Sim, eles estão em Porto Alegre. Os temidos barra-bravas argentinos, conhecidos pela fama de briguentos, passaram a noite desta terça-feira abrigados em um sobrado da Avenida José Joaquim, na periferia de Sapucaia, região da Grande Porto Alegre. Eram 8h40 desta quarta quando um grupo de cerca de dez homens embarcou em uma van de placas preta, LYP 756, da Argentina, e sumiu na estrada rumo a Porto Alegre, local do jogo entre Argentina e Nigéria.

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Os barra-bravas argentinos passaram a noite alojados na casa que funciona também como sede municipal do PTB de Sapucaia. O imóvel pertence ao empresário João Luiz Scopel, secretário adjunto de Economia Solidária do Rio Grande do Sul e membro do partido.

Os barra-bravas que estavam na casa não quiseram gravar entrevistas. Auxiliados por um grupo de colorados da Guarda Popular, torcida organizada do Internacional, também conhecida no Estado por suas brigas com gremistas, os barra-bravas se diziam agradecidos aos “hermanos” gaúchos pela acolhida. Pela manhã, em rápida conversa na Avenida José Joaquim, gritaram que o resultado do jogo seria 0 a 0. Depois, já na van, gritavam que “entrevista, só por 500 ‘reales'”. Foram embora sem nada.

Eles não são de conversa com estranhos, como muitos de seus compatriotas que passaram o dia desta terça-feira acampados perto do Beira-Rio, ao lado do Parque da Harmonia. No acampamento, onde dormiram dentro dos carros ou em seus ônibus adaptados, não desprezavam uma “charla” (bate-papo). Todos têm uma história da viagem ao Brasil da Copa, querem compartilhar experiências e aventuras e até oferecem chimarrão.

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Em Sapucaia, o clima é bem diferente. Nos últimos dias, a presença deles no município tem sido tensa. Os argentinos do casarão do PTB não aceitem nem a presença de imprensa no quarteirão, vigiado por brasileiros da cidade. “No se habla”, respondeu um argentino, na noite de terça-feira, diante da casa. Aparentando ter cerca de 40 anos, risonho, vestido com a camisa azul e branco, cumprimentava os colorados com um forte abraço na varanda. “Ao saber da reportagem, não quis falar.”

O grupo de colorados que assessora os barra-bravas é liderado por Gilberto Bitencout Viegas, o Giba do Trem, de 28 anos, líder da organizada Guarda Popular. Por volta das 22 horas, a casa estava movimentada. Estacionados diante do prédio, dois carros e uma van aguardavam para a viagem do dia seguinte para Porto Alegre.

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“Não sabemos o horário da saída”, disse um dos brasileiros coordenadores da recepção, vestido com agasalho com distintivo do Inter. “Tens que esperar o Giba. Ele é quem vai dizer se quer dar entrevista. Mas não podes esperar aqui”, disse o homem. “Vá para Porto Alegre que ele entra em contato até a meia-noite, se ele quiser falar”, afirmou o rapaz, encerrando a conversa. Passada a hora limite estabelecida pelo guardião dos barra-bravas, Giba não deu retorno.

FORASTEIROS INDESEJADOS – Pressionados pela polícia local e depois de terem sido visitados até pela Polícia Federal, os anfitriões dos barra-bravas andam bastante desconfiados. Há dias que a cidade convive com a polêmica passagem dos argentinos por lá. Num ginásio de esportes, moradores comentavam a presença da turma como se falassem de forasteiros indesejados.

Um comerciante, que não quis ser identificado, contou que quando começaram os rumores de que os argentinos se hospedariam na cidade, o prefeito e o delegado trataram de manobrar para impedir a visita. “Mas parece que eles mesmo assim vieram para cá”, emendava o homem.

Com seu passado de briguentos, os barra-bravas e os colorados da Guarda Popular estão sendo acompanhados de perto pela polícia. O próprio chefe da Guarda Popular, Giba, está proibido pela Justiça de frequentar jogos de futebol. Motivo: teria se envolvido uma briga em Novo Hamburgo e agredido um guarda municipal.

A união dos grupos na Copa tem levado policiais a monitorarem os movimentos dos grupos mais de perto. Na última terça-feira, na Delegacia de Polícia da cidade, Giba era esperado às 12 horas, uma hora antes do início do jogo no Beira-Rio, para cumprir com o mandado judicial que determina que ele, em dias de jogos em Porto Alegre ou de qualquer disputa da Argentina no país, se apresente ao delgado.

No centro de Porto Alegre, onde milhares de outros argentinos pintaram as ruas de azul e branco e cantavam hinos em espanhol, até 11 horas cerca de 6 mil deles já havia entrado no espaço da Fan Fest, montado ao lado do parque da Harmonia. Reservado para os “hermanos” que não puderam comprar ingressos, o largo está preparado para receber 18 mil pessoas. “Porto Alegre virou Buenos Aires”, comentavam brasileiros que arriscaram uma passadinha pela avenida que leva do centro ao Beira-Rio, tomada pelos visitantes.

No meio deles, um grupo de quatro nigerianos parava a todo momento para posar para fotos. Os briguentos barra-bravas estão na cidade. Mas o clima perto do estádio é só de festa.