“Seria uma injustiça mudarmos o técnico em função de resultados. Não cabe isso”. Essa frase não é minha, não é de nenhum analista. É de Mário Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo do Atlético. Foi dita por ele no dia em que Eduardo Baptista foi apresentado como treinador e Paulo Autuori como “manager”. Dia em que surgiu a agora histórica expressão “quebra de paradigma”, que durou exatos 48 dias. Foi mais uma prova que toda a modernidade e o planejamento que marcam o período de Petraglia no Furacão ocupam todos os setores do clube, menos o mais importante – o futebol.
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Sim, porque não se pode negar a transformação do patrimônio do Atlético. De um clube praticamente falido, o Rubro-Negro hoje é uma potência. Tem uma Arena da Baixada extremamente valorizada, um CT do Caju com estrutura internacional, equipamentos moderníssimos, contatos internacionais importantes. Tudo isso é inegável. Isto permitiu fazer do Furacão uma marca respeitável.
Mas e em campo? Volto a citar Mário Celso Petraglia, desta vez na entrevista à Folha de S. Paulo na semana passada: “Alcançamos resultado no futebol porque os outros são muito ruins. Foi muito mais incompetência dos outros do que nossa”. Lembrando que ele fala disso ao citar o título brasileiro de 2001 e os vice-campeonatos do Brasileiro de 2004 e da Libertadores de 2005.
Talvez Petraglia minimize e diga que “os outros eram ruins” porque eram tempos em que havia gente que conhecia de futebol dentro do Atlético. Pessoas que hoje estão fora do clube, rompidas com o cartola. Pessoas como Ademir Adur, Valmor Zimmermann, Antônio Carletto Sobrinho, que foram aos poucos sendo afastadas para que pessoas que não manjam do riscado entrassem. E quais são as “virtudes” desses caras? Defenderem com unhas e dentes qualquer atitude de Petraglia. Usando do linguajar mais corriqueiro, são puxa-sacos do cartola.
E esses são os que comandam o futebol rubro-negro. Agem como gestores quando Mário Celso Petraglia fala em “quebra de paradigma”, agem como torcedores quando o presidente do Conselho tem seus acessos de fúria. E assim aconteceu nesta segunda-feira (10), quando Eduardo Baptista foi demitido. Simplesmente “uma comissão técnica que trabalhará de forma coletiva”, nas palavras do dirigente há 48 dias, já não servia.
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Só que Petraglia e seus assessores não imaginavam que Paulo Autuori manteria sua palavra. O ex-técnico tinha avisado que queria autonomia para gerir o futebol do Atlético, afinal, como o próprio Autuori dissera na mesma coletiva já citada, “só poderia partir do Clube Atlético Paranaense a possibilidade de proporcionar, uma vez mais, a quebra de paradigma. O que já é comum”.
Há, no entanto, uma singularidade no perfil de Petraglia e de Autuori – eles pensam mais em si do que em qualquer outra coisa. No caso do “manager”, entre seguir no Furacão e manter seu discurso, ele mandou o Rubro-Negro para longe. Surpreendeu o cartola, que realmente não imaginava ser abandonado por quem ele considera o mais capacitado profissional de futebol que conheceu.
O departamento de futebol do Atlético mostrou como está desarrumado no momento em que quis ser diferente. Na verdade, é igual aos outros, o que iguala o clube aos seus rivais de futebol brasileiro. Em resumo, faz com que tanta modernidade fora de campo não sirva para nada dentro de campo, faz com que o futebol – que é o que importa – não dê resultados – e faz com que os verdadeiros donos do Furacão, os torcedores, não vejam o que esperam, que são vitórias e conquistas.