Luiz Augusto Xavier ?
Dentro de tudo o que você fez, desde o começo, como jornalista esportivo, como técnico, como observador, torcedor, o que você mais gostou de fazer nesses anos todos?Borba Filho ?
Tudo o que fiz na área de esportes foi legal para a minha vida e começa bem antes do rádio, do jornalismo, de ter jogado um pouco de futebol e de ter me transformado num treinador. Tenho lembranças incríveis do tempo de garoto e jogava bola no campo do Barro Preto, em Guarapuava e, pra felicidade minha, um dia desses em um dos artigos que assinei em O Estado do Paraná, um companheiro daquele tempo, lá de Guarapuava, me mandou uma relíquia, que foi uma foto daquele time de garotos lá do Barro Preto. Então tudo o que fiz na minha vida desde aqueles tempos de jogar descalços que o Barro Preto tinha porque a gente enterrava os pés até o tornozelo, era um banhadão mesmo e depois dando um salto extraordinário de vida porque eu fui pra Guarapuava com três anos de idade…Xavier ?
Você nasceu aqui.Borba ?
Nasci em Curitiba, na Rua Aquidabã, que, pra quem não sabe, é hoje a Rua Emiliano Perneta, e fui direto de Guarapuava para o Rio de Janeiro. E no Rio fui me encontrar, literalmente, com meus ídolos de infância e aí já havia decorado na cabeça o Castilho-Píndaro-Pinheiro, era o trio final do Fluminense. O esporte de um modo geral e o futebol em especial estavam inoculados no Borba e eu vivi emoções extraordinárias e que se tivesse que começar tudo de novo, gostaria que começasse do mesmo jeito.Cristian Toledo ?
Como o Ronaldo Augusto virou o Borba Filho?Borba ?
Quando meu pai foi morar em Maringá, minha mãe já apresentava problemas sérios de saúde e numa ocasião ela veio fazer tratamento em Curitiba. Ficamos em Maringá eu e meu pai e nós íamos almoçar e fazer as refeições num restaurante de um amigo, de um compadre nosso. Compadre Moacir, como era conhecido. E lá pelas tantas tocava o telefone e alguém pergunta: “O Borba está aí?”. E o Moacir inteligentemente perguntava: “Qual Borba? O pai ou o filho?” O Borba pai. Então ele falava: “Borba pai, telefone para você”, “Borba filho, telefone para você”. E aí pegou o Borba Filho, a ponto de identificar primeiro com o Borba, que pouca gente diz o meu nome, como você citou aí no começo, Ronaldo…Xavier ?
Pouca gente sabe, não é?Borba ?
Exatamente, pouca gente sabe. E o Borba Filho foi incorporado de tal maneira que tive até problemas muitas vezes de ter feito negócios com pessoas e depois me pagavam com cheques e quando verificava estava nominal ao Borba Filho. Eu só conseguia descontar o cheque porque o gerente me conhecia como Borba Filho e aí então eu provava a identidade minha, pessoal, com a identidade que o Borba Filho não tinha nada a ver com o Ronaldo Augusto Borba. Pelo menos legalmente.Marcelo Fachinello ?
Nessa sua ida ao Rio de Janeiro você foi pra fazer o quêBorba ?
O meu pai foi campeão invicto pelo Atlético Paranaense, na campanha de 29-30, era o Atílio Borba. Mas tinha o meu tio Paraílio, que jogava no Britânia, que era o grande time daquela época, foi capitão da seleção paranaense e foi eleito deputado federal, na época, o deputado federal mais votado na história política do Paraná. Foi líder do Getúlio, na câmara do Rio de Janeiro e meu tio levou o meu pai para ser seu assessor e nós fomos parar no Rio de Janeiro. Então, de repente, eu me vi da beira da Lagoa das Lágrimas em Guarapuava às margens da Baía de Guanabara, quando existia a praia do Flamengo, hoje está aterrada. Fui morar exatamente na rua Almirante Tamandaré, que ficava exatamente entre a praia do Flamengo e a rua do Cassino, perto do Largo do Machado e da praça José de Alencar, conseqüentemente a poucos metros do Fluminense, das Laranjeiras. Eu que já vivia com Esporte Ilustrado na mão, com algumas edições da Gazeta Esportiva, era um encanto poder ir lá no alambrado e ser “macaco de auditório” como era chamado…Xavier ?
… do Fluminense?Borba ?
Ah, do Fluminense. Eu fui Fluminense roxo, embora hoje…Cristian ?
Não é mais?Borba ?
Não sou. Hoje graças a Deus não sou.Irapitan Costa ?
Como é que foi a transmissão do torcedor de alambrado para trabalhar na profissão?Borba ?
Foi uma coisa interessante. Sempre procurei acompanhar, procuro me lembrar, como é que pode eu, morando em Guarapuava como morava, ter tido não só o acesso, que já não era fácil, mas ter tido tanto interesse para acessar as coisas do esporte. Eu tinha nove, dez anos de idade…Xavier ?
Revista chegava um mês depois.Borba ?
Exatamente. Eram a Revista do Esporte, a Gazeta Esportiva Ilustrada e uma série de coisas. Eu me lembro uma vez que meu pai foi a São Paulo e quando voltou a Guarapuava ele me trouxe uma fotografia em preto e branco, linda, do time do Palmeiras, que tinha Oberdan, Salvador, Lima, Aquiles, Liminha, era um timaço. Aliás foi famoso na época, chamado de “campeão das cinco coroas”. Eram os cinco títulos consecutivos entre Rio-São Paulo, Paulista e aquele famoso título da Copa Rio, lá no Maracanã, jogando contra a Juventus, da Itália, que era a base da seleção italiana. Então eu fico pasmo como naquela época eu conseguia já ter uma convivência e confesso a vocês que uma coisa que sempre me fascinou foi um dia poder dirigir um time de futebol. A minha intenção não era ser um grande jogador de futebol, mas ser um treinador de futebol eu sempre quis. Eu acompanhava na época, no Rio de Janeiro, era o auge do Fleitas Solich, ainda o Flávio Costa, tinha Oto Glória, Gentil Cardoso, Martim Francisco, foi assim uma coisa fantástica pra profissão e eu tinha o desejo de querer ser treinador de futebol. Aí chegou uma época em que fui para a crônica e não me conformava. Eu olhava aquele pessoal ali e dizia “esse pessoal podia ser assim, podia ser assado”. É interessante que meu pai, inclusive, faleceu num sábado, em Maringá… era o desejo dele que, se Deus quisesse, fosse bom com ele, fazer com que ele morresse num estádio de futebol e ele morreu lá no Willie Davis. Mas meu pai e eu fomos muitas vezes em jogo de futebol e ele depois me dizia assim: “Ronaldo, eu gosto de ir aos jogos com você, porque você começa a me cutucar, me dizer ?veja lá, veja isso?. Eu estava vendo o mesmo jogo que você, mas certas coisas eu não tinha percebido”. Isso me envaidecia, porque me dava a certeza que eu percebia. Então, daí pra chegar a ser treinador foi um pulo.Gisele Rech ?
Estava conversando com o Dionísio, que é comentarista da Banda B, e ele mostrou alguma mágoa no sentido de não ter tido as oportunidades que ele queria de ser treinador e ele acabou abraçando essa carreira de comentarista. Com você foi parecido isso, de repente pararam de surgir as oportunidades que você queria e você optou por ser comentarista?Borba ?
