O telefone tocou duas vezes apenas. Paulo Autuori atendeu com sua voz rouca, sempre educado e muito atencioso. No Japão já era quase meia-noite. Mesmo assim, o treinador do Kashima Antlers não se incomodou tanto em conversar com a Agência Estado sobre um assunto do qual anda fugindo: seleção brasileira.
São Paulo (AE) – Seu nome está na lista dos prováveis técnicos que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, carrega consigo para cima e para baixo nas dependências da entidade no Rio.
Da conversa de quase 15 minutos, o ex-técnico do São Paulo deu mostras de que aceitaria o convite para substituir Parreira no comando da seleção. Só não disse isso com todas as letras. "Não há como discutir sobre seleção e seu futuro na condição de ?se o convite for feito?. A verdade é que não tive nenhum contato com o presidente Ricardo Teixeira e ainda tenho meu compromisso com o Kashima", revelou.
O acordo de Paulo Autuori com o clube japonês termina em dezembro – portanto, daqui a cinco meses. Mas, diferentemente da época em que foi sondado pelo Corinthians no começo do ano, o treinador agora não coloca qualquer empecilho para se desligar do Kashima.
A discrição de Paulo Autuori se encaixa perfeitamente na conduta de Ricardo Teixeira, que sempre preferiu caminhar pelas sombras e nunca gostou dos holofotes. Para o presidente, quanto menos ele e as coisas da CBF aparecerem, melhor. Um dos receios de escolher Vanderlei Luxemburgo é justamente pela personalidade forte e expansiva do técnico do Santos, embora ele não seja mais aquele sujeito entusiasta do passado. Ricardo Teixeira garantiu que até sábado anuncia o nome do novo treinador do Brasil. O time tem compromisso no próximo dia 16 de agosto, em Oslo – um amistoso com a Noruega. Precisa, portanto, rápido de um comandante. Não está descartada a possibilidade de o presidente da CBF surpreender e convocar um treinador tampão até o fim do ano.
Enquanto isso, Autuori deixa seu telefone ligado do outro lado do mundo. Se for escolhido, aceita. "Não há mistérios na minha conduta profissional, todos vocês sabem disso. Fico feliz de ter o nome lembrado para o cargo e de saber que pessoas nas ruas do Brasil também apostam no meu trabalho. Mas não houve nada nesse sentido. Gostaria de poder cumprir meu contrato aqui até o fim, mas estou aberto para propostas. Não há nada contratual que me segure no clube, nada que me impeça de ir para um time ou mesmo uma seleção", avisou.
O técnico que levou o São Paulo ao terceiro título do Mundial Interclubes da Fifa, no ano passado, confessou já ter recebido propostas oficiais de outros países para comandar suas seleções – ele dirigiu o Peru nas eliminatórias da Copa de 2006 -, mas que não teria se identificado com os projetos. Preferiu seguir no Japão, em seu compromisso até o fim da temporada. O Kashima Antlers ocupa a quarta posição no campeonato japonês e está classificado para as semifinais da Copa Nabisco. Recentemente, o treinador brasileiro foi eleito o técnico da Liga Leste do Jogo das Estrelas do torneio nacional. Seu nome saiu através de voto popular pela internet.
Mesmo longe de casa, Paulo Autuori segue colhendo frutos de uma carreira coerente e séria, disso ninguém dúvida. Coerência, aliás, é uma das condutas que movem seu trabalho. Por isso, não quis dar detalhes do que poderia fazer na seleção.
"Não sou o técnico. Não tenho nada então para comentar do Brasil. Mas não vejo problema de dirigir a seleção brasileira desde que o projeto que se tenha para ela me agrade e vá de acordo com meus princípios", afirmou Autuori. E coerência é a palavra-chave para definir seus princípios. "É isso. É sempre bom falar com o Brasil", agradeceu, antes de desligar o telefone com sua voz rouca.
