As últimas 48 horas foram de forte tensão nos bastidores do Atlético. No centro do furacão, o técnico Fernando Diniz. A série de péssimos resultados – uma vitória nos últimos 14 jogos – e a penúltima colocação no Campeonato Brasileiro levaram conselheiros e dirigentes a tomarem uma atitude raríssima no clube: bater de frente com Mário Celso Petraglia. A corrente que pede a demissão do treinador é muito grande, e assustou a cúpula rubro-negra, que se viu obrigada a marcar uma reunião extraordinária na noite de quinta-feira (15) e ainda seguir negociando internamente para definir o futuro de Diniz, que já esteve bem mais seguro do que está.
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As duas últimas derrotas do Furacão, para São Paulo (na Arena, pela primeira vez na história) e Botafogo, foram a gota d’água para a torcida, que pediu a cabeça do técnico no estádio e nas redes sociais. E a revolta chegou ao Conselho Deliberativo e até a elementos da diretoria, o que em um passado recente resultaria em demissão sumária. Como exemplo, em 2016 o então gerente de futebol Paulo Carneiro tentou mediar a paz entre o técnico Paulo Autuori e o atacante Walter. Decidido a liberar o jogador, o presidente do Conselho Deliberativo, Mário Celso Petraglia, não aceitou a atitude do dirigente, que acabou demitido.
Desta vez foi diferente – talvez por não ser apenas uma voz contrária, e sim uma onda de críticas. De grupos de mensagens até telefonemas, Petraglia e o presidente Luiz Sallim Emed foram bombardeados nas últimas horas. Chegou-se até a falar em destituição de Sallim Emed. O resumo dos apelos é simples: uma demissão de Fernando Diniz acalmaria o ambiente tumultuado do Atlético, com a torcida questionando os maus resultados e também outras decisões da diretoria, como a parceria com o Ministério Público para adoção de torcida única na Arena da Baixada, que vem gerando represálias de outros clubes. Paraná Clube e Botafogo já impediram o acesso de rubro-negros em seus estádios.
Contribui também para o desgaste de Fernando Diniz a perda do controle do vestiário. Após a derrota para o São Paulo, uma reunião entre a diretoria e os jogadores já demonstrou que a força interna do treinador não se impunha totalmente entre os atletas – mas nesse encontro o vice-presidente Márcio Lara defendeu com veemência o trabalho do técnico para o grupo.
Enigma
Falta, no entanto, vencer a grande barreira: Mário Celso Petraglia. O homem-forte do Atlético trata a permanência de Diniz não apenas como uma decisão do departamento de futebol, mas como um projeto pessoal. Em entrevista ao jornalista Luciano Borges, da revista IstoÉ, Petraglia deu uma explicação surpreendente sobre as razões da manutenção do técnico.
“É a única forma do Atlético Paranaense fazer o futebol de forma alternativa. Enquanto a TV Globo dominar esta situação com apoio da CBF, o futebol brasileiro vai continuar igual e vamos ter sempre o mais do mesmo. Enquanto o Flamengo entrar na temporada recebendo R$ 3,5 milhões e nós entrarmos com R$ 150 mil, vamos ter que pensar em sermos alternativos, diferentes. Ainda estamos no projeto com o Fernando Diniz”.
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O que mudou em relação a qualquer outra queda de braço no Furacão é que desta vez Petraglia está praticamente isolado. Em outras oportunidades, ele tinha apoio, seja dos que estão ao seu lado aconteça o que acontecer, seja dos que o consideram a única opção para comandar o Rubro-Negro. A insistência com Fernando Diniz minou a força do cartola, que vive hoje uma rejeição inédita em sua trajetória de 23 anos no Atlético. “Eu tenho crédito”, chegou a escrever Petraglia em uma mensagem escrita num grupo de torcedores. Mas o crédito vem se esgotando, a ponto de ele estar mais perto que nunca de desmentir o que alardeou para o País inteiro.