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Beira-Rio vai estar pintado de vermelho e preto amanhã.

O time do Atlético começou o treinamento de ontem sem saber onde jogaria a primeira partida da final da Copa Libertadores e terminou lamentando a confirmação de que terá que jogar em Porto Alegre mesmo. No entanto, o planejamento será mantido. O Rubro-Negro quer fazer valer o fator campo e transformar o estádio do Internacional em mais um caldeirão. Hoje, a delegação já embarca para a capital gaúcha e faz o último treinamento antes de enfrentar, às 21h45 de amanhã, o São Paulo.

"Lá vai ser o nosso local, nós estaremos como mandatário e não pode favorecer o São Paulo. Tem que favorecer a gente. Os jogadores já sabem disso e nós temos que nos portar como mandante, como time do local", analisa o técnico Antônio Lopes. Para o treinador, basta o time jogar como tem jogado na competição internacional para levar vantagem, mesmo atuando no Beira-Rio. "Vai depender muito da nossa postura, de como nós vamos entrar diante deles", aponta.

Para ele, o fator emocional vai ser preponderante e seus comandados estarão prontos. "Isso é sempre trabalhado. A preparação de uma equipe não é só físico, técnica e tática. A preparação psicológica também é importante e isso sempre é feito", destaca o Delegado. Mas, com a partida em Porto Alegre, isso muda um pouco. "Lógico que nós vamos ter que levar em consideração isso para poder motivar os jogadores", antecipa.

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Para os jogadores, a preferência, é lógico, era jogar em casa. "Não tinha nada demais em jogar na Arena. Se fosse assim, o São Paulo também não poderia jogar em casa porque também não tem segurança. Vocês viram o jogo contra o River e lá mostrou que o estádio não tem segurança", opina o meia Fabrício. De acordo com ele, a Arena é totalmente segura e não deveria ser vetada. "A diretoria agiu, fez a parte dela, colocou os 40 mil lugares. Se for no Beira-Rio também vamos jogar como se fosse na Arena", garante.

Entre os atletas, ficou a impressão de respeito dos sãopaulinos ao veto da Arena e da exigência de arbitragem estrangeira para comandar a partida. "O São Paulo é uma grande equipe, vai ser um jogo bom, jogo difícil e vai ser resolvido dentro de campo", conclui o lateral-direito Jancarlos.

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Lopes não dá pistas ao São Paulo

Nem sob os olhos atentos de uma equipe de tevê japonesa o técnico Antônio Lopes abriu o CT do Caju para a imprensa. Em clima de decisão e já levando em conta o local do confronto de amanhã contra o São Paulo, o treinador escondeu o jogo e já adiantou que vai ser assim até o segundo confronto contra os paulistas pela final da Copa Libertadores da América. A única dúvida na equipe continua sendo o atacante Aloísio, que se machucou na partida contra o Chivas Guadalajara e está em tratamento.

"É preciso privacidade. É aquilo que eu digo sempre, não tem mais ninguém bobo, todo mundo trabalha assim, trabalha com informações, com espionagem. Então, lógico, o adversário de lá está procurando saber tudo da gente", justifica o Delegado. Segundo ele, as lentes das emissoras de tevê e câmaras dos jornais podem ajudar a passar informações para o São Paulo. "A gente tem que ter cuidado. Nós também estamos nessa expectativa e ficamos procurando através da televisão, rádio, internet, eles também ficam", explica.

Por isso, como ele estava armando a equipe para enfrentar o tricolor paulista, o mistério no CT. "Nada melhor do que, quando se vai fazer um trabalho especial, você procurar esconder e privar a imprensa porque a imprensa sabe tudo e tem jornalistas e analistas que conhecem bem o futebol. Tudo aquilo que você trabalha eles falam detalhadamente e colocam no jornal", aponta.

Assim, nem a TV Nippon conseguiu gravar os treinamentos. Na verdade, os japoneses foram até o CT do Caju fazer uma matéria especial com um dos times que poderá disputar o mundial da Fifa em dezembro. O restante da imprensa foi conferir como o Furacão estará para enfrentar o São Paulo. De longe, deu para ver pouco. Quando a cancela foi aberta, os jogadores já estavam no alongamento e em cobranças de falta, mas nada de ensaios.

De qualquer forma, a equipe não deverá ter surpresas. Novamente, o atacante Aloísio fará tratamento até amanhã para saber de joga. Se não tiver condição Cléo entrará em seu lugar.

Cincão em Porto Alegre

Gisele Rech e Carlos Simon

Dos males o menor. Se ontem a nação rubro-negra lamentou a confirmação do primeiro jogo da final da Libertadores, amanhã, às 21h45, para o Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, ao menos terá que desembolsar apenas R$ 5,00 para acompanhar a partida nas arquibancadas. O ingresso de cadeira custará R$ 15,00.