Não. Foi exatamente ao contrário, porque o que vou dizer aqui sem pretensão nenhuma e sem também querer dizer que não exista uma ponta de vaidade, acho que só duas figuras deram certo, no futebol brasileiro, com relação ao que eu vou dizer…Xavier ?
No sentido inverso.Borba ?
No sentido inverso, fui eu e o João Saldanha, que, aliás, era uma companhia extraordinária que a gente só tem que se sentir honrado, porque nós saímos da crônica para ir trabalhar como treinador de futebol. A minha opção de voltar à crônica antes de ser uma opção, foi uma condição natural a volta à crônica esportiva. Aí entendo o fato do Dionísio, que é uma grande figura e que tenho um capítulo dedicado da minha vida em especial a ele, porque foi um exemplo como jogador de futebol. Sinto-me orgulhoso por isso, a única coisa que lamento nesse aspecto é que companheiros ou ex-companheiros de crônica…eu não sei se por inexperiência, babaquice ou ciúme, deixaram de me dar um apoio que eu imaginava que iria ter.Dante Mendonça ?
Quando você foi pro campo?Borba ?
Quando fui pro campo. Então, quando podiam, alguns, por qualquer coisinha, me detonavam…Cristian ?
Isso lá atrás?Borba ?
Sim, queriam me detonar porque…eu achava que tinha que ser ao contrário, mas acho que o fato de alguém sair da nossa função, seja jornalista, radialista, seja o que for, e chega a vencer ? porque eu venci na profissão de treinador, tinha que ser um motivo de orgulho pra classe. Só que todo mundo acha que somos palpiteiros, corneteiros e quando não é isso. Nós sabemos que existem exceções, aliás exceções pavorosas, mas nós somos especialistas nisso aí. E hoje vocês muito mais, porque vocês inclusive têm a oportunidade de exercitar a vocação e tiveram a oportunidade de sentar num banco escolar e gente especializada a formar ou melhorar a formatação das idéias de vocês.Dante –
Você teve um irmão jornalista¼Borba –
Tive, só que lamentavelmente tive.Dante –
Seu irmão teve uma história interessante na imprensa brasileira. Você podia contar essa história do seu irmão?Xavier –
O Marco Aurélio Borba.Borba –
O Marco Aurélio foi uma figura incrível da nossa vida, porque nascido em Guarapuava, ele acabou, inclusive, pelo seu idealismo de juventude, sendo um participante e uma vítima bem machucada da ditadura que tivemos no País. Ele era líder estudantil, foi companheiro de figuras da época, como o Vladmir Palmeira, que hoje é senador, e nessa liderança ele sofreu muito. Foi torturado, eu que acompanhei – acompanhei mesmo, saía atrás, corria de carro no quartel da Polícia Militar e ele já estava na Ilha das Cobras, na ilha das Flores, depois já estava no batalhão da polícia militar em São Cristóvão e apanhando, sofrendo e de repente se formou um jornalista extraordinário. Logo que ele saiu de uma dessas ações em que ele se viu envolvido, ele escreveu um conto, se não me engano o nome do canto era “Guarda-chuva rasgado”, uma coisa assim, e ele foi premiado. Esse concurso de contos dava um prêmio em dinheiro, mas principalmente dava a oportunidade do cidadão trabalhar na editora Bloch, na época, na Manchete. E ali na Bloch ele foi tudo. Foi editor da Fatos e Fotos, da Manchete¼Dante –
Teve uma história interessante dele. Como é que seu irmão tornou-se jornalista?Borba –
Ah sim, foi interessante isso aí, você lembrou bem. Nessa época em que já andava meio perseguido pela repressão da ditadura, e ele se formou em direito pela Universidade da Guanabara, cujo magnífico reitor era o professor João Lira Filho, grande figura da história brasileira, um dia disse a ele “poxa você devia ser jornalista” ele dizia “você está louco, não quero ser”. Um dia ele descobriu que eu tinha uma carteirinha que eu tenho até hoje, da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), e ele precisava ir a um baile que era lá no meio da Baía de Guanabara e ele não tinha convite. Ele sabia que jornalista chegava lá e entrava. Ele me procurou e pediu a carteira emprestada. Eu emprestei, ele foi ao baile, se divertiu, voltou falando maravilhas da carteira e não quero crer que foi aquilo que inspirou o Marco Aurélio a ser jornalista, até porque ele foi um brilhante jornalista. Depois ele, inclusive, saiu da Manchete porque ele tinha um amigo no Peru que numa daquelas viagens que ele fazia o cidadão disse a ele que o rio Amazonas não se forma onde a Geografia conta e que ele iria mostrar o lugar. O meu irmão levou a proposta de pauta para Manchete e eles diziam “vamos esperar um pouco, mais tarde vamos ver”. De repente ele viu que tinham mandado outro cara para fazer a reportagem. Aí ele saiu da Manchete. Ele era guarapuavano mas carioca de coração. Ele era um jornalista brilhante e acabou na editora Abril. Na editora Abril, só pra medir a capacidade dele, ele passou, no que vocês imaginarem, começando por Quatro Rodas, Placar, Playboy, enfim, passou por todos os estágios que poderia passar. E depois lamentavelmente quando ele faleceu ele estava como diretor do Jornal do Brasil em Brasília. Ele teve um fato interessante comigo. Naquela campanha de 84, quando o Pinheiros foi campeão, um dia ele me confessou: “Ronaldo, vem cá. Estou envergonhado com você, porque eu tenho me sentido cheio de pudores pra falar com você e levei uma dura dos companheiros da redação do Placar, do Juca Kfouri, do Divino Fonseca, do Lemyr Martins e de outros, porque todo mundo falava e elogiava você e eu não escrevia nada”. Ele tinha receios realmente. Então ele se despiu desses pudores e foi bacana.Xavier –
Como você chegou naquela grande equipe da B2 de 1968 que foi fantástica, que era na época era a referência no rádio paranaense?Borba –
Um dia saí de Maringá e fui a São Paulo recomendado para jogar no São Paulo Futebol Clube. O São Paulo tinha acabado de vender o Canindé e lá era casa do São Paulo e hoje é da Portuguesa, e o Morumbi já estava em obras. Quem mandou para lá foi um conselheiro importante do São Paulo, só que ele era importante e não adiantou nada, porque eu passei dez dias sem trocar de roupa e não treinava. Aí um dia, caí fora. Mas um fator antes de ir para lá foi que a Portuguesa tinha ido jogar lá em Maringá. E a Portuguesa foi jogar em Maringá teve que ficar uma semana no Norte do Paraná pra poder voltar para a São Paulo. O pessoal não pagou. Tiveram que fazer mais dois amistosos para arrumar um dinheiro para poder voltar. Nesse meio tempo eu estava ali em Maringá e joguei contra a Portuguesa e a Portuguesa tinha um timão. O Félix era o terceiro goleiro, aí vocês imaginam. Nesse time tinha Djalma Santos, Brandãozinho, Renato, Pinga, Simão, Cicinho, Lima, enfim, era um timaço. E nesse dia que eu saí do Morumbi puto da cara, cheguei numa lanchonete na avenida São João e pedi um sanduíche de calabresa e um chope e senti uma mão no meu ombro. “O que você está fazendo aí garoto?” Olhei era o Mário Américo. Eu contei pra ele que fui sacaneado. Ele disse “vamos lá pra casa do Lima” que era treinador do time. “Lembra do menino?” “Lembro”. “Ele pode treinar no time?”