Já é fato consumado. Sem apoio do Londrina e sem autorização da Federação Paranaense de Futebol, o Atlético não teve sucesso no plano de ver a partida da volta das semifinais do Campeonato Paranaense contra o Tubarão ser marcada para sexta-feira (21) ou sábado (22), permitindo que a equipe tivesse mais tempo de preparação para o jogo decisivo contra o Flamengo, na quarta-feira da próxima semana (26), pela Copa Libertadores. Não só teve uma negativa, como ainda teve que receber uma nota oficial da FPF e declarações irônicas do gestor do LEC, Sérgio Malucelli.
Começando por aí. Beira à ingenuidade que o Atlético contasse com a FPF e com o Londrina para que o jogo acontecesse antes. Hoje, a gestão de Hélio Cury na Federação tem em Mário Celso Petraglia, o homem-forte do Furacão, o seu principal opositor. Petraglia conseguiu o apoio do Coritiba para não fechar com a TV, uma decisão que prejudicou muito a FPF. Foi o cartola quem articulou a candidatura de Ricardo Gomyde para tentar tirar Cury do cargo em 2015. E é o Rubro-Negro quem lidera as ações na Justiça que tentam inviabilizar a gestão da Federação.
E Sérgio Malucelli é um dos grandes desafetos de Petraglia. De amigos passaram a ter um ódio mútuo, que ficou evidente na entrevista que o gestor do Londrina deu ao GloboEsporte.com na segunda-feira (17). “Eu me admiro do Atlético-PR querer mudar o dia do jogo. O Paulo Autuori não falou em entrevista que ser campeão poderia manchar o currículo? Os jogadores falaram depois da partida contra o Flamengo que nem queriam jogar o Paranaense. Agora eles vêm com essa. Antes não valia. Agora mudaram de ideia?”, atirou. Além disso, há toda a “perseguição” de Mário Celso Petraglia com o irmão de Sérgio, o ex-presidente do Atlético Marcos Malucelli.
Portanto, o Atlético fez o que podia, mas talvez internamente já imaginasse o que iria acontecer. Comissão técnica e jogadores do Furacão queriam mesmo que o jogo acontecesse antes, era essa a conversa ainda no Rio de Janeiro, antes mesmo da partida de ida diante do Tubarão. Faltava “combinar com os russos”, como dizia Garrincha.
Mas há um porém. Se o Londrina seria irredutível, e tem todo o direito de ser (vale reforçar: o LEC tá na dele, tem que defender o próprio lado), a Federação Paranaense de Futebol se esquivou de fazer o correto, que era marcar o jogo para sexta ou sábado. Sim, isso mesmo. Na nota oficial, a FPF diz que “irá manter a data dos jogos de volta”. Só que a nota foi divulgada na tarde de segunda-feira e os jogos só foram marcados na tarde desta terça (18). Até aquele momento, não havia jogo marcado, então não havia por que fazer alteração.
A Federação também cita o seu Regulamento Geral das Competições, no inciso III do artigo 8º, que trata de alterações de data: “por acordo entre os CLUBES disputantes, desde que não resulte em prejuízo de outro CLUBE disputante, e que tenha o pedido deferido pela FPF. Os pedidos de alteração para competições profissionais devem ser efetuados com antecedência de 10 (dez) dias, e para competições não profissionais com antecedência de 96 (noventa e seis) horas“.
Mas a FPF esquece do inciso I do mesmo artigo 8º, que permite alterações: “por determinação da FPF, sempre que julgar conveniente, inclusive para transmissão de imagens para televisão ou outros veículos, em casos fortuitos ou de força maior, para não interromper ou prejudicar o andamento das COMPETIÇÕES, observando os intervalos mínimos de sessenta horas, conforme determina o Art. 25 do RGC da CBF – Temporada 2017“.
Quer dizer: a Federação podia sim marcar o jogo para sexta ou sábado. Que fosse sábado, para que não houvesse tanta gritaria do Londrina. Semana passada, a Federação Catarinense simplesmente marcou toda a rodada para sábado (15) porque a Chapecoense joga nesta terça pela Libertadores. Nem foi feriado, mas a Federação Paulista marcou para uma sexta o jogo entre Palmeiras e Novorizontino para que o Verdão encarasse o Peñarol na quarta seguinte.
Vai ficar prejudicada a preparação do Atlético para o jogo decisivo com o Flamengo. E a prioridade é a Libertadores, não tem como não ser. Se o Londrina está na dele, caberia à Federação defender seu representante no principal torneio do continente, e chegar a um meio-termo que não afetasse nenhum dos clubes. Mas bom senso anda em falta no nosso futebol.