Ele não queria ser a estrela. Mas sabia o que iria acontecer. Mesmo não querendo, Dagoberto foi o personagem do empate em 1×1 entre Atlético e Vitória, ontem, na Arena da Baixada. Perseguido pela torcida, ele sofreu faltas, tomou vaias, cavou cartões amarelos, reclamou como sempre, desabafou e, quando saiu, fez o time baiano melhorar e tirar a chance do Furacão entrar no G4 do Campeonato Brasileiro. O Rubro-Negro continua em quinto, agora dois pontos atrás do Santos e ao lado do Flamengo.
Se Dagoberto não queria aparecer muito, outros tentaram ser donos do espetáculo. Walter começou. Com toques rápidos e lançamentos precisos, ele foi o melhor em campo por trinta minutos, os primeiros do jogo – que, por sinal, teve Dagol como o primeiro a tocar na bola. O camisa 18 criou dois lances de perigo, mas Pablo e Sidcley não aproveitaram.
Aí a defesa do Vitória assumiu o protagonismo do jogo, mas transformando a partida em um daqueles esquetes dos Trapalhões. O primeiro foi Ramon, cobrando uma falta para o horizonte e deixando o goleiro Caíque desesperado para tirar a bola do gol, tanto que acabou desabando e quebrando a haste que prende a rede no gramado. E o goleiro não teve paz, porque o gol do Furacão foi graças a outro erro. Bem no finalzinho da primeira etapa, Diego Renan errou o recuo, e Pablo teve calma e qualidade para dar um chapéu em Caíque e fazer 1×0.
Dagoberto vivia sua sina. Vaias a cada vez que pegava na bola. Empolgados, os atleticanos desciam o sarrafo no atacante do Vitória, que reclamava a todo tempo. Hernani e Léo acabaram recebendo cartões amarelos por causa dele. Apesar de participar bastante do jogo, o ex-atleticano (que saiu brigado do clube) errava quase tudo – e por um erro dele Marinho quase marcou para os baianos.
Na saída do intervalo, Dagol resolveu libertar tudo que tinha guardado em entrevista ao canal Premiere: “Eu não me preocupo com isso (vaias), nem com nada de ruim. Tenho 33 anos, tenho meus filhos, aproveito o meu tempo com coisas boas, com minha família, meus amigos, e não pensando em coisas ruins. Tem gente que precisa aprender que não é com rancor que se vive, tem que tirar o rancor do coração e tentar viver pensando em coisas boas. Gasto energia com coisa boa. As pessoas têm que aprender na vida a gastar energia fazendo o bem. Rancor e ira no coração só fazem mal”, desabafou, um recado direto ao presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, seu maior desafeto.
Nem o discurso do intervalo melhorou sua atuação. Já o seu time melhorou. Vágner Mancini trabalhou bem e colocou o Vitória no campo do Furacão. Os contra-ataques até vieram, num deles Pablo perdeu a chance de ampliar, mas o rendimento já era menor, e os erros se acumularam. Tentando dar velocidade e poder de drible, Paulo Autuori colocou Marcos Guilherme e Giovanny – este foi o melhor atleticano no segundo tempo.
Aos 22 minutos da etapa final, Dagoberto saiu. Vaiado e xingado. Com ele pareceu ter saído a pressão sobre os baianos, que tomaram conta do jogo, e conseguiram um pênalti no ataque rápido e no passe que Kieza recebeu nas costas da zaga. Livre, o atacante driblou Weverton e foi derrubado. Diego Renan se redimiu do erro, cobrou no meio do gol e empatou.
Era o retrato fiel de um jogo do velho clichê dos “dois tempos distintos”. Tanto que, tirando uma ou outra trapalhada da zaga visitante, foi o Atlético que precisou segurar as pontas para garantir o empate, apenas o segundo em casa no Brasileirão. Quando o jogo terminou, Dagoberto já estava no vestiário da Arena. Sabia que seguia sendo xingado, sabia que sua presença era incômoda. Mas devia estar satisfeito com o resultado.
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