O presidente da Fifa, Joseph Blatter, se disse surpreso com o pedido de demissão do investigador que compilou 200 mil páginas de provas contra a Copa do Catar em 2022. Horas depois de Michael Garcia anunciar que estava deixando a entidade, nesta quarta-feira, Blatter foi perguntado sobre o assunto e prometeu se posicionar nos próximos dias.
“Nós acabamos de receber esta informação. Eu não posso fazer qualquer comentário. Eu vou fazer isso amanhã (quinta) com o Comitê Executivo”, disse o dirigente, que, pressionado pela imprensa, continuou: “Estou apenas surpreso. Isso é tudo que posso dizer. Apenas isso”.
Garcia citou uma “falta de liderança” no comando da Fifa no comunicado em que anunciou sua saída nesta quarta. Seria um ataque direto a Blatter, que foi interpelado pela imprensa em Marrakesh, no Marrocos, onde está acompanhando o Mundial de Clubes.
O investigador Michael Garcia decidiu se demitir ao ver que seus argumentos na acusação de corrupção na escolha do Catar para sede da Copa de 2022 foram ignorados e que a Fifa se recusa até mesmo a aceitar um recurso seu para reavaliar o caso. A decisão é um terremoto para a entidade que, nos últimos meses, tentou passar uma imagem de que estava se reformando e julgando corruptos.
Garcia deixou claro que a cúpula da Fifa não o permitia fazer esse trabalho. Ele indicou que perdeu esperanças de que seus argumentos sejam pelo menos considerados e que a Fifa de fato queira mudar sua cultura da corrupção. “Nenhum comitê independente, investigador ou painel de árbitros pode mudar a cultura de uma organização.”
Há um mês, o juiz supostamente independente da Fifa, Hans Joaquim Eckert, declarou que não existiam provas suficientes para dizer que o Catar havia comprado a Copa, depois que Garcia realizou dois anos de investigações e produziu um informe detalhado sobre os incidentes de corrupção.
Revoltado com a decisão, Garcia decidiu entrar com um recurso depois de chamar as conclusões de “erradas e incompletas”. Mas, na última terça-feira, o caso foi encerrado. O Comitê de Apelação da Fifa “concluiu que o recurso é inadmissível” e usou brechas legais para abafar o caso.