Foi um reencontro animado. Depois do dia de folga, os jogadores do Paraná Clube se reapresentaram, iniciando a preparação para a finalíssima do Campeonato Paranaense contra a Adap, domingo, às 15h40, no Pinheirão. Viram uma Vila Capanema com vários torcedores, os ingressos para a partida praticamente esgotados e um clima de festa. Mas se os atletas sentem essa ?motivação externa?, o técnico Luiz Carlos Barbieri nem quer saber dessa história – e mantém a filosofia ?pés no chão?.
O oba-oba da galera tirou o treinador do sério e motivou uma conversa entre comissão técnica e atletas, antes do treino – por sinal, puxado, como exige uma decisão de campeonato. ?Em guerra avisada, morre quem quer?, disparou Barbieri, exigindo que o grupo não se deixe contagiar pelo clima festivo do torcedor, que encara o jogo como uma simples entrega de faixas. ?Não tem disso, não. Só peru morre na véspera. Parece antigo, de mil novecentos e bolinha, mas é real?, avisou.
O técnico quer o time focado para fechar o estadual com uma grande atuação.
Mas, é inegável que, enfim, os atletas do Tricolor perceberam que há uma massa sedenta por títulos, e que andava escondida. ?Quando cheguei, vi que havia muita discussão e rivalidade entre Atlético e Coritiba. Mas os nossos torcedores estão aí, e são muitos?, diz o atacante Leonardo. ?É uma sensação muito legal, porque a gente passa a perceber que todos estão esperando uma conquista?, reconhece o zagueiro Gustavo.
Os dois chegaram ao clube no início do ano, de realidades distintas. Gustavo estava no CRB e Leonardo veio do Vitória. Ambos já perceberam a necessidade de títulos do clube. ?A gente conversa com outros jogadores, que estão há mais tempo aqui, e eles dizem que havia uma expectativa por este momento?, afirma Gustavo.
?O Goiano me contou dos anos em que o Paraná passou por dificuldades. Agora, é a hora
da recuperação?, completa Leonardo. Jogador há mais tempo no clube, Goiano também deu subsídios ao técnico Barbieri, na tentativa de manter o elenco focado.
?Ele recordou de momentos similares, como o de 2002, em que o Paraná perdeu por 6×1 e depois fez 4×1 no jogo da volta?, disse Barbieri. Estes jogos foram contra o Atlético, na decisão do supercampeonato paranaense. ?Além disso, a história do futebol está aí, cheia de surpresas. Por isso, para chegar ao nosso objetivo vai ser preciso jogar bola. Tem que ralar o bumbum na grama?, sentenciou o treinador paranista.
Lesão tira Maicosuel e Neguete da foto oficial
O Paraná Clube não terá dois titulares no jogo de domingo, frente a Adap. O zagueiro Neguete e o meia Maicosuel, com lesão de joelho, estão fora, também, das primeiras rodadas do Brasileirão, que começa no próximo dia 15 de abril. No treino de ontem, mais um susto. O goleiro Flávio voltou a torcer o punho esquerdo e teve que deixar o gramado. Ele vem convivendo com este problema nas últimas rodadas, mas deve estar em campo na finalíssima.
?Acho que depois do campeonato vou ter que ficar em tratamento por algumas semanas?, disse Flávio, na certeza de que vai atuar frente a Adap na sua primeira final desde que chegou ao clube, em 2003. ?Vai ser na superação?, avisou. Como não terá condições de jogo para a primeira rodada do nacional – ele cumpre suspensão pela expulsão frente ao Vasco da Gama, na última rodada do ano passado – Flávio terá o merecido descanso a partir de segunda-feira. Os médicos já anteciparam que hoje e amanhã Flávio ficará em tratamento e realizando treinamentos físicos. ?Com bola, só no sábado?, disse o Pantera.
O técnico Luiz Carlos Barbieri, sem rodeios, antecipou a entrada de João Paulo na zaga e de Marcelinho no meio-de-campo. Com a troca de Maicosuel por Marcelinho, o Paraná terá um novo estilo de jogo, mais cadenciado e priorizando o lançamento às tabelas rápidas. ?Fui titular em boa parte do campeonato e quero fazer um grande jogo.
O Paraná merece esse título por tudo o que fez ao longo da temporada?, avisou Marcelinho. A provável equipe para domingo é a seguinte: Flávio; Gustavo, Émerson e João Paulo; Goiano, Rafael Muçamba, Beto, Sandro, Marcelinho e Edinho; Leonardo.
Leandro tem volta garantida
A Adap precisa de pelo menos três gols no Pinheirão para sonhar com o título estadual. Sinal de que virá com força total no ataque diante do Paraná Clube? Tudo indica que não. Embora não adiante a escalação, o técnico Gilberto Pereira deve montar um time mais cauteloso para a finalíssima do Paranaense.