. “Pode”. E quando cheguei para treinar fiz alguns amistosos na Portuguesa e aí, para encurtar a história, na hora que era para assinar o contrato, o Fulvio Furin que vocês conhecem e é amigo meu, tinha me dado uma carta para ir na Sidney Ross e eu fui. Na Portuguesa jogava o Chamoro, estava esquecendo, goleiro da seleção argentina e do Boca Juniors e ganhava 25 mil por mês, era um grande salário na época. Eles me ofereceram 9 mil por mês e o diretor disse “olha o Jairzinho ganha 11, o Sílvio ganha 11, não sei quem ganha tanto”. Disse que daqui alguns dias eu respondo. Fui lá na Sidney Ross, apresentei a proposta, o americano disse “temos um problema moço”. “O senhor disse que quer ganhar 20 mil por mês”. “Se não for 20 mil eu não quero”. Aí encerrei minha carreira na Portuguesa e comecei ganhando muito bem na Sidney Ross e fui para Maringá. Quando cheguei em Maringá, o Joe Silva, que é pai do Fernando César, era da rádio Difusora de Maringá. Então o Aníbal narrava, o Joe comentava eu fui ser repórter. Em seguida, o nosso Hugo Santana foi ser diretor do jornal Folha do Norte e eu fui apresentado lá dizendo que poderia dar alguma colaboração no esporte. Eu nunca tinha sentado numa redação de jornal para escrever nada. Aí você veja a coincidência: eu comecei a trabalhar na rádio Difusora e na Folha do Norte. E aí eu tive a felicidade de ser testemunha de tudo o que aconteceu com o Grêmio de Maringá desde que ele nasceu. Vi que o negócio na crônica era uma boa. Foi jogar em Maringá o Rapid de Viena e a seleção da União Soviética. Aí num dia desses, convidei o Vinícius Coelho que era de família conhecida da nossa para ir para Maringá e ele era do Diário do Paraná. Lá em Maringá o Vinícius me disse: “Pô Borba, você tem que ir para Curitiba”. Fui para Editora do Estado do Paraná, lá na rua Barão, escrevendo para O Estado e para a Tribuna, cujo diretor de esporte do Estado era o Luiz Alfredo Malucelli, e como diretor de esportes da Tribuna era o Ademir Amatuzzi. Aí convivi com esse pessoal todo, trabalhei um período e fui trabalhar na rádio Guaracá e em seguida, respondendo a pergunta do Xavier, cheguei na Rádio Clube e pude trabalhar com uma equipe sensacional. Tinha o Willy Gonzer, Marcus Aurélio de Castro, Airton Cordeiro, Jota Pedro…Dante ?
(…) O Willy Gonzer, com o disco da Elis Regina embaixo do braço…Borba ?
Não só o disco como o telefone dela. E ele ligava e levava uma chinchada dela, que ela dizia que não sabia quem era Willy Gonzer. Aí ele tomava mais duas. Então foi assim que eu vim parar na rádio Clube e da rádio Clube e fui para o mundo. Rádio, jornal, televisão, nessa época consegui trabalhar na rádio Clube, no jornal, e depois fui trabalhar com o Vinícius no Diário do Paraná e trabalhei na TV Paraná, que naquele tempo tinha inclusive a Grande Resenha, que era o grande sucesso da época da televisão do Paraná.Gisele ?
Você no início sentia um pouco de receio de criticar algum treinador com o qual você não concordava com os argumentos do treinador e hoje em dia está mais fácil para você?Borba ?
Confesso pra você, sem qualquer frescura, que não, sempre fui igual. O espírito crítico eu carreguei desde o primeiro instante, quando empunhei um microfone, quando sentei para reportar alguma coisa que eu via e nunca tive receio, até porque nunca misturei as coisas. Sempre procurei fazer a observação e a crítica ao trabalho desenvolvido pelo profissional que estava analisando, nada mais do que isso. E por isso até eu acho que eu sempre tive a grande felicidade de merecer o respeito de todo o mundo. Sempre fui muito tranqüilo a essa minha relação de crítico até como criticado também, porque eu entedia.Dante ?
Dentro do campo você tinha a possibilidade de passar tudo aquilo que você estava analisando do jogo pro jogador?Borba ?
Não era fácil, aliás, não é fácil. Porque o problema é o seguinte: eu tenho uma colocação que eu faço com relação ao profissional que está na margem do campo e que ela tem que ser bem entendida. Existe profissional que enxerga e existe profissional que está ali e não enxerga direito, não só porque a localização de trabalho é um absurdo, ficar ali na margem do campo não é fácil. Mas tem aqueles que enxergam e não sabem o que vão fazer e tem aqueles que enxergam, sabem o que tem que fazer, mas não têm coragem de fazer. Então é uma série de coisas. Eu vou citar um exemplo que vai resumir a sua pergunta. Eu sabia que na hora em que o pepino fosse arrebentar, seria comigo, ninguém iria responder por mim. Mas, como eu tinha um grupo que trabalhava comigo todos os dias, eu não me importava em sempre trocar uma idéia. Dizia “acho que vou fazer isso aqui”. Aí o meu auxiliar, o companheiro de banco, e às vezes ele olhava de lado fazendo de conta não ser com ele. Então um fato sui generis: jogando em Guarapuava, time do Guarapuava, onde fiz uma campanha em 79, em que o time do Guarapuava liderou o campeonato paranaense por sete rodadas, um fato incrível, e aí estávamos perdendo um jogo por 1 a 0, em Guarapuava, primeiro tempo. Comentei com meus pares de banco. “Acho que vou fazer uma alteração. Vou tirar o zagueiro aqui e colocar o Zé Miguel”, que era atacante, tinha jogado no Londrina. Aí viro e digo “o que você acha?”. “Não sei, acho perigoso, tá 1 a 0 pra eles, aí fica sem zagueiro aqui”. “Ah é isso? Então faz o seguinte: aquece o Zé Miguel que eu vou botar ele” (risos). Eu procurei ouvir, não me deram apoio, mas não é por isso que eu não vou fazer. Aí fiz a alteração e pra minha felicidade o Zé Miguel fez dois gols ainda no primeiro tempo, viramos o primeiro tempo ganhando de 2 a 1 e ganhamos o jogo de 4 a 1. O que eu quero dizer é que não basta só enxergar se não tiver o poder de decisão, até porque o relógio está correndo, tem aquele tempo de aquecimento e você não pode perder tempo. Tive a felicidade de ter o Elba de Pádua Lima (Tim) como um de meus mestres-conselheiros. Uma das primeiras coisas que ele me contou foi o seguinte: “Borba, sempre procure jogar com dois homens pelos cantos”, que ele abominava o fato de, vamos citar para ser bem claro, um Zagallo ser ponta-esquerda e fazer o meio. Ele achava que ponta tinha que ser ponta, não ter que ir para o meio. “Então procure jogar com dois homens abertos para você não só aprender a defender como escalonar por ali. E tem uma coisa Borba, quando você enxergar que alguma coisa está errada com o seu time, você não perca tempo de fazer uma substituição, porque normalmente o treinador já cansou de gritar com o cara ali, aí ele vai pro vestiário, perde 15 minutos de intervalo, vai repetir tudo aquilo que ele disse na semana inteira, e aí vai chegar no segundo tempo o cara vai continuar no mesmo jeito e daí aos 15, 20 minutos você vai tirar o cara. Na hora que você detectar que o negócio está errado, mude. Ganhe tempo para você não se arrepender depois”. É isso aí, sempre procurei fazer, não é fácil.Fachinello ?