No início da noite de ontem, o supervisor do Atlético, Alberto Maculan, confirmou os valores dos ingressos e a abertura das bilheterias da Arena para as 10h de hoje. "Os ingressos para a torcida atleticana serão vendidos em Curitiba e também em Porto Alegre", disse. A carga total não foi definida, já que vai depender da procura da galera do Furacão. "Se tiver que colocar 50 mil à venda, coloremos". Em reunião marcada para as 9h de hoje, a diretoria do Atlético se reúne com representantes das torcidas organizadas para decidir a cessão gratuita de ônibus para a viagem a Porto Alegre.

Já os são-paulinos terão apenas 2 mil ingressos, que só poderão ser adquiridos no Morumbi.

A redução considerável do preço – se a partida fosse na Arena, custaria no mínimo R$ 30,00 -, é justificada pela necessidade de deslocamento dos torcedores para Porto Alegre. Como o jogo é no meio de semana, o mais interessante seria uma viagem de avião. Só que o preço mínimo da passagem pela companhia mais acessível é de R$ 208,00. Ida e volta sai por R$ 416,00. Se a opção do torcedor for viajar de ônibus convencional, terá que desembolsar R$ 71,00 – R$ 142,00 ida e volta.

Há ainda as opções de seguir em excursões das torcidas organizadas, com o custo bem menor. Os Ultras colocarão, inicialmente, 15 ônibus à disposição dos torcedores, ao custo de R$ 30,00, com ingresso incluído. A excursão sai de Curitiba amanhã, às 6h, com previsão de chegada em Porto Alegre às 18h. O Esquadrão da Torcida Atleticana (ETA) também cobrará R$ 30,00, já com o ingresso, e as vendas também acontecem no Prajá, em frente à Baixada. Os Fanáticos definem hoje o valor e a quantidade de ônibus que serão disponibilizados.

O ETA também marcou para as 12h30 de hoje, no Aeroporto Afonso Pena, uma manifestação de apoio ao elenco atleticano, que às 14h embarca para Porto Alegre.

Reunião

Está marcada para às 15h de hoje uma reunião entre diretores do Atlético, do São Paulo e do Inter, em Porto Alegre, para definir detalhes como a disposição das torcidas no Beira-Rio, a situação dos proprietários de cadeiras no estádio e a venda de ingressos na capital gaúcha. Detalhes de segurança começam a ser debatidos hoje, entre os governos dos estados do Sul e de São Paulo. A maior preocupação é evitar um confronto entre torcedores atleticanos e são-paulinos no caminho a Porto Alegre e, principalmente, no retorno. De acordo com o coronel João Carlos Trindade, da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Rio Grande do Sul, haverá escolta desde São Paulo e Curitiba, e serão tomadas medidas de precaução, como proibir que as caravanas parem nos mesmo locais.

Atlético perde a batalha e jogo vai ser no Sul

Carlos Simon

O Atlético perdeu a árdua batalha de bastidores para sediar o primeiro jogo da final da Copa Libertadores. A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) confirmou oficialmente ontem que a partida entre o Furacão e o São Paulo, às 21h45 de amanhã, será realizada no Beira-Rio, em Porto Alegre. A entidade alegou que haveria riscos à segurança do público e ignorou o esforço rubro-negro para adequar a Arena à capacidade de 40 mil lugares – mínimo exigido pela entidade para os jogos finais.

O dia foi de intensas negociações em Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Assunção. Pela manhã, um jatinho levou o gerente de marketing, Mauro Holzmann, o vice-presidente do Conselho Deliberativo, Antônio Carlos Bettega, e o engenheiro responsável pelas obras da arquibancada tubular da Arena, Luiz Volpato, à capital do Paraguai. O objetivo era convencer a Confederação Sul-Americana da viabilidade e segurança das arquibancadas móveis para 16.800 pessoas que eram erguidas na Arena.

Enquanto isso, a Federação Paranaense de Futebol enviava à CBF um ofício afirmando que o Corpo de Bombeiros, entre outros órgãos, já havia emitido laudo liberando a Arena. Mais tarde o comandante dos bombeiros no Paraná, Mário Wako, que visitou o estádio com representantes da Polícia Militar e da Cosedi (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), negou a existência de tal laudo, afirmando que ele só seria emitido após a conclusão das obras.

Ao meio-dia, porém, a parada já estava praticamente definida em favor do Beira-Rio. O porta-voz da entidade, Nestor Benítez, confirmava que o jogo seria no estádio do Inter porque ele "reúne todas as condições de segurança para uma final", afirmou. A vistoria oficial no Beira-Rio, porém, será feita somente hoje.

Benítez alegou ainda que a Conmebol se sente responsável por velar pela segurança dos torcedores, o que provocou reação por parte dos dirigentes rubro-negros. "O risco que existe é o de um confronto entre torcidas no caminho de volta de Porto Alegre. Queremos saber quem irá se responsabilizar caso ocorra uma tragédia", rebateu o presidente João Augusto Fleury da Rocha. O Atlético contava com a complacência da Conmebol até porque o presidente da entidade, o paraguaio Nicolas Leoz, foi recepcionado este ano por uma comitiva rubro-negra e recebeu o título de cidadão honorário de Curitiba.

