Atrapalhado por ‘apagões’ na carreira, Bellucci desenvolve inteligência emocional

“Apagões” em momentos decisivos sempre fizeram sombra à carreira de Thomaz Bellucci. Com a oscilação em quadra, surgiu a desconfiança dos fãs de tênis. Para mudar esse cenário, o tenista que representará o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio resolveu adotar uma nova fórmula: encerrou uma longa parceria com sua psicóloga e contratou um profissional para desenvolver sua “inteligência emocional”.

“Trabalhei com psicólogo e deu resultados interessantes, mas queria alguma coisa diferente, mais dinâmica. Consigo entrar todos os dias na quadra com uma motivação maior, com uma vibração maior, tem me ajudado bastante no dia a dia”, explica.

Aconselhado por amigos em comum, Bellucci procurou Douglas Maluf após o término do Brasil Open, em fevereiro, e deu início ao trabalho. O profissional tem adaptado seu treinamento, que é aberto ao público, para a realidade do tenista e de seu apertado calendário. Nos últimos meses, o foco foi a programação neurolinguística. Alguns exercícios e dinâmicas para controle de ansiedade, motivação e postura têm sido usados para ampliar o autoconhecimento do jogador.

“Uma pessoa emocionalmente inteligente consegue usar os recursos a seu favor. Sair de adversidades, lidar melhor com as frustrações, erguer a cabeça e ir em frente. Acredito que todos os jogadores viajam, sendo número 1 ou 800 do mundo, o desafio é fazer com que as viagens sejam cada vez mais curtas, onde ele volte a tempo de reverter um placar”, explica.

Na Copa Davis, Bellucci mostrou consistência em dois jogos de longa duração – 2h57 e 3h22 – e colocou em prática dois recursos do novo trabalho. O primeiro foi a adoção de um adereço. Uma pulseira de borracha azul, com a inscrição “um final de semana pode mudar tudo”, foi colocada junto à munhequeira do punho esquerdo. O acessório ganhou o papel de “âncora”, guardando um estado de espírito ideal que só deve ser acionado em caso de necessidade.

O segundo recurso foi auditivo com a escolha de uma trilha sonora triunfal. Nada de canção pop norte-americana nos alto-falantes da Arena Minas Tênis, a entrada de Bellucci deu-se ao som de música instrumental usada em filmes de guerras que marcaram época.

Maluf fez um estudo detalhado de Bellucci com base em vídeos de suas partidas. “Assisti a todos os jogos que ele me deu, ia pausando e fazendo uma leitura corporal de como estava a postura dele no intervalo. Exigiu uma demanda de tempo muito grande”, explica.

A busca pelo equilíbrio na tênue linha entre ser uma pessoa vibrante e ser fria demais faz parte das metas estabelecidas pela parceria. “A gente vem trabalhando para aliar a serenidade e a paciência em quadra e, ao mesmo tempo, conseguir dar o meu 100% com muita vibração”, conta Bellucci.

E o atleta se diz satisfeito com sua evolução dentro e fora de quadra. “Agora a gente está começando a colher esses frutos, ele me deu várias ferramentas para usar durante o jogo, acredito que o trabalho tem sido muito positivo.”

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