Você ganhou a fama de ter passado por vários clubes, não ter parado muito nos lugares. Em algum momento isso te prejudicou na carreira de treinador?Borba ?
Várias coisas servem para prejudicar e muitas delas eu contribui, porque eu fiz algumas besteiras na minha vida profissional que poderia ter evitado. Então isso aí realmente teve influência. Agora, já tive várias. O fato que o Fachinello lembrou agora, quem trabalhou comigo, e não foram poucos os clubes, se for contar foram entre 30 e 40 clubes que trabalhei em minha vida, então foram muitos jogadores. Os jogadores sabem que eu, por exemplo, inclusive explodia com eles muitas vezes, eles sabiam que era ali no momento. Agora o dirigente é um detalhe. O dirigente tem que ser respeitado à medida em que ele é um torcedor que vai lá e dedica a vida dele sete dias por semana, 30 dias por mês ao clube, abandona a família e fica ali tratando de problema de homem, todo o dia, e que não são poucos os problemas. Então esses diretores muitas vezes se sentem no direito de dar palpite, acham que são os donos da coisa e poucos profissionais têm peito de dizer isso na cara deles ou de explodir. Teve diretor que eu mandei sair do vestiário e hoje esse cidadão cruza comigo, me cumprimenta, dá risada, tapinhas nas costas, mas se ele pudesse me enfiar um punhal nas costas, ele enfiava…Cristian ?
A gente conhece ele?Borba ?
Todo mundo conhece, é dirigente conhecido.Fachinello ?
Ele está velhinho?Borba ?
Não, o que vocês querem dizer quem seja não é. Falando nisso, deixa eu contar uma coisa para vocês: o primeiro clube profissional em que trabalhei foi o Londrina. E lá no Londrina…Cristian ?
Em que ano?Borba ?
1970. O Londrina tinha uma sede no edifício Banco da América, era um andar inteiro e na frente tinha uma loja Pernambucanas. E quando cheguei lá no Londrina, eu tinha feito uma campanha feliz com a seleção paranaense no campeonato brasileiro da categoria e aí o Londrina me contratou. Aí chegava lá depois do treino e vinha um diretor “seu Borba, por que você não põe o Fulano?”, “por que você não põe o Beltrano?”. Ouvi aquilo por uns três ou quatro dias. Não falava nada. Lá no Londrina tinha um funcionário que era conhecido no Paraná inteiro era o Pedro Faraco, ele fazia tudo lá. Um dia no fim da tarde, todo mundo dando palpite eu disse assim: “Pedro, faz favor, dá uma olhada na janela e vê se a Pernambucanas está aberta”. Ele falou “está, por quê?” “Ali na frente tem aquela urna que eles colocam cupom pra concorrer, traga uma urna daquelas que eu vou deixar aqui até amanhã de manhã, e vocês podem pôr o time de vocês aí dentro da urna e eu vou ler o time que vocês votaram e eu não escalo”. Nunca mais vieram falar nada pra mim. Eu não fiz de sacanagem, mas eu não agüentava mais. Aprendi desde o primeiro time profissional que eu fui, que você tinha que fazer jogo duro e dirigente não gosta disso. Talvez esse tenha sido um dos erros da minha vida. Poderia ter sido mais diplomático, mais político nesse relacionamento.Rubens Chueire Jr. ?
Você saiu da crônica para se tornar treinador. Como foi a sua relação com os treinadores e como que a crônica passou a ter relação com você?Borba ?
Um pedaço da pergunta eu respondi antes porque achava que a crônica tinha que ser um pouco mais não condescendente, mas tinha que aceitar de melhor maneira, até porque quando anunciei o meu desejo de ser treinador de futebol, na mesma hora em que anunciei este desejo, já tive proposta de clubes, mas eu optei por não aceitar. Eu larguei de tudo, rádio Clube, jornal, televisão, tudo em que trabalhava e fui pro Rio de Janeiro. O professor Almir de Almeida era supervisor do Fluminense e já tinha passado pelo Coritiba e ele disse assim: “Borba, você está fazendo um pedido pra fazer esse trabalho no Fluminense só que o nosso presidente é muito cheio de frescura”- era o Francisco Laporte. Então você faz um requerimento aqui, assina, e começa a freqüentar aí, porque quando ele for despachar você possivelmente já vai estar quase terminando esse negócio. Foi o que aconteceu: uns três meses depois, o Francisco Laporte falou para o professor Almeida “abra as portas do Fluminense para o rapaz” aí o professor Almeida sinalizou com a cabeça, agradeci muito, mas já estava terminando o estágio. Fiquei quatro meses no Fluminense, clandestino, e aí teve uma participação do Lindolfo Luiz, que era diretor das emissoras coligadas, viajava no Brasil inteiro e tinha um apartamento em Copacabana. Ele disse: “Borba, não se preocupe que você vai ficar nesse apartamento e não vai gastar nada”. Eu saía diariamente e ia ao Fluminense. Lá tinha o Telê Santana de treinador, os preparadores físicos eram o Admildo Chirol, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, no juvenil o treinador era o Pinheiro e o Tião Araújo, que era preparador físico, nesse período ainda, por deferência especial do professor Ernesto Santos, que era professor da cadeira de futebol da Faculdade de Educação Física lá na Urca, e eu assistia aula com a cadeira de futebol do velhinho. E quando voltei pra cá, achava que, teoricamente, estava preparado pra coisa, já tinha jogado futebol, sabia que como era a coisa, mas eu queria ver aquilo que vi. Humildemente, com o caderninho na mão, o Telê falava e eu anotava e o que não entendia ia perguntar depois. Ouvia as preleções de vestiário, de treino e quando o profissional não estava jogando ia assistir o juvenil então fui criar essa ambientação. Quando cheguei em Curitiba, de volta, o Evangelino Neves disse “Borba, você quer treinar o juvenil do Coritiba?” Mas eu só passo pagar 500 mil réis”. Disse que tudo bem. “Você vai aceitar?” Disse: “não estou ganhando nada. 500 mil réis são 500 mil réis que estou ganhando”. Assim comecei no Coritiba, depois de ter feito esse estágio no Fluminense durante quatro meses. Por isso não houve um questionamento de ir para crônica e da crônica ir dirigir um time de futebol até porque tive a sorte de ir para o Londrina, fiz uma campanha muito boa e depois vim pra cá, peguei o Água Verde, fui pro Ceará e aí…Dante ?
Você não virou técnico do dia para noite. Foi uma transformação lenta e gradual.Xavier ?
Você lidou com outras coisas, com vendas…Borba ?
