Poucos viram a cena ao vivo, na hora em que ela aconteceu. Dois ou três funcionários do Atlético e os três representantes da RPC, que estavam lá para uma (em tese) corriqueira entrevista pré-jogo. Eis que surge na sala de imprensa o técnico Milton Mendes de capacete. Após ter o cabelo raspado pelos jogadores, por conta de uma aposta, ele aproveitou o momento para mais um show. Foi o auge da popularidade do treinador, e ao mesmo tempo o início do fim da relação de amor com a torcida do Furacão – que teve nele, por pouco tempo, um raro técnico ídolo, coisa que não se via desde os tempos de Geninho.
MM viveu em alguns meses de Atlético uma montanha-russa. Chegou como o mais rejeitado técnico contratado pelo Furacão. Pesava na avaliação geral (mas geral mesmo, torcida e imprensa) a passagem irregular no Paraná Clube e o fato de só ter trabalhado depois na Ferroviária, clube satélite atleticano. E ele vinha substituir os “emergentes” Claudinei Oliveira e Enderson Moreira, que chegaram com moral e saíram escorraçados – Enderson mal segurou-se um mês no cargo.
Cara a tapa
O treinador assumiu o time ainda no Torneio da Morte do Campeonato Paranaense, foi obrigado a aguentar vaias e hostilidades da torcida – que, com razão, não admitia ver a equipe naquela situação. Mas, do jeito Milton Mendes, ele começou a virar o jogo. Não foi preciso muito tempo, apenas seis rodadas de Campeonato Brasileiro e a liderança da competição. Em campo, MM percebeu que o Atlético precisava ser firme na defesa para poder explorar a velocidade de Eduardo, Natanael, Hernani, Nikão e Marcos Guilherme. Lá na frente, Walter daria conta do recado.
A receita simples deu muito certo. Por mais da metade do campeonato o Atlético ficou entre os primeiros, inicialmente lutando pela liderança e depois na briga do G4. Weverton, Eduardo, Otávio, Kadu, Nikão e Walter se destacavam. Marcos Guilherme fazia gols. Gustavo era o líder. E a torcida se encantou com aquele time tão cobrado no começo do ano. Fechados com Milton, os jogadores viram o ambiente tenso de antes virar uma calmaria rara nos últimos tempos. Dava tudo certo.
E permitia que Milton Mendes desse seus espetáculos. Ternos invocados, entrevistas diferentes, gestos da torcida organizada ao entrar e sair do gramado, gestos espalhafatosos à beira do campo. E, claro, o treinador sensação do Brasileiro. Era MM indo em programas de TV aberta e fechada, fazendo o papel de técnico, conselheiro, amigo dos boleiros e relações públicas do Atlético. Dá para dizer que ele aliviou a tensão na Baixada. Até a tal entrevista de capacete.
Lua de mel desmoronou
Talvez por ter passado do ponto, Milton Mendes viu as primeiras contestações – não ao seu trabalho, mas sim às suas atitudes. Tanto na torcida quanto na diretoria. E se o auge em campo veio depois, na histórica vitória por 1×0 sobre o Atlético-MG, depois daquela imagem, que o Globo Esporte mostrou para todo o Estado, a relação MM e Furacão não seria mais a mesma.
A série de derrotas e os erros de escalação foram fatais. Após partidas contra Joinville, Figueirense e Ponte Preta, as redes sociais pipocavam. Já não se admitia o perfil exuberante de Milton. “Vai lá falar de capacete agora”, reclamavam. E o treinador acabou demitido, numa história que acabou mal contada, principalmente porque o ex-presidente Mário Celso Petraglia deixou no ar que não foram apenas os maus resultados que derrubaram MM. Mas os reais motivos nunca apareceram.
Legado
O que não se pode esquecer é que muito do que o Atlético fez de bom neste 2015 passou por Milton Mendes. Na montanha-russa do futebol, o carrinho também começa em baixo, vai até lá em cima mas termina no chão. MM descobriu isso no ano mais intenso de sua carreira.