Com a ida de Fernandinho para |
Eletrizante. Não há adjetivo que caiba com mais perfeição para definir a goleada de 5 a 2 aplicada pelo líder isolado do Brasileirão, o Atlético, em cima do São Caetano, ontem à tarde, na Arena da Baixada. Com o estrondoso resultado, o Furacão está a dois passos do paraíso. Mais do que isso, uma vitória contra o Vasco, domingo, e um tropeço do Santos, na próxima rodada, podem dar o bicampeonato ao Rubro-Negro antecipadamente. Se isso acontecer, a partida contra o Botafogo na rodada final servirá apenas para entrega de faixas. Mas o resultado, desde já, deu a terceira vaga na Copa Libertadores ao Rubro-Negro. Quem vê o resultado expressivo, no entanto, pode se enganar de como foi o jogo. Numa reedição do primeiro jogo da decisão do título brasileiro em 2001, o Azulão deu sufoco no primeiro tempo. Tanto sufoco que encurralou o Furacão no campo defensivo e saiu na frente. Somado a isso, a vitória do Santos diante do Grêmio pintava um quadro negro. Até o intervalo, o Atlético estava perdendo a liderança para o Peixe e temeu-se pelo pior: seria a vingança do Azulão, três anos depois?
Poderia até ser, não fosse a mão do técnico Levir Culpi. Se contra o Grêmio o treinador sofreu uma saraivada de críticas pelas substituições que foram decisivas para o empate do Tricolor, ontem foi o dia dele.
Virada
Na melhor tática quem-não-arrisca-não-petisca, o treinador sacou Ivan, escalou Raulen e saiu do seu tradicional 3-5-2 e partiu para um 4-4-2, com o infernal Fernandinho passando para o meio-de-campo. E deu tudo certo. Com mais criatividade no meio-de-campo, o time foi para cima do Azulão, empurrado pela fanática torcida que lotou a Arena.
Na blitz vermelha e preta, Washington fez as vezes de garçom e retribuiu as tantas assistências de Denis Marques. Consciente, ele empatou a partida aos 18 minutos e deu início à reação.
Sem muito a fazer, o Azulão se abriu para a festa atleticana e dois minutos depois tomou o gol da virada, desta vez em um lance de oportunismo de Jádson, que aproveitou o rebote de um petardo de Washington na trave. Explosão na Arena!
Mostrando um entrosamento perfeito, o trio Denis, Washington e Jádson apavorava a defesa adversária. No terceiro gol do Furacão, o artilheiro do Brasileirão serviu de bandeja para Jádson, que deixou mais um.
O São Caetano ainda esboçou uma reação no gol de Fabrício Carvalho, aos 37 minutos, mas a tarde era atleticana. Aos 43, Washington invadiu a área e foi derrubado. Converteu a penalidade e marcou o seu 33.º gol no campeonato. O resultado de 4 a 2 repetia o placar do primeiro jogo da final de 2001, mas o atacante Denis Marques nem quis saber e chutou a coincidência para o alto. Já nos descontos, recebeu na intermediária, dominou e chutou um petardo indefensável para cima de Fabiano, fechando com chave de ouro a goleada. De quebra, o Furacão sepultou qualquer chance de título por parte do Azulão, que hoje torce no STJD para não perder os 24 pontos.
Um delírio recorde
Se o time atleticano arrebentou em campo, deve muito à festa proporcionada pela massa rubro-negra nas arquibancadas. Correspondendo às expectativas, a galera lotou a Arena, que registrou o recorde de público deste Brasileirão no local: 21.165 pagantes – o público total foi de 23.564.
A festa da galera, no entanto, começou muito antes do apito inicial do árbitro Elvécio Zequetto. Nos arredores do estádio, o congestionamento de carros com bandeiras para fora das janelas começou cedo. O buzinaço também tirou o sono daqueles que pensaram em dar a famosa "sesta" após o almoço de domingo nos arredores do estádio.
Cientes da mobilização dos atleticanos, ambulantes se estabeleceram em cada esquina, vendendo de bandeiras à cervejinha gelada. Os estacionamentos nas proximidade do estádio tiveram lucro. Alguns aumentaram o preço de R$ 5,00 para R$ 7,00.
Mas quem lucrou mesmo foram os torcedores que lotaram a Arena. A espera nas filas quilométricas para comprar o ingresso na quinta-feira valeu a pena. Meia hora antes do jogo, não havia mais espaços nas arquibancadas. Incansável, a turma cantava hinos, gritava o nome dos jogadores e dava um colorido especial, fazendo o clima da partida.
É verdade que no primeiro tempo a torcida calou em alguns momentos. Pudera! Na pressão, o São Caetano saiu na frente e os torcedores menos otimistas chegaram a pensar no pior. Mas foi necessário apenas o primeiro gol para as arquibancadas incendiarem mais uma vez. Eufórica com um gol atrás do outro, a galera não sentou mais e gritou até o apito final do árbitro, apupando fervorosamente cada toque de bola do adversário. Confiante, a torcida encerrou sua participação repetindo em coro a palavra mágica entoada após cada gol: bicampeão!
Com a possibilidade matemática de chegar ao título já no domingo, no Rio de Janeiro, contra o Vasco, a promessa é de uma grande invasão rubro-negra na Cidade Maravilhosa. Certamente, mais uma vez a galera vai fazer as vezes do 12.º jogador.
Levir troca erro zero por jogada de mestre
Um dia é da caça, outro do caçador. Após ficar na berlinda em função das substituições feitas no empate contra o Grêmio, o técnico Levir Culpi deu a volta por cima, mexeu bem na equipe e foi fundamental na expressiva vitória sobre o São Caetano.
É bem verdade que sem a qualidade de Jádson, Denis Marques e Washinton o placar elástico talvez não tivesse ocorrido. Mas a mexida no meio-de-campo deu uma nova dinâmica à equipe, que brindou com um show na segunda etapa.
Segundo Levir, a carta já estava na manga no intervalo. "Já tinha conversado com o Lio e com o Tico, que estavam ajudando na observação do jogo. Mas decidi segurar um pouco mais", disse o treinador, visivelmente satisfeito com o trabalho bem executado.
Entretanto, apesar da mudança tática ter sido fundamental, Levir preferiu dividir os méritos com os jogadores. "Eles entraram muito empenhados em conseguir reverter a situação. Sofremos um pouco, mas eles se superaram", diz o treinador. Os méritos da conquista também foram divididos com a torcida, que lotou a Arena. "Não é à toa que só perdemos dois jogos na Arena. A torcida faz mesmo a diferença e está de parabéns pela festa de hoje. Foi apoio do início ao fim."
A goleada também foi reflexo de uma frase que saiu da boca do treinador tão logo o time retornou de Erechim, após o malfadado empate contra o Grêmio. "Foi nossa última lição do campeonato. Hoje (ontem), mostramos que aprendemos e estamos cada vez