Em alguns períodos da minha vida, como falei pra vocês, acabei indo parar na Sidney Ross, em São Paulo, era propagandista científico, fazia propaganda do laboratório e vendia.Dante ?
Vendeu cadeira do Pinheirão.Borba ?
Não só do Pinheirão, como do Willie Davis. O Pinheirão tem gente que me encontra na rua e pergunta onde é que vai estacionar o carro, no estacionamento que vendi para eles (risos).Gisele ?
Hoje em dia muitos jogadores querem ser treinadores e fazem um bando de cursos para treinador. Você acha que é importante na formação essa coisa que às vezes exigem e chegou a se cogitar o diploma de educação física para treinador?Borba ?
Acho o seguinte: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Porque existe alguns ilustres pretendentes que não vão chegar a lugar nenhum. Podem fazer mil cursos que não vão chegar a lugar nenhum. Os grandes treinadores do futebol brasileiro, se você for pegar na verdade, não fizeram curso nenhum. Ser treinador de futebol é tentar homogeneizar um grupo heterogêneo de homens por 90 minutos. Por que 90 minutos? Porque terminou o jogo, aquele que tem a mãe desgarrada, a irmã está não sei aonde, o pai está não sei aonde, esse aí volta os pepinos todinhos no fim dos 90 minutos. Então você tem que trabalhar com a cabeça desse pessoal, homogeneizar esse grupo heterogêneo pra 90 minutos, conseguir o resultado. Quando terminou e pensam que dá para respirar, já começa o pepino porque tem jogo na quarta-feira e aí tem começar tudo outra vez. Então a grande escola pro treinador é ser um bom observador, conhecer as necessidades que um time no dia-a-dia tem e acima de tudo é ter capacidade e bom senso para colocar em prática aquilo que ele tem na cabeça. Por isso eu digo que tem gente que conhece, enxerga, mas não tem coragem para fazer.Gisele ?
Treinador faz um pouco o papel de psicólogo?Borba ?
Muito. Esse é um dos detalhes que o pessoal fala na concentração. Há os que são a favor e os que são contra. Eu detestava dormir em concentração…Irapitan ?
Você não concentrava?Borba ?
Eu não concentrava, o Hélio Alves inclusive implicava comigo “que treinador que você é que não concentra?” Já tinha o Odivonzir Frega e existia melhor figura para cuidar de um grupo de jogadores que ele? Não existia. Então por que eu ainda teria que ir dormir com o Frega? Mas acho que essa concentração precisa ter, no sentido de fazer com que o pessoal se direcione com as necessidades do time.Fachinello ?
Você acha que por isso o jogador brasileiro principalmente não está preparado para ter essa liberdade não concentrar, de não ter essa obrigação às vésperas de um jogo?Borba ?
Exatamente por isso…Xavier ?
Completando a pergunta, lembra a entrevista do Renaldo? Que ele dizia que os jogadores não estão preparados?Fachinello ?
Ele dizia que não gostava.Borba ?
Respeito a opinião do Renaldo, acho muito válida, só que não é questão de gostar ou não gostar, é a necessidade do momento e o brasileiro não está preparado para ter essa liberdade, porque eu me baseava num fato simples de ser entendido: você está concentrado para um jogo importante. Só pra citar, um clássico, um Atletiba, ou Coxa e Paraná…Fachinello ?
Você acha que isso vale uma semana inteira?Borba ?
Não, isso é um absurdo. Como estava dizendo, se o cidadão não vai para concentração numa sexta-feira ou no sábado e fica lá pensando no jogo, até porque é o momento em que o treinador informalmente chega ali, o cara tá jogando um baralho ele chega e fala “olha fulano eu percebi isso aqui” então você troca uma idéia com ele. Agora imagine esse mesmo cidadão em casa, aí o filho está chorando, a mulher…Xavier ?
Ele pode sair pra rua…Borba ?
Ele está em casa, o filho está chorando porque precisa trocar a fralda, aí alguém precisa ir no supermercado, a empregada que não veio, quer dizer, o cara fica aporrinhado, ele não está ali para aquilo. Então isso desconcentra o cara. Hoje eles ganham relativamente bem, podem proporcionar condições de ter tranqüilidade em casa, têm celular – até criança que vai pro jardim de infância tem celular – então não tem mais esse tipo de problema. Acho que a concentração é um mal necessário, mas sempre abominei concentração por um número prolongado de dias, porque além de se tornar enfadonha, realmente vira um saco e o cara não agüenta nem ver o companheiro.Irapitan ?
A gente percebe que os treinadores têm uma cartilha: esperar até o intervalo ou nos dez minutos finais pra tentar um salve-se quem puder. Isso se deve a uma tentativa de garantia de emprego?Borba ?
Antes de responder exatamente sua pergunta, sou obrigado a fazer uma comparação com outro aspecto de uma pergunta que já foi feita, de que eu não parava em time de futebol. Acho que a recíproca é verdadeira, assim como eu sabia que a gente sabe até hoje que se não houver uma garantia de bons resultados, seqüência ou uma coisa convincente, o cidadão, eu sempre uso essa comparação, é um navio de pirata, o cara está condenado eles amarraram uma venda nos olhos e iam cutucando-o com a espada para ele andar na prancha e o tubarão lá embaixo, só esperando. Então o cidadão, jogador de futebol é isso aí. A grande mágoa que muito dirigente teve de mim foi no sentido de não poder me mandar embora. Esse foi o problema, eu não dava essa chance, porque quando surgiam oportunidades e as oportunidades não foram por puro e simples ?mercenarismo? como se possa pensar. Por exemplo, teve uma ocasião com o Grêmio de Maringá em que levei uma chuva de moeda na cabeça…Cristian ?
Essa é uma pergunta que vai ser retomada…Borba ?
Depois eu vou tocar nesse ponto. Do mesmo jeito como eles se permitiam mandar embora na hora em que eles achavam conveniente eu também me permitia o direito de cair fora do time no momento em achasse oportuno. Se antigamente eu tivesse proteção de salário que o pessoal tem hoje, podia me mandar embora a hora que quisesse, não tinha problema nenhum. Tem treinador que vive disso. O Luxemburgo teve uma época em que ele fazia de caixas de contabilidade de vários clubes, porque o pessoal não conseguia terminar de pagar e ele ficava sem receber. Então acho que o pessoal tem um receio disso e não devia ter. Eu nunca abri mão da minha independência e acho que os treinadores não precisam e é exatamente no instante em que eles pudessem melhorar esse problema eles teriam mais coragem, mais audácia, fariam mais sucesso inclusive, porque não é pelo fato de perder o emprego, porque o cidadão sai daqui e já está empregado lá na frente, aliás, só aqui no Paraná que não, se fosse gaúcho, com certeza, porque os gaúchos são unidos nisso. O gaúcho quando sai de um time aqui já colocaram outro gaúcho no lugar dele. O paranaense se puder torpedear, torpedeia.Flávio Laginski ?
Na sua época de treinador já havia muita conversa de 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2?Borba ?
Havia…Xavier ?
Ele é do 4-3-3.Borba ?