Para o treinador, a Adap sentiu bastante a falta de Leandro no primeiro jogo das finais. O volante, que eventualmente atua também como zagueiro, estava suspenso por cartões amarelos. ?É nosso único jogador com caraterística de marcação. Atuamos somente com meias ofensivos e isso acarretou num problema tático. Precisamos de mais força contra um time como o Paraná?, afirmou Gilberto, que confirmou a escalação do jogador de 26 anos na partida de domingo.
Falta só definir quem deixa a equipe. O mais cotado é o meia ofensivo Gildázio. Outra mudança será a entrada do atacante Warlley.
Tricolor busca a vice na média de público
O Paraná Clube tem a chance de, neste domingo, além de dar a volta olímpica no Pinheirão, dar um salto na média de público do Campeonato Paranaense. O Tricolor, cuja média de público atual é de 3.633 torcedores, pode terminar a competição com média de 5.788, desde que leve 25.180 pessoas à finalíssima.
Isso deixaria o Paraná na segunda colocação em média de público, superado apenas pelo Atlético, que teve a média de 6.468. O atual segundo colocado é o Coritiba, com média de 5.593, número que permite ao Tricolor superá-lo. A Adap termina sua participação no estadual com média de 2.889 torcedores, na sétima colocação em público.
Respeitado por todos, zagueiro já pensa em parar
Cristian Toledo
O principal jogador do Paraná Clube no Campeonato Paranaense é Flávio. O destaque do time nas últimas rodadas foi Beto. O artilheiro tricolor é Leonardo. Mas outro jogador, que hoje anda longe dos holofotes, representa o ótimo momento da equipe, que está muito perto do título estadual. O zagueiro Emerson festeja a boa fase com a serenidade de quem já viveu muita coisa no futebol, e que olha para o sucesso com tranqüilidade.
Não que Emerson, o único atleta do elenco do Paraná com passagem pela seleção brasileira, esteja imune à mobilização dos últimos dias. ?Eu fico feliz, principalmente por estar voltando ao clube e por ter a certeza de que este ano seria muito bom para mim?, avalia o zagueiro, que tem motivos para gostar de 2006. ?Meu acerto com o Paraná foi no período em que minha filha nasceu, e quando assinei disse aos dirigentes que tudo correria bem nesta temporada?, confessa.
Ele admite que hoje tem planos mais palpáveis. Não se imagina voltando à seleção. ?Acho que a minha chance era para a Copa de 2002, mas o Felipão não me deu chances. Hoje, minhas ambições são mais simples?, comenta Emerson, já pensando em morar definitivamente em Curitiba. ?Minha esposa falou sobre isso há alguns dias e eu gostaria muito de ficar aqui depois de encerrar a carreira?, diz o zagueiro de 31 anos.
Emerson fala com naturalidade sobre parar de jogar. ?Eu não vou demorar muito?, diz ele, sem querer precisar quanto tempo ainda vai atuar. ?Só sei que vai ser logo. Não sei quantos anos, mas será logo?, completa
o jogador, que reconhece pensar em encerrar a carreira no Tricolor, apesar de querer ainda mais uma experiência (?Um ou dois anos, quem sabe?) no exterior. ?Estou em um lugar em que as pessoas demonstram carinho e respeito por mim?, afirma.
E não é só na Vila Capanema e no Pinheirão que Emerson tem respeito e carinho.
Ele é um dos poucos jogadores do trio de ferro que pode ser chamado de ?unanimidade?. ?Eu percebo isto nas conversas. E isto me deixa satisfeito. Era mais ou menos assim no tempo da Portuguesa, quando Corinthians, São Paulo e Palmeiras queriam me contratar?, lembra.
A Lusa está em seu coração, é o clube onde jogou por oito anos e meio. Mas o Paraná já ocupa um lugar importante na vida do zagueiro. ?É bom trabalhar aqui. Hoje, eu prezo muito o ambiente, a relação boa com os dirigentes e a torcida.
Aqui estão todos sorrindo?, elogia Emerson, que vê no time atual aquilo que ele imaginava que aconteceria no ano passado. ?Nesta temporada nós começamos com uma boa base e com uma formação acertada.
Era o que a diretoria tinha pensado para 2005, mas não foi possível segurar alguns jogadores?, comenta.
Este carinho que Emerson recebe do Tricolor pode ser retribuído no domingo, com o primeiro título paranaense desde 1997. E, por mais que tenha vivido emoções em outros clubes – e também na seleção -, o zagueiro reconhece que será um dos momentos mais importantes da carreira. ?Será um prêmio ao trabalho de todos nós?, finaliza.