Bassul diz que problemas no Pré-Olímpico uniram a equipe

No domingo (15), logo após a vitória sobre Cuba que garantiu a seleção brasileira feminina de basquete na Olimpíada de Pequim, o técnico Paulo Bassul admitiu ter envelhecido 10 anos em uma semana durante o Pré-Olímpico. Nesta segunda, mais calmo e depois de sua primeira noite bem dormida em solo espanhol, ele contou mais alguns detalhes sobre a conturbada participação do Brasil e reiterou que não convocará mais a ala Iziane, que se recusou a entrar em quadra durante a prorrogação do jogo contra a Bielo-Rússia, depois de passar o terceiro e o quarto períodos no banco.

"Meu problema com ela não é pessoal, e sim na quadra. Aceito as desculpas dela, mas isso não muda a situação", explicou o técnico, enquanto tomava seu último café em Madri. Ele diz que sua filosofia de jogo privilegia a coletividade, o que é incompatível com a postura de Iziane, que se via como a "estrela" da equipe – "A estrela do time tem sempre de estar na quadra", disse ela no sábado (14).

Bassul disse ainda que, embora o grupo tenha se unido mais por causa de tantos percalços, não há nenhum tipo de "compromisso de sangue" com as 11 jogadores que terminaram o Pré-Olímpico, e que não terá problemas em cortar alguma delas para encaixar a armadora Adrianinha, que pediu dispensa por motivos pessoais, além da ala Karen e da pivô Érika, que se contundiram às vésperas da competição espanhola. "Não existe melindre", diz o treinador. Leia a entrevista.

Agência Estado – Passada a euforia da vaga assegurada para Pequim e depois da primeira noite bem dormida em Madri, que avaliação você faz da equipe nas cinco partidas feitas no pré-olímpico?

Paulo Bassul – Acho que esse torneio foi um grande teste para a seleção brasileira. Ela se superou em meio a uma série de adversidades. Deu tudo errado para nós muito antes de o time chegar a Madri. E continuou dando durante o Pré-Olímpico. Tivemos oito jogadoras aposentadas, contusões, pedidos de dispensa por problemas particulares, sorteio injusto no grupo da competição porque não fomos cabeça-de-chave, e pelo ranking da Fiba (Federação Internacional de Basquete) deveríamos ser. Prejudicaram então Brasil e Cuba. Depois teve o corte da Iziane por indisciplina. Então, sofremos bastante com tudo isso, mas também ganhamos força e mais união.

AE – O problema com Iziane quase derrubou o time. Você disse que ela não joga mais na seleção. Mas e se ela pedir desculpas?

Bassul – A nossa diferença não é essa. Ela não pediu desculpas, mas já está perdoada se um dia pedir. Só que isso não muda a situação. Não tenho nada pessoal contra a Iziane, mas o nosso problema é gravíssimo dentro da quadra e isso não tem como resolver. Ela pensa o jogo de um jeito, valoriza o seu individual em detrimento do grupo. Eu jamais poderei concordar com isso. E ela não demonstra vontade de mudar. Então, comigo ela não joga mais. Não tenho nada contra a individualidade das jogadoras. Contra Cuba, as bolas da Karla estavam entrando. Então pedi para o time abusar da individualidade dela. As cubanas perceberam e começaram a marcá-la, mas deixaram o garrafão vazio. Então eu pedi para que usássemos a individualidade da Kelly. É assim que eu penso o conceito de individualidade. A Iziane, que é uma menina boa e uma ótima jogadora, acha que ela deve ser usada mesmo quando o jogo não está para suas características. Dessa forma, prejudica o time. O seu pedido de desculpas não muda nada. Nosso problema é na quadra e não pessoal.

AE – O que você achou da chave dos Jogos Olímpicos, com Austrália, Rússia, Coréia do Sul, Letônia e Bielo-Rússia?

Bassul – Mais uma vez o sorteio nos prejudicou. Porque as duas seleções mais fracas da disputa, Mali e Nova Zelândia, estão no outro grupo. Acho que elas deveriam ficar separadas. Então são duas seleções que dificilmente se classificarão. Na nossa chave, as seis equipes têm condições de ficar com uma das quatro vagas das quartas-de-final. O grupo é mais equilibrado. Tem Austrália e Rússia com ligeiro favoritismo, mas nada assegurado. Acho então que todos os jogos serão decisivos. Isso é bom porque deixa a equipe focada durante toda a competição. Não haverá folga. Mas também não quero pressionar o time para que chegue a determinada posição. Não vamos nos colocar nenhuma meta. O que posso dizer é que vamos lutar pelas vitórias.

AE – E qual é a avaliação que você faz do time?

Bassul – O time superou todas as adversidades e conseguiu a vaga para os Jogos de Pequim. Isso não é pouco. Como eu disse, tivemos uma série de problemas e uma reformulação drástica na equipe com a aposentadoria de oito atletas. Só o Brasil suporta isso sem perder as oportunidades. E o Pré-Olímpico da Espanha foi uma oportunidade para essas meninas. Jogamos com inteligência e vencemos duas seleções que figuram entre as sete melhores do mundo, Espanha e Cuba. Isso também não é pouco. Agora, é claro que precisamos melhorar. O bloqueio de rebote é uma de nossas falhas. A Franciele minimizou esse problema, mas ainda precisamos trabalhar o fundamento. Agora, discordo dos que falam que não temos jogadoras que decidem. Acho que a Karla pode decidir o resultado de uma partida, a Kelly, a Chuca. E cada vez mais a Micaela está se soltando e chamando a responsabilidade do jogo para si. Confesso que não esperava uma evolução tão rápida. O Brasil chegou a Madri sendo uma incógnita. Ouvi técnicos de outras seleções dizendo isso. Demonstramos força, espírito de grupo.

AE – Se você conseguir convencer a armadora Adrianinha a jogar em Pequim, e a Karen e a Érika se recuperarem de contusão, haverá dois cortes no grupo que esteve em Madri.

Bassul – Vou chamar 15 jogadoras para trabalhar depois da folga de duas semanas. Mas só levarei 12 para a China. Não existe melindre nem deve existir caso alguma delas não for para os Jogos. Também temos jogadoras que sempre estiveram com a gente e não vieram para a Espanha por motivos diversos. Eu sempre vou apostar nas melhores daquele momento. Na dúvida entre duas jogadoras com as mesmas características, digo que darei prioridade para quem disputou esse Pré-Olímpico. Não é desprestígio não estar em Pequim. Temos 12 vagas e vamos com as melhores e as mais importantes no momento.

AE – E qual será a programação da seleção daqui para a frente?

Bassul – As meninas terão uma semana de folga e outra que chamamos de ativa, quando elas fazem alguns testes médicos e físicos. Vamos treinar no Rio, fazer amistosos e depois viajar para Sydney a fim de fazer lá três jogos com a Austrália. Escolhemos Sydney por causa do mesmo fuso horário da China. Vamos nos aclimatar para chegar bem em Pequim, onde também teremos alguns amistosos.

AE – E para você, como foi o Pré-Olímpico de Madri?

Bassul – Eu estou sempre me testando, buscando a perfeição. Não desisto nunca. Agora mesmo, na folga, eu voltarei para a Espanha, em Barcelona, para acabar um curso com o técnico Ettore Messina, do CSKA, um dos melhores do mundo. Procuro sempre me aperfeiçoar. Não acho que o técnico ganhe jogo, mas ele tem sua parte de responsabilidade no resultado de uma partida, assim como todos de sua comissão.

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