Havia, não só do 4-3-3 Xavier, aliás, dos estilos que estão por aí eu até prefiro, sempre com três atacantes. Mas eu fui, inclusive, do 4-2-4. Pra você ter uma idéia, essa numerologia que hoje se voltou a tratar tem gente que fala dela sem saber. Eles acham que esse aqui está no 4-3-3, no 3-5-2, eu já disse outro dia que esse 3-5-2 brasileiro é muito mais um 5-3-2 do que um 3-5-2. Agora, existia sim, aliás, comecei a entender a equação do futebol quando ainda era por letra, era o WM, que era o 2-3-5, os dois zagueiros, os três médios e os cinco atacantes, sendo que dois cinco atacantes dois meias voltavam e formavam o M da letra, mas já existia, teve o Martim Francisco, o Zezé Moreira que aplicou a marcação por zona depois do fracasso do Brasil na Copa de 1950. Depois em 57 e 58 o Martim Francisco fez sucesso no Vasco com o 4-2-4 e depois veio a tal seqüência de 4-3-3, quando o Zagallo já começou jogar. Se jogasse o Pepe, jogava pra frente, se fosse o Zagallo jogava fechando pro meio, então já existia isso daí sim.Cristian ?
Como é que foi a transição de ser um técnico de um time pequeno que fez uma boa campanha no campeonato paranaense pra ser o substituto do Tim, do Coritiba?Borba ?
Quando fui chamado ao Coritiba, em 79, eu tinha vivido alguns momentos importantes em clubes de pequena expressão. O fato de acabar o ano de 79 no Coritiba foi conseqüência do trabalho que havia iniciado no Guarapuava. Então era interessante o trabalho no Guarapuava porque quando fui para lá, sabia que teria que ir aos Estados Unidos no meio do ano, eu já havia assumido um compromisso com o professor Júlio Mazzei e com o Pelé para ir para o Cosmos de Nova Iorque fazer o trabalho de que eles faziam de acampamento que é no período de recesso escolar, que são as férias de verão. Então pra mim foi um drama ter que sair do Guarapuava, que vinha liderando por sete rodadas, quando chegou no momento crucial, tive que sair, porque já estava acertado. Eu fui e fiquei um período grande nos Estados Unidos e quando voltei foi um fato interessante, porque o Guarapuava estava disputando para não cair, no mesmo campeonato. Aí pateticamente, aliás o grande presidente que tive que foi o Élio Della Vechia, pedindo para voltar. E eu fui e aí dramaticamente conseguimos fazer com que o Guarapuava não caísse. Em seguida terminou o campeonato paranaense e vim para Curitiba e aí aconteceu um problema com o Tim que lamentei profundamente porque gostava dele sinceramente, sempre gostei, era meu amigo. O Coritiba foi jogar no Rio de Janeiro, num sábado à noite e perdeu. E aí na volta, no hotel em Copacabana, dispensaram o Tim. Só que na combinação de resultados de domingo, o Coritiba voltou, ficou dentro do campeonato. Aí o Zé de Oliveira vai lá em casa e fala: “Borba, você quer dirigir o Coritiba?” “Não, não quero (risos)”. Fui. O engraçado foi a reação do time que tinha que jogar em Pelotas, contra o Brasil, que o Krüger foi levar o time e quando voltaram de Pelotas, o Mazaropi, que era capitão do time, chegaram no aeroporto e foram direto pro estádio que eu fui apresentado, inclusive o Tim fez questão de ficar lá, ir no vestiário e me apresentar. Isso não é para qualquer um. O Mazaropi falou: “professor eu era o capitão do time até agora e quero simbolicamente entregar e deixar o senhor bem a vontade”.Cristian ?
E como foi a estréia?Borba
? No Coritiba eu tive sorte porque assumi o time e logo no primeiro jogo nós ganhamos por 5 a 0. Em seguida veio o clássico com o Colorado no meio da semana e vencemos por 1 a 0. O único jogo que nós perdemos nesse ano foi para o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte por 1 a 0 e depois foi a decisão da última vaga para a final do Brasileiro, no Maracanã. Nós não perdemos essa partida para o Vasco, nós fomos roubados. Aliás se nós tivéssemos vencido a partida realizada em Curitiba, que foi a única que não ganhamos em casa, com 54 mil pessoas no Couto Pereira, seria diferente.Xavier
? E ainda tem aquele papo das estatísticas, falando da colocação final do Coritiba nesse campeonato.Borba
? São duas coisas. Na estatística o pessoal não põe esse jogo. E a crônica esportiva cansou de falar que o Coritiba tinha sido quarto colocado no brasileiro daquele ano. Precisou uma publicação nacional ter dito que o time tinha ficado em terceiro, para que o pessoal adotasse essa informação como válida. Na partida contra o Vasco no Couto Pereira, o placar foi de 1 a 1. E o time do Vasco era muito forte. Tinha Leão, Orlando Lelé, Roberto Dinamite, Zé Mário e outros, mas o Coritiba também tinha um timaço e poderia ter ganho a partida no Rio de Janeiro. Lá o placar foi de 2 a 1, com um gol irregular.Xavier
? Teve um acontecimento, em Campina Grande (PB), antes da partida da semifinal contra o Vasco, que inclusive o Evangelino comentou durante a entrevista dele, que foi muito interessante. O que aconteceu?Borba
? Nós fomos jogar em Campina Grande e na verdade a Campinense era a sensação do campeonato até o momento, porque todo o time grande que ia jogar lá, saía derrotado. Quando nós chegamos lá, já tivemos a notícia de que o hotel em que iríamos ficar não podia mais ser utilizado, porque a equipe do Campinense estava instalada no lugar. Descemos do ônibus no meio do povão e fomos correndo até outro hotel. Lá no hotel acho que nos serviram algum mamão estragado porque no outro dia, eu e o Dionísio passamos mal, o dia inteiro no banheiro. Tivemos um dia de rei. Tava tudo ruim, mas mesmo assim fomos pra partida. Sabia que o time deles tinha os dois laterais como peças fortes no campo então arrumei um esquema para bloquear a subida dos laterais e fomos segurando o ímpeto deles na partida. Quando terminou o primeiro tempo, estava empatado em 0 a 0. E esse resultado nos favorecia. No começo do segundo tempo, não sei porque o Evangelino estava no banco, na beira do gramado. Dentro daquilo que eu já falei que sempre troco idéias com quem estava no banco. E o meu preparador físico era o Vidal Peres. Cheguei pra ele e comentei que iria fazer uma mudança. E ele me falou que se pusesse o Bráulio, ele seguraria o empate, que era favorável ao nosso time. E quando o Vidal ia chamar o Bráulio, eu me antecipei e chamei o Peninha. O Vidal ficou doido, mas pior ficou o Neves. Cheguei para o Peninha e falei sobre o lateral que estava correndo forte no começo da partida, mas agora está voltando andando. E foi o seguinte. Espera para roubar a bola e correr em cima do lateral. O Peninha entrou, cometeu a falta e levou um cartão. Nessa altura o Neves já xingava todo mundo, estava nervoso. Ele não gostava muito dos jogadores oriundos das categorias de base do Coritiba. Esses jogadores sofreram muito com ele. Daí, em uma daquelas investidas dos laterais, roubamos a bola, e o Aladim meteu a bola em diagonal, o Peninha partiu em velocidade, o zagueiro saiu, o Peninha tocou pra trás e o Luis Freire do jeito que a bola chegou, encheu o pé e marcou o gol. E depois que a bola entrou, todo mundo comemorou, inclusive o Neves. Depois disso, o Bráulio entrou para segurar a partida. E nesse jogo nós classificamos para a semifinal. Estava o Palmeiras, o Internacional e o Vasco. E quando nós voltamos para Curitiba, eu nunca tinha visto nada parecido. O aeroporto estava completamente tomado. E poucas vezes isso tinha acontecido. Era a classificação de um time que tinha saído do fundo do poço e veio pras cabeças. Nós jogamos contra o Vasco e o Internacional contra o Palmeiras. Tivesse cinco vagas na Libertadores, nós estaríamos classificados. Não tivessem nos roubado no Maracanã teria sido a primeira vez que um time paranaense chegaria em uma final de brasileiro.Cristian
