Após se tornar o maior nome do atletismo e um dos maiores do esporte ao fazer história com inúmeros títulos mundiais e olímpicos, além de estabelecer os recordes do planeta dos 100 e dos 200 metros, Usain Bolt está prestes a dar adeus às pistas. O primeiro capítulo desta despedida virá nesta sexta-feira, quando o jamaicano participará das eliminatórias da prova mais rápida da modalidade no dia inicial de disputas do Mundial de Atletismo de Londres.

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De volta à cidade onde conquistou três ouros olímpicos nos Jogos de 2012, o astro sabe também que está deixando um legado de glórias para todos os competidores, entre eles os muitos que deixou para trás em quase todas as competições que disputou. O domínio que impôs aos rivais foi tamanho que faz com que o velocista admita que hoje não é capaz de eleger um possível “sucessor” que poderia passar a dominar o cenário das provas em que se consagrou ou que poderia se tornar o novo principal nome em atividade na modalidade.

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Ao ser pressionado pelos insistentes jornalistas nesta semana sobre quem poderia herdar o seu trono de “rei do atletismo”, porém, Bolt apontou o sul-africano Wayde van Niekerk como um competir que ao menos ele vê como dono de um grande desejo de assumir a condição de maior protagonista nas pistas. Essa condição estará em jogo após a muito próxima aposentadoria do homem mais rápido do mundo, que começará logo depois do fim de sua participação neste Mundial de Londres.

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“Uma pessoa que eu sei que vai se aproximar e está indo muito bem é Van Niekerk, que está realmente mostrando que quer muito assumir o meu lugar”, afirmou Bolt ao falar sobre o atleta que conquistou a medalha de ouro da prova dos 400 metros nos Jogos Olímpicos do Rio, no ano passado, quando ainda quebrou o recorde mundial da distância.

E o velocista sul-africano chegou à capital inglesa com uma série de outras credenciais que o colocam como sério candidato a se tornar um dos maiores nomes deste Mundial. Além de ser o detentor do recorde do planeta nos 400 metros, possui o melhor tempo da história dos 300m, prova não olímpica que raramente é realizada, e é o dono da segunda marca mais rápida do ano nos 200m e a sexta dos 100m, que foi de 9s94, superior aos 9s95 que garantiram o ouro ao Bolt nesta disputa na etapa de Mônaco da Diamond League, última competição de preparação do jamaicano para o evento maior desta temporada.

Van Niekerk não estará presente na corrida por medalhas nos 100m deste Mundial, mas correrá os 200m e os 400m. E a ausência de Bolt nos 200m, após o astro optar por disputar apenas a prova mais veloz do atletismo e o revezamento 4x100m com a equipe jamaicana em seu adeus às pistas, aumentou de forma expressiva a chance de o sul-africano se consagrar com dois ouros nas duas disputas em que competirá.

O sul-africano de 25 anos de idade, porém, admite que não tem uma característica que sobra a Bolt e o ajudaria a ser visto como um novo astro do atletismo: o carisma. “Eu acho extremamente difícil chegar perto sequer um pouco do que Usain representa de várias maneiras também por todo o seu carisma”, afirmou o sul-africano, para depois enfatizar que o jamaicano “colocou a barra muito alta” ao atingir um nível de popularidade que parece hoje impossível de ser igualado por qualquer outro atleta desta modalidade.

Mas, se por um lado não é cativante para o público, por outro Van Niekerk vem mostrando que pode ser capaz de atingir grandes feitos nas pistas, como foi a própria quebra do recorde mundial dos 400m, que pertencia ao lendário ex-velocista norte-americano Michael Johnson desde 1999 e parecia inatingível. Naquela ocasião, nos Jogos do Rio, ninguém apostava no sul-africano, mas ele disparou em um dos maiores sprints da história olímpica para não dar chances aos seus concorrentes e ainda estabelecer a nova marca do mundo na distância, de 43s03.

O recorde mundial dos 200 metros que Bolt conquistou, de 19s19, também é visto como praticamente inatingível, mas Van Niekerk acredita que é possível superá-lo. “Há um bom tempo eu deixe de crer que não há nada imbatível”, ressaltou.

O status do sul-africano neste Mundial de Londres também aumentou por causa de ausências de peso confirmadas às vésperas da competição, como por exemplo a do britânico David Rudisha, que foi medalhista de ouro dos 800 metros nos Jogos de 2012, quando também quebrou o recorde mundial da distância. Ele não poderá voltar a competir em casa aos olhos dos seus fãs por causa de uma lesão muscular.

E existia a expectativa também de que o canadense Andre De Grasse se tornasse o primeiro ganhador da prova dos 200 metros do Mundial após nove anos de reinado de Bolt na distância, mas na última quarta-feira o velocista anunciou a sua desistência da competição por motivo de lesão.

Aos 30 anos, Bolt disse que a sua própria idade conspirou para que ele não pudesse construir uma rivalidade nas pistas com Van Niekerk, o que o astro lamentou. “Isso é uma das coisas mais decepcionantes: que ele apareceu tão tarde que não pude ter a oportunidade de competir contra ele”, admitiu o homem mais rápido do mundo, que nesta sexta-feira irá para a pista nas eliminatórias dos 100m às 16h20 (de Brasília), quando correrá pra confirmar vaga nas semifinais de sábado, quando também ocorrerá a grande final da prova em Londres.