Torcida decepcionada

Carlos Simon

A decepção era óbvia e visível nos rostos dos atleticanos que passaram quase três dias na fila. A confirmação do primeiro jogo decisivo para Porto Alegre trouxe revolta e mudança repentina de planos para alguns apaixonados torcedores.

Daniela Cardoso, uma das primeiras da fila, chegou na manhã de sábado. Não conteve as lágrimas quando soube que o jogo seria no Beira-Rio. Por causa do trabalho, ela deve abdicar do sonho de assistir ao vivo a decisão do torneio. Também por razões profissionais, o pai dela, o funcionário público Amadeu Cardoso, decidiu que não irá a Porto Alegre. Ele atribuiu a decisão da Conmebol à pequena força política do Paraná. "A diretoria fez todos os esforços possíveis. Nossa indignação é com a Conmebol, a CBF e o São Paulo", desabafou.

Fleury estima um prejuízo de R$ 4,5 milhões

Carlos Simon

A primeira reação do presidente Fleury, após saber que o jogo foi confirmado para o Beira-Rio, foi calcular um prejuízo de pelo menos R$ 4,5 milhões – R$ 3,5 milhões referentes ao crédito perdoado do Expoente (que envolve a conclusão definitiva da Arena), mais R$ 1 milhão pela instalação das arquibancadas tubulares, sem contar com bilheteria e patrocínios.

A diretoria rubro-negra decidiu não interromper as obras e planeja finalizá-las às 15 horas de hoje, como era a previsão inicial. Fleury não confirma se o novo setor será mantido para o Atletiba de domingo, mas reconhece que a idéia de concluí-lo servirá como prova do prejuízo do Atlético. Questionado se o Atlético poderá mover ação judicial contra a Conmebol, o presidente respondeu que a decisão dependerá do Departamento Jurídico. "Fizemos a nossa parte. Alguém terá que nos indenizar. Será quem marcou o jogo ou quem assoprou sobre toda essa situação. Porque o jogo no Beira-Rio? Tudo isso está muito estranho", desabafou. Para o presidente atleticano, o bom senso não prevaleceu. "Exigem um estádio para 40 mil pessoas e marcam o jogo num campo neutro, que não terá este público", reclamou.

O Atlético tanto apostava no jogo na Arena que deixou para definir hoje detalhes da logística. "Uma coisa é viajar como visitante, quando encontramos tudo pronto. Outro é enviar seguranças, tesoureiro e outros funcionários de última hora", afirmou Fleury.

São-paulinos elogiam o Atlético

São Paulo (AE) ? Para o capitão Rogério Ceni e Lugano, um dos ídolos da torcida do São Paulo, o Atlético é um time "estrangeiro". E isso é dito em forma de elogio. "É um time guerreiro, tem jogadores que estão sempre lutando pela bola. Eu gosto do Marcão, até acho que ele tem um estilo parecido com o meu", diz Lugano.

"Eu concordo", diz Ceni. "Eles têm muita força física, disputam todas as jogadas, não se entregam nunca. Essas características são mais de times da América do Sul, mas eles têm mais do que isso."

Os elogios continuam. Rogério fala, cheio de admiração, do quarteto de frente do Atlético. "O Fernandinho é um jogador muito habilidoso, está em várias seleções de base do Brasil, é um atleta diferenciado. O Fabrício entrou bem no campeonato e tem um chute de fora da área com muito perigo."

O ataque. "Impressionante como eles estão ajustadinhos. O Aloísio e o Lima se entenderam muito bem. São dois atacantes muito perigosos, tanto por cima, quanto por baixo."

Se é para elogiar, Rogério não tem meio-termo. "Eu acho que a defesa deles está bem plantada e o goleiro é muito bom. O Diego tem 24 anos, oito anos a menos do que eu, é de outra geração e logo vai ter oportunidades na seleção. Tem muito futuro."

Para Rogério, o São Paulo de hoje, tem uma vantagem muito grande sobre o do ano passado, que foi eliminado pelo Once Caldas na semifinal. "Todo mundo ganhou um ano a mais de experiência."

Rogério tentou tirar todo o peso de uma final de Libertadores. "Para mim, essa competição não é um sonho, não é uma obsessão. Eu quero ganhar, sei da necessidade que temos de ganhar, sei da importância que a torcida dá à Libertadores, mas encaro como uma decisão a mais. E estamos preparados para ela."

Ele não vê grande importância em jogar no Beira-Rio e não na Arena. "A partida vai se decidir em campo, não interessa o campo. Não vejo uma vantagem grande para o São Paulo. O que nós precisamos é de uma boa partida no campo deles."

Lugano concorda. Ele acha que a Libertadores mudou muito e que não há mais pressão que mude resultados. "Isso é no tempo antigo, quando não tinha televisão. Hoje, todo mundo vê os jogos. Pressão não ganha mais partida de Libertadores, não", diz.