? E você lembra o árbitro da partida contra o Vasco?Borba
? Foi o Roberto Nunes Morgado, mas foi o bandeirinha que errou. A bola foi para o Roberto Dinamite, que estava no meio da zaga, mas estava impedido. Ele parou sozinho e marcou. Nós conseguimos empatar em uma cobrança de escanteio e o jogo estava pau a pau. No Maracanã tinha mais ou menos cem mil torcedores vascaínos. E teve o outro lance, pela esquerda, em que o Paulinho recebeu sozinho, partiu e marcou o gol. Mas naquela altura dos acontecimentos eu confesso que a glória de ter feito o Coritiba sair de onde saiu, e ter chegado nas semifinais, foi a melhor colocação de todos os tempos antes do título de 85.Fachinello
? Você falou e citou que os gaúchos se dão muito apoio em termos de treinadores. Você também falou do Levir Culpi que foi um jogador que você deu oportunidade e depois também como treinador fez isso por ele. O que você sente com relação a isso? Como foi o episódio que você teve com o Levir?Borba
? Na verdade, abrir feridas que estão cicatrizadas, não sei se vai fazer bem pra mim e nem pra ninguém. Com o Levir eu tive uma decepção. Só vou dizer o seguinte: ele não se tornou o grande treinador que é somente porque eu dei uma oportunidade para ele. Mas todo começo é difícil e me lembro como se fosse hoje quando ele terminou de jogar e foi até Florianópolis, onde eu trabalhava com o Figueirense, pedindo alguns jogadores e eu não tive dúvidas em ajudá-lo, logo que ele assumiu o cargo de treinador. E, lamentavelmente, anos mais tarde, em uma ocasião que ele era treinador do Coritiba, fiquei sabendo que ele já tinha deixado o time e que na procura por um treinador, ele havia dito que eu não seria uma boa escolha para substituí-lo porque eu não parava em lugar nenhum. Fiquei sabendo disso por um repórter, que trabalha até hoje. Nunca tive a oportunidade de dizer isso e sempre guardei mágoa por causa disso, porque o mínimo que eu poderia esperar era que a recíproca seria verdadeira. E não é só isso. O Levir, quando eu assumi o Coritiba, em 69, que ele era juvenil, ele e o Dirceu ganhavam mal e comprei uma briga com o Neves, pedindo aumento para alguns jogadores.Xavier
? Porque você acha que criou essa fama de que não parava em nenhum lugar? Borba ? Quero deixar bem claro uma coisa que se confunde muito. A questão de você ter a personalidade de ser contestador e da história de ser mercenário.Xavier
? Você sabe dessa fama e conviveu com ela.Borba
? Essa fama tem muito a ver com a falta de colaboração que você tem atrás, de gente da crônica que deve ter entendido a coisa de maneira diferente. Na hora que era pra cair, tem sempre gente dizendo que tem que sair. Quando trabalhava em Maringá, eu pensava que ganhava 400 mil cruzeiros, porque era o trato que eu tinha com o presidente, só que eu não recebia. E me lembro que a minha família foi passar férias escolares lá e eu tive que ficar um dia inteiro no clube, esperando para ver se podia pegar um vale para sair. Esse time em que fiquei cinco meses sem receber salário foi o primeiro a se classificar para o quadrangular final do Paranaense. Acontece que teve uma ironia do destino. Nós viemos jogar contra o Atlético, aqui, e vencemos por 3 a 0 ou 3 a 1, e no domingo, o Coritiba jogou contra o Colorado e perdeu. O técnico do Coxa era o Osvaldo Brandão, aquele que não me deixou treinar lá atrás, em São Paulo. E daí, o Neves foi até a minha casa, e nós negociamos para trabalhar no Coritiba. E falei que queria ganhar o que eles estavam pagando para o Brandão. Na hora eles falaram que eu estava louco, o salário era de um milhão e oitocentos. Negociamos e daí na hora de decidir o primeiro turno, o jogo foi em Maringá. Nós fomos lá e ganhamos de 1 a 0. Tinha mais ou menos 25 mil pessoal no estádio. Então vejam só, ninguém queria saber quem pagava as contas e esse é o problema. E, nisso, acho que a crônica poderia ter entendido mais a minha posição, mas eles aproveitavam essas brechas e me detonavam, por isso que fiquei com essa fama. Mas como eu já disse no começo da entrevista para vocês, faria tudo de novo, do mesmo jeito.Cristian
? Voltando a 1980, dá para contar o que aconteceu nas horas que antecederam e durante a partida da final contra o Colorado, quando você dirigia o Cascavel?Borba
? Vou começar pelo fim.Xavier
– No caso do título dividido.Borba
– Aí que foi uma imoralidade. Disse que iriam se passar duzentos anos e quando alguém apontasse para o ano de 1980, não iam conseguir apagar que o Cascavel foi campeão paranaense. Então seria uma extraordinária sacanagem se o Cascavel não fosse o campeão. E eu vou lançar um livro em breve, “A bem da verdade”, onde vou fazer pesquisa, procurar fatos, números, e aí vou mostrar como se desenrolou esse campeonato. Foi um campeonato longo, acho que com quatro turnos, vinte equipes, e começou com uma falha dos dirigentes. Na época eu estava de volta ao Guarapuava, por um dever de gratidão ao meu amigo, e nós estreamos no campeonato contra o Cascavel, e logo de cara levamos uma porrada, acho que 3 a 1. E não sei o que aconteceu, que o Nelso Vetorello se encantou comigo e com o jeito que o Guarapuava jogava. Em um jogo que nós íamos fazer em Ponta Grossa o telefone do hotel não parava de tocar, e era o Vetorello insistindo para eu ir para Cascavel. Disse que depois da partida fora de casa, a gente conversava. Cheguei de madrugada em Guarapuava, depois do jogo, e o telefone de novo, não parava de tocar. Mas eu já tinha comunicado ao Guarapuava a proposta do Cascavel. O dirigente me falou para ir até lá e conversar com o Vetorello, já que era folga do Cascavel. Se não desse certo, eu voltaria e estaria tudo numa boa. Acabei acertando com o Cascavel e o time começou a ganhar. E aí conquistamos o primeiro campeonato da história. O regulamento da competição, dizia que o campeão do primeiro turno, acontecesse o que quisesse depois, ele iria disputar o quadrangular final, porque eles pensavam que em cada turno, um time sairia campeão. E quando o Cascavel começou a ganhar, os outros times perceberam que se isso acontecesse, só um time ganharia mais de um turno, e daí