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Análise: mudança de estilo do Atlético explica as vaias

Antes de qualquer coisa, reproduzo parte do texto do Ricardo Brejinski que conta a história de Atlético 1×0 Santa Cruz, no último sábado (4): “No segundo tempo, o Santa Cruz voltou apertando mais a marcação, sem dar espaços para o Atlético criar jogadas. Com isso, o Furacão precisou tocar no seu campo defensivo, o que gerou muita insatisfação e impaciência da torcida, que vaiava a equipe quando a bola era recuada“.

Quando eu li o material, me apressei em ver a partida que tinha deixado gravando – naquele dia, minha função estava no jogo do Coritiba, por isso aproveitei a tarde para descansar. Veria a partida mais tarde, mas resolvi ver antes do jogo do Coxa. Primeiro, não consegui entender porque a torcida atleticana vaiava quando o time voltava a bola para a defesa para recomeçar a jogada. Depois, encontrei duas razões.

A primeira: ficou evidente durante todo o jogo outra desavença entre diretoria e torcida organizada, é assunto normal no Furacão. E nunca vai passar, porque em alguns momentos a diretoria usa a organizada, em outros a organizada usa a diretoria, e segue esse balé de amor e ódio.

A segunda: a forma de controlar a posse de bola proposta pelo técnico Paulo Autuori representa uma radical transformação no jeito do Atlético jogar. E não digo em comparação com o time de Cristóvão Borges ou de Milton Mendes. E sim a um jeito de jogar na Arena da Baixada que vem desde a reinauguração do estádio, em 1999. Desde aquele tempo, com o time de Oswaldo Alvarez, o Furacão sempre foi uma equipe aguda, de jogo direto, que parecia atuar no embalo da torcida.

Isso era simbolizado pelos laterais extremamente ofensivos, desde Alberto e Fabiano até Eduardo, passando por Alessandro e Alex Sandro. Pelos meias rápidos, como Adriano, Kleberson, Kelly, Fernandinho, Ferreira. Por atacantes de altíssima velocidade como Lucas, Dagoberto, Marcelo, Éverton. E artilheiros como Kléber, Alex Mineiro, Washington, Éderson. Era uma equipe que chegava muito rapidamente ao ataque, tinha contragolpes mortais, A torcida enlouquecia.

Agora, o ritmo é outro. E a torcida estranha, confunde controle de jogo com falta de objetividade. E acaba vaiando quando a bola volta ao sistema defensivo. Estratégia que não é invenção da cabeça de Autuori, mas sim a maior tendência do futebol mundial. É assim que as equipes europeias jogam. Como disse uma vez Carlos Alberto Parreira (uma de suas teorias mais corretas), ter a posse de bola é a melhor forma de não sofrer gols.

Sim. Se você mantém o controle, não tem como ser atacado. E se não há espaço para tentar um ataque, melhor recomeçar a jogada para redistribuir o time do que simplesmente rifar a bola. Quando vemos os times europeus fazendo isso, achamos o máximo. Mas se um time nosso tenta repetir, achamos lento, sem criatividade, É outra cultura, ainda mais para a torcida do Atlético, que é acostumada a um futebol direto, veloz e que corre mais riscos.

Paulo Autuori tem o mérito de tentar criar uma nova forma de jogar. Mas sabe que entre outras peculiaridades do futebol brasileiro, há a necessidade de vencer imediatamente, não de apresentar um trabalho consistente e duradouro. E é este seu grande desafio no Atlético.

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