O Bom Senso FC nasceu no fim de setembro a partir de cinco propostas centrais: calendário, férias, pré-temporada, Fair Play Financeiro e participação dos atletas nos conselhos técnicos das entidades que administram o futebol. A princípio, a política não fazia parte da pauta do movimento, mas, passados dois meses de sua fundação, a união dos atletas mexeu com as estruturas da cartolagem e pode provocar mudanças profundas no jogo político que rege a CBF – a eleição para presidente está marcada para abril.

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Ao pedir mudanças no calendário, e consequentemente nos Estaduais, o Bom Senso mexeu em um tema que rende – e muito – votos. Para atender os atletas, que têm forte apelo popular e ganharam o apoio da torcida com seus protestos antes dos jogos, a CBF teria de desagradar os presidentes de federações, que formam a maior parte do seu colégio eleitoral, composto por 47 pessoas: 27 presidentes de federações e 20 presidentes de clubes da Série A do Brasileiro.

A estratégia do presidente José Maria Marin e de seu vice e fiel escudeiro Marco Polo del Nero, então, foi tratar apenas do Fair Play Financeiro e “empurrar com a barriga” o tema calendário a fim de não perder votos. O problema é que o Bom Senso não se deu por satisfeito e ameaça fazer greve se as suas reivindicações não forem atendidas, aumentando ainda mais a pressão em cima da CBF.

Por outro lado, as federações exigem da entidade o compromisso de que os Estaduais sejam mantidos do jeito que estão. Sem respostas para os dois lados, Marin e Del Nero permitem que a oposição, capitaneada por Andrés Sanchez (ex-presidente do Corinthians) e Francisco Novelletto (presidente da Federação Gaúcha), ganhe terreno e se articule para chegar com mais força no pleito de abril.

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Chegou-se até a se cogitar a possibilidade de a eleição ser antecipada para janeiro, a fim de atrapalhar os planos da oposição – o estatuto da CBF diz apenas que o pleito precisa ser realizado no ano anterior ao fim do mandato e não estipula uma data fixa. Marin garante que isso não passa pela sua cabeça e que sua prioridade é não prejudicar os preparativos para a Copa do Mundo. “Vou cumprir o estatuto da CBF. A eleição está marcada para abril e será em abril. Eu tenho uma Copa do Mundo para entregar é isso que vou fazer”, alega.

Hélio Cury, presidente da Federação Paranaense, é um dos cartolas que pendem para o lado da oposição. “Já fui procurado pelo Rubinho (Rubens Lopes da Costa Filho, presidente da Federação do Rio de Janeiro), o Novelletto e o Andrés Sanchez”, admite.

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Principal articulador do bloco de oposição, Sanchez enfrenta enorme resistência por ser ligado ao Corinthians. Ele, então, resolveu abrir mão de sua candidatura para apoiar um nome que possa atrair mais eleitores. Novelletto é o mais cotado, mas Rubinho também é visto com bons olhos.

O grupo de indecisos é grande. E é sobre esses eleitores que tanto Marin como a oposição concentram os seus esforços. Ednaldo Rodrigues, presidente da Federação Bahiana, é um dos alvos de disputa dos dois grupos. “Quero aguardar as propostas que possam ter os candidatos para melhorar o futebol do Norte e do Nordeste. Hoje, é como se Norte e Nordeste não existissem.”

As duas regiões representam atualmente 19 votos (16 federações e três clubes). O número pode variar de acordo com o acesso ou descenso de times na Série A.

De olhos nesta importante fatia do eleitorado, a CBF promoveu neste ano a Copa Nordeste e em 2014 passará a organizar a Copa Verde, que terá a participação de 16 clubes de 11 estados. A ideia de criar a Copa Verde foi de Del Nero, como aliás foi dele também a iniciativa de levar a Chevrolet para patrocinar nada menos do que 20 campeonatos estaduais este ano. “Com a Copa Verde estamos dando emprego a milhares de pessoas e dando atividades para clubes e jogadores”, gaba-se Marin.

Isso, no entanto, não é suficiente para garantir o voto de Rodrigues, por exemplo. O baiano pede mais garantias a Marin. “Reconheço que ele está olhando para nós, consolidou a Copa do Nordeste e criou a Copa Verde. É um avanço, mas queremos uma solução de continuidade, um calendário estratégico de longo prazo, para a gente poder chegar no patrocinador e dizer: ‘Hoje temos a Copa do Nordeste e daqui a cinco anos continuaremos a ter'”.

Confetes

Mas se tem gente que não se dá por satisfeita, outros são só elogios à dupla Marin-Del Nero. É o caso de Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana. “Somos muito leais e o Marin atendeu a todas as demandas do Nordeste. Ele mudou as Séries D e C do Brasileiro sem nenhum questionamento. O mesmo aconteceu quando buscamos apoio para criar a Copa do Nordeste. Não entendo, dentro da ótica da lealdade, como uma federação do Norte ou do Nordeste pode trair esses compromissos e deixar de reconhecer a evolução que a gente teve com ele”, diz.

Além da criação de novos campeonatos, a CBF agrada o seu eleitorado com alguns mimos. É comum Marin levar presidentes de federações e de clubes para acompanhar jogos da seleção no exterior. A partir desta segunda-feira, os presidentes de federações desembarcarão na Costa do Sauipe, litoral norte da Bahia, para acompanhar o sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Todos ficarão hospedados em um luxuoso resort.

O Bom Senso acompanha cada passo da entidade. O zagueiro Paulo André, do Corinthians, um dos líderes do movimento, já avisou que o grupo não apoiará nenhum candidato, mas faz questão de participar do debate. Os atletas querem saber as propostas dos candidatos e sonham que o futuro presidente tenha visão e preparo não só para só organizar as Séries A e B do Campeonato Brasileiro e cuidar da seleção, mas, principalmente, para conduzir o futebol brasileiro. Por enquanto não apareceu ninguém com esse perfil.