A Alemanha desenvolveu ao longo dos tempos o impressionante poder de vencer grandes campeonatos mesmo quando não tinha o melhor time – vide as Copas de 1954 e 1974. Tantas vitórias criaram uma aura quase mítica em torno da equipe germânica, mas 24 anos sem vencer um Mundial fizeram essa aura desaparecer sem deixar rastro. O resultado disso é que, hoje, o país é representado na Copa do Mundo por uma geração de jogadores que não sabe o que é festejar um título mundial.
Sete dos 23 que compõem o elenco na Copa não eram nascidos quando Lotthar Matthäus se tornou o último alemão a levantar a taça de campeão mundial. São eles: os zagueiros Mustafi e Ginter, o volante Kramer, o atacante Schürrle, os meias Götze e Draxler e o lateral-esquerdo Durm. E vários outros eram muito pequenos quando a Alemanha derrotou a Argentina na decisão do Mundial da Itália. Nessa categoria se encaixam alguns dos melhores jogadores da seleção, como Mesut Özil, que tinha 1 ano, Thomas Müller e Toni Kroos, ambos com poucos meses de vida na época. Além de Hummels, Boateng… A lista é bem grande.
O que essa turma de garotos talentosos, a maioria remanescente da Copa de 2010, na África do Sul, trouxe para o Brasil foi a facilidade para ganhar títulos em seus clubes. Sete integrantes da seleção pertencem ao Bayern de Munique, equipe que ganhou tudo recentemente, sem falar em jogadores que brilham em clubes de outros países, como Khedira e Özil.
“Na minha opinião, uma das vantagens da nossa equipe é ser, ao mesmo tempo, jovem e experiente”, comentou um dos jogadores mais velhos do time, o capitão Philipp Lahm (30 anos). “São jogadores que já conquistaram muitos títulos em seus clubes, com vasta experiência em grandes decisões. Creio que 99% dos nossos jogadores já estiveram em uma grande final antes”.
ANSIEDADE – O maior problema da Alemanha agora é que apenas um dos 23 integrantes do elenco, Miroslav Klose, já disputou uma final de Mundial, a de 2002. Para os demais, o jogo de amanhã contra a Argentina, no Maracanã, será uma enorme novidade. Mas eles não parecem muito intimidados com isso.
“Eu ganhei a Liga dos Campeões com o Bayern de Munique, mas, se você colocar as coisas em perspectiva, verá que este aqui é o estágio mais importante na vida de qualquer jogador”, admitiu Müller. “Só existe uma Copa do Mundo a cada quatro anos, então, é claro que este campeonato é mais importante do que qualquer outro. Mas minha felicidade em jogar a final da Copa é imensa, não vejo a hora de estar lá”, completou, sem aparentar estar assustado com a situação.
Conhecido por ser um dos integrantes mais tranquilos do elenco, Müller é um exemplo do tipo de jogador que compõe a seleção alemã hoje: jovem e ousado, sem nenhum medo do jejum de títulos. E que sabe a quem procurar em caso de dúvida. Como Philipp Lahm, um dos raros membros da seleção que se lembram de Matthäus levantando a taça no estádio Olímpico de Roma. “É uma das primeiras lembranças que tenho no futebol”, contou o lateral. “Já vi as gravações dos jogos da Alemanha naquela Copa muitas vezes”.
O “veterano” Lahm e o “garotão” Müller estão convencidos de que mudarão o rumo da história do futebol alemão amanhã. Eles sabem que basta uma vitória sobre a Argentina para que a próxima geração de jogadores do país não carregue o peso que a atual carrega: o de ser uma geração criada em uma longa e tenebrosa estiagem.