Sem jogar desde agosto do ano passado, quando disputou o US Open, Thomaz Bellucci fará a sua volta às quadras nesta segunda-feira, no Torneio de Quito, depois de um período de cinco meses de angústia. Atualmente morando nos Estados Unidos, o tenista brasileiro recebeu uma suspensão de cinco meses após ser reprovado em um exame antidoping realizado em 18 de julho, quando disputava o ATP 250 de Bastad, na Suécia, onde foi eliminado na estreia.

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O caso foi mantido em segredo até o final de 2017, quando foi publicamente revelado o fato de que ele testou positivo para a substância hidroclorotiazida, proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), mas o brasileiro escapou de levar uma suspensão bem maior após alegar que ingeriu de forma não intencional um multivitamínico com contaminação cruzada. Ele enviou frascos deste produto para análise em laboratórios dos Estados Unidos e Canadá, que comprovaram a contaminação em diversos frascos. Para completar, fez exames de urina e cabelo, voluntariamente, para tentar provar a sua inocência.

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A Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês), porém, considerou que o paulista de Tietê teve a sua parcela de culpa no episódio e aplicou uma pena de cinco meses, que ele começou a cumprir a pena no dia 1ª de setembro de 2017 e se encerrou no último dia 31 de janeiro. Na maior parte deste período, ele ficou afastado do circuito profissional sob a justificativa inicial de que vinha se recuperando de uma ruptura do tendão de Aquiles, mas a suspensão o impediria de voltar mesmo que ele se recuperasse.

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“Pra mim foi um pouco angustiante ter ficado cinco meses sem participar de nenhum torneio. Desde que comecei a jogar profissionalmente, foi o maior tempo que eu fiquei longe das quadras. Pra mim foi até estranho, não viajar e ficar treinando todo este tempo, mas agora estou supermotivado de estar de volta. E eu não via a hora de jogar o primeiro torneio. A gente conseguiu usar este tempo também para a preparação e chegar da melhor forma possível a Quito”, afirmou Bellucci, em entrevista exclusiva ao Estado, concedida na semana passada, se referindo também ao período de treinos sob o comando de André Sá, seu novo técnico e que vai se aposentar das quadras neste mês.

Bellucci admite que não foi fácil lidar com um caso de doping no qual assegura ter ocorrido por culpa de quem lhe forneceu os suplementos contaminados com a substância proibida pela Wada. E ele garante que logo conseguirá até apagar este episódio de sua memória. “Com certeza tudo o que aconteceu foi um desgaste psicológico grande, já que, claro, eu não esperava que isso acontecesse. E na verdade nem foi por culpa minha, foi por uma irresponsabilidade dos outros. Isso pra mim pode ter causado até mais frustração por ter ficado tanto tempo parado. Mas eu consegui superar isso já e daqui alguns meses eu nem vou lembrar disso e isso vai ser uma página virada na minha carreira”, aposta.

Já ao ser questionado pela reportagem sobre como foi o tratamento que recebeu após o seu caso de doping ser revelado, ele assegurou: “Sobre a receptividade dos fãs, não achei nada negativa, teve muita gente que me apoiou, muitas pessoas próximas que me apoiaram. Eu acredito que isso não foi uma coisa tão negativa na minha carreira”.

“A parte mais difícil foi estar impossibilidade de poder fazer o meu trabalho. Ficar tanto tempo sem trabalhar, até pela questão financeira, foi difícil. E fiquei todo este tempo treinando, mas com a cabeça em outro lugar, então é difícil também lidar com tudo isso dentro da quadra. Mas agora já passou e isso já ficou para trás”, destacou.

PARCERIA COM SÁ – Bellucci voltará a jogar menos de uma semana depois de André Sá anunciar que vai se aposentar após os torneios que disputará no Brasil neste mês. E um dos motivos para isso será a necessidade de poder se dedicar mais ao seu novo pupilo, com quem vinha treinando em sua nova base em solo norte-americano, na Flórida.

“Tenho trabalho bastante alguns pontos aqui com o André nos Estados Unidos. Estou trabalhando mais forte ficar um pouco mais dentro da quadra, definir alguns pontos na rede… Neste giro no saibro (do circuito profissional) é um pouco mais difícil fazer isso, mas uma coisa que pode agregar bastante ao meu jogo é essa agressividade natural, que eu já tenho, e tirar um pouco mais de tempo do adversário (para pensar em como devolver as bolas), entrar mais na quadra e definir os pontos lá na frente”, ressaltou Bellucci, que também exaltou a importância da experiência de mais de duas décadas que Sá acumulou em 21 anos de carreira profissional.

“O André é um cara muito experiente, conheço o André há muitos anos no circuito. Acredito que ele pode somar bastante no meu jogo, tanto dentro quanto fora da quadra, no aspecto psicológico, pela experiência que ele tem de dar a volta por cima após derrotas e frustrações. Isso ele tem bastante experiência em me ajudar neste ponto, já que ele tem 20 anos de carreira”, completou.

METAS SEM PRESSA – Ao projetar seus objetivos para esta temporada, Bellucci também exibe otimismo, mas deixou claro que está projetando os mesmos sem pressa, pensando em alcança-los de forma gradativa.

“Minha meta dentro do curto prazo é voltar a ficar entre os 100 (do ranking). Mesmo estando agora entre os 110, a gente sabe que com um ou dois resultados grandes a gente consegue se estabelecer de novo entre os 100. E claro, depois, passo a passo, voltar aos 50 melhores e depois aos 30, que é um objetivo mais a longo prazo. Mas quem sabe a gente consiga fazer isso tudo no primeiro semestre ou até o final do ano. E acredito que tenho potencial, sim, de voltar à minha melhor forma, de quando eu conseguia me manter entre os 20 e entre os 30 do ranking”, disse Bellucci, para depois apontar que precisa atingir a mescla ideal entre boa fase técnica e equilíbrio emocional para poder atingir resultados expressivos.

“Falta ajustar algumas coisas no meu jogo, falta um pouco de confiança agora, voltar a jogar os torneios, voltar a ganhar os torneios e voltar a acreditar que eu posso chegar lá. Mas acredito que hoje estou até um jogador mais completo do que eu era naquela época. Talvez naquela época eu era um pouquinho mais destemido, um pouquinho mais imaturo, e isso até tinha um lado bom. Hoje em dia eu talvez até pense muito para jogar, mas isso também pode trazer coisas boas pelas experiências que eu já tenho no circuito”, enfatizou ao Estado.

E a volta de Bellucci às quadras não será em um jogo fácil. Em jogo previsto para começar por volta das 21h30 (de Brasília) desta segunda-feira, ele vai estrear no Torneio de Quito justamente contra o atual tricampeão do evento, o dominicano Victor Estrella Burgos, que derrotou o brasileiro nas últimas três edições do ATP 250 equatoriano, sendo uma delas na final, em 2016.

Mas este retrospecto negativo contra o rival não é nada perto da “fome” enorme que Bellucci está para voltar a disputar competições no circuito profissional, no qual ele poderá abrir 2018 já quebrando este tabu diante do adversário. Após atuar no Equador, Bellucci tem previstos neste seu giro de saibro as participações no ATP de Buenos Aires, no Rio Open e no Brasil Open, este último em São Paulo, no final do mês.