mudou a fórmula. Quero que entendam o que foi o regulamento. A partir disso, quero pegar uma análise da época, e vocês vão perceber que o Cascavel tinha uma das melhores defesas do campeonato, mas tinha indiscutivelmente o melhor ataque e o artilheiro da competição, que era o Paulinho Cascavel. Quando foi lá pelo segundo, daí o pessoal queria detonar o Cascavel. Teve um jogo em que fomos em Londrina, onde nos 30 minutos do primeiro tempo, eu tinha 10 homens em campo. E isso acabou se tornando rotineiro nas partidas. E daí comecei a exercitar uma coisa que já dizia. Tinha 10 homens, mas montava um esquema em que não era preciso fazer uma alteração. Mas não conseguiram detonar com o Cascavel. Dando um salto, não me lembro bem do segundo e do terceiro turnos, que na verdade não me diziam respeito.O título dividido O campeonato paranaense de 1980 foi o mais tumultuado da história. Antes da decisão de dividir o título entre Colorado e Cascavel, outras histórias agitaram o futebol estadual, e para Borba Filho uma delas explica muito do que aconteceu depois. Antes do quadrangular final da competição, a revista Placar denunciou a formação de um pacto entre Federação, Coritiba e Atlético para que ambas as equipes disputassem (através de uma fusão) a Taça de Ouro – equivalente do campeonato brasileiro – de 81. Como o Londrina, como campeão de Taça de Prata do ano anterior, estava garantido, a manobra prejudicaria exatamente o Cascavel, que disputava o quadrangular com o Tubarão, o Colorado e o Pinheiros. “A fusão seria um trégua entre os dois times, além de garantir o Maringá e o Cascavel na Taça de Prata”, disse à época o presidente de Federação Luiz Gonzaga da Motta Ribeiro. “Ali eu percebi que não queriam que o Cascavel fosse campeão”, conta Borba Filho. No dia da final, o então técnico do Cascavel chegara com a intenção de garantir, de qualquer forma, o título paranaense. “Eu estava disposto a tudo, até o limite da lei”, comenta. Daí a decisão de promover o ‘cai-cai’. “O Motta Ribeiro falou logo depois do jogo que o Cascavel não iria para a Taça de Ouro”, relembra. Como a CBF garantiu a presença, a Federação dividiu o título. “Foi o ápice da sujeira feita com o Cascavel”, finaliza Borba. |
Fachinello – Quais eram os times no quadrangular final?
Borba
– Colorado, Cascavel, Coritiba e Londrina. Chegou uma fase em que reuni os jogadores e falei pra nós usarmos bom senso. Vamos falar com o dirigente do time e dizer que nós não queremos mais o bicho que ele está pagando, senão ele vai quebrar, e vamos acabar matando a galinha dos ovos de ouro e nós estaremos mortos. Porque ele, no entusiasmo, viu que o time começou a deslanchar, ele dizia que o prêmio era de mil reais se nós ganhássemos outra partida. E se continuasse assim, o homem iria quebrar. Quando nós fomos conversar, ele ergueu as mãos para o céu, porque estava cumprindo com o combinado, mas estava difícil conseguir pagar os bichos. E isso serviu pra unir mais o time. Outro detalhe é que quando foi na final, o Cascavel, por tudo o que ele tinha feito durante o campeonato, para não ser campeão teria que perder de cinco gols de diferença. Era praticamente impossível. E mesmo nos momentos ruins que nós tivemos na competição, que foram poucos, tínhamos perdido por apenas um gol de diferença. E em nenhum jogo deixamos de fazer gols. Então partindo desse pressuposto, o Colorado ia ter que ganhar de 6 a 1, porque pelo menos um gol nós iríamos fazer. Aí veio a história da decisão. Nesse quadrangular, no penúltimo jogo, era no domingo à tarde, em Cascavel, contra o Pinheiros. Daí o Bráulio Zanotto se sentiu ameaçado lá, por causa de um fotógrafo, e ele parou a partida, dizendo que não ia ter mais nada e o Hélio Alves muito esperto, colocou o time no ônibus e se mandou. Mas acabaram cercando eles na estrada e fizeram eles voltarem. Nós iríamos jogar na quarta-feira, em Toledo. Eles queriam de alguma maneira detonar o Cascavel. Depois da partida em Toledo, nós viemos direto para Curitiba, ganhamos de 3 a 1. Quando cheguei em Curitiba, comecei a perceber que existia um ambiente que estava proporcionando condições para que esse jogo fosse anormal. No hotel, na sexta-feira, chamei três jogadores para conversar, Maurinho, Moacir e Marcos, e disse que nós iríamos ter dificuldades na partida. Que não deixariam a gente levar o título naturalmente. Daí expliquei a eles o que pretendia fazer caso acontecesse algo anormal no jogo.Xavier
– E o que você disse que iria fazer?Borba
– Disse que se o jogo fosse descambar, não deixaria terminar. Mas nem o preparador físico, que era o Joel de Locco, ficou sabendo da história. Quando começou a partida, o banco ficava ao lado do gol, e logo na primeira bola, o time do Colorado nervoso. E em uma jogada, em uma bola alta na área, e o Zico saiu para pegar, foi empurrado e a bola entrou no gol. Houve a irregularidade, com falta no goleiro, mas o gol foi validado. Aí o Marcos, que era um dos mais experientes, buscou a bola dentro do gol, e segurou depois da pressão dos jogadores do Colorado, e acabou sendo expulso. Nós tomamos um gol com falta e estávamos com um jogador a menos. E teve outro lance, que o Caxias foi lançado e estava em posição irregular, eu levantei para reclamar e o Tito Rodrigues me expulsou também. Isso com 15 minutos de jogo. E em seguida o Colorado fez outro gol, que pra mim é um lance duvidoso até hoje. Bem, um dos planos que tinha traçado, era que se houvesse sacanagem, eu iria fazer alterações, queimando a regra. Coloquei o Maurinho, ele foi expulso. Ficamos com nove jogadores. Cada lance que o nosso time ia para o ataque, o bandeira marcava impedimento. Foi o período mais angustiante pra mim, até o final do primeiro tempo, que estava 2 a 0. No intervalo eu iria promover mais uma substituição para a partida não terminar. A saída de bola era nossa. Falei para o Zico mandar a bola pra frente e cair. O Dudu, que já tinha saído, não podia voltar. E não tinha mais substituições a fazer. Quando o Zico caiu até o mais tolo espectador do estádio sabia o que iria acontecer. Não haveria mais jogo. Aí o Colorado deu a volta olímpica, faixas, e tudo mais. E daí tenho feito algumas pesquisas sobre as reportagens, para montar o livro e vi que o juiz disse que o Cascavel não queria jogar. Um segundo detalhe é que quando o problema foi para o Tribunal de Justiça Desportiva, constataram que nem o Dudu e nem o Zico tinham condições de jogo. Mas aí lá fui eu para o tribunal. E um dos juizes dizia que eu tinha feito sacanagem e que não queria jogar. Eu me defendi e disse que para ele analisar o código do campeonato e ver o que estava sendo errado. Se eu quisesse ferrar com o campeonato, era só não ter vindo em Curitiba que o Cascavel era o campeão, de acordo com o regulamento. Que se um time não comparecesse, o outro ganharia dois pontos. E se fosse somado os pontos totais do campeonato, mesm