos do torneio, ele não tinha tido nenhuma chance para marcar de cabeça. Contra Chile e Colômbia, guardou na primeira bola que chegou na medida. “O pessoal acertou o pé nas cobranças de escanteio (Fábio Rochemback cruzou no gol contra os chilenos e Elano no de domingo). Também está ajudando o fato de termos tido tempo para acertar o posicionamento nos lances de bola parada ali na frente. Nas primeiras partidas eu não estava achando a bola quando ia para a área.”

Atrás também as coisas vão bem. Ele está bem entrosado com Edu Dracena e o Brasil tem a melhor defesa da competição, com apenas dois gols sofridos em cinco partidas. “Vira e mexe vem alguém e fala que a defesa do Brasil é lenta. Acho que falam isso porque o Edu e eu somos altos. Mas não damos bola para isso e mostramos em campo que formamos uma boa dupla.”

Adiós

Alex continua com esperança de ser vendido para um clube europeu ainda este mês, embora faltem apenas 10 dias para o mercado de contratações ser fechado e o Santos insista em mantê-lo no elenco pelo menos até o meio do ano por causa da Libertadores. “Meu empresário (Giuliano Bertolucci) está lá na Europa. Ele foi tentar acertar alguma coisa para o Eduardo Alcides (zagueiro da Sub-20) e também está vendo algo para mim. O problema é que o Santos vai apostar tudo na Libertadores e não quer me deixar sair.”

Ele voltará ao Brasil segunda-feira e espera que a diretoria e a comissão técnica permitam que descanse alguns dias.

Três rivais que já conhecem as Olimpíadas

São Paulo – O Brasil, o país sul-americano que mais disputou o futebol nas Olimpíadas, está ameaçado por três adversários que também estiveram em Jogos recentes: o Paraguai, em 1992; a Argentina, em 1996, e o Chile, em 2000. Ganhar da Argentina, hoje, é uma obrigação do time de Ricardo Gomes, pela tradição e pelo atual conceito internacional do futebol brasileiro. Após sua primeira Olimpíada – Helsinque – 1952 -, o Brasil esteve em outras nove e tropeçou em apenas dois Pré-Olímpicos: em 1980 e em 1992.

Assim como o Brasil, a Argentina tem duas medalhas de prata, as de 1928 e 1996. Nos Jogos de 2000, o Brasil caiu diante de Camarões e o Chile também fracassou.

O Peru, eliminado neste ano, disputou a Olimpíada pela última vez em 1960. Quatro anos depois, no jogo Peru x Argentina, pelo Pré-Olímpico de 1964, em Lima, houve uma das maiores tragédias da história do futebol: morreram 328 pessoas num tumulto no Estádio Nacional.

TORNEIO PRÉ-OLÍMPICO
(quadrangular final – 1.ª rodada)

Local: Playa Ancha (Valparaiso, Chile)
Horário: 0h10 (quinta-feira)
Árbitro: Gilberto Hidalgo (PER)
Assistentes: Arol Valda (PER) e Feliz Badaraco (EQU)

BRASIL X ARGENTINA

Brasil: Gomes, Maicon, Edu Dracena, Alex, Wendell, Paulo Almeida, Elano, Fábio Rochemback (Dudu), Diego, Robinho, Daniel Carvalho Técnico: Ricardo Gomes

Argentina: Caballero, Leandro Fernandez, Gonzalo Rodriguez, Burdisso, Mascherano, Medina, Lucho Gonzalez, Ferreyra (Clemente Rodriguez), César Delgado, Tevez, Mariano Gonzalez Técnico: Marcelo Bielsa
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