Paulo Autuori está comemorando neste momento seu primeiro título estadual. Pode parecer meio maluco, mas esse cara que surgiu para o futebol brasileiro há mais de vinte anos, que já surpreendeu sendo campeão nacional com o Botafogo, em 1995, e depois foi acumulando conquistas de Libertadores e do Mundial de Clubes, que teve passagens importantes pelo exterior, incluindo treinar a seleção peruana, está somente neste domingo (8) podendo dizer que venceu tudo que um treinador brasileiro poderia vencer.
E em um recomeço. Ele mesmo admitiu, quando chegou ao Atlético no meio do Paranaense, para substituir Cristóvão Borges, que já via o futebol com outros olhos. Que seu objetivo era se aprofundar ainda mais nos estudos para assumir um posto de gestão. Havia até participado do projeto de reformulação do departamento de futebol do Coritiba – que, por essas coincidências do futebol, acaba de ser derrotado na final por Autuori e seus comandados de Atlético em pleno Couto Pereira.
Mas os planos do técnico não foram abandonados, foram apenas adiados. E com um motivo que uniu o útil ao agradável. Dentro da estrutura que o Atlético oferece, Paulo Autuori viu o cenário ideal para usar seu conhecimento para comandar um trabalho diferente no Brasil – e, ao mesmo tempo, a possibilidade de não precisar ir para o exterior para ter a convivência diária com equipamentos e softwares usados na Europa.
Além disso, atrás da fisionomia tranquila havia um profissional contestado. Que apesar de sequer ter chegado aos 60 anos (vira sessentão em 26 de agosto), era tomado como ultrapassado – ou, usando o termo que tanto atormenta os técnicos brasileiros, ‘superado‘.
Não estava na lista dos medalhões – de Felipão, Cuca, Levir, Abel, Muricy. E nem no grupo dos emergentes – Marcelo Oliveira, Roger Machado, Dorival Júnior, Jorginho. E, claro, não é estrangeiro como Juan Carlos Osorio, Edgardo Bauza e Diego Aguirre. Campeão de quase tudo, ele estava praticamente esquecido.
Dessa complexa união surgiu o Autuori campeão paranaense. Que chegou com seu estilo sereno (e há quem garanta, lembrando Vadão e Geninho, que apenas técnicos mais tranquilos fazem história no Atlético) e depois foi se soltando, chegando ao sujeito agitado que deixou todo mundo surpreso na primeira partida da final. Jogo que inclusive foi seu momento decisivo no campeonato, quando alterou meio time e deu certo, com o Atlético fazendo seu melhor jogo em 2016.
Até chegar à festa no Couto Pereira, Paulo Autuori primeiro teve que lidar com a desconfiança da torcida, receosa com seus últimos trabalhos no Brasil (irregular em Grêmio, São Paulo e Atlético-MG). Precisou dar uma demonstração de força no ‘Waltergate‘, quando quase explodiu uma crise envolvendo diretoria, técnico, torcida organizado e o melhor jogador do time. Depois dessa montanha-russa, neste domingo ele pôde comemorar. Sem euforia, apenas sorrindo. Bem ao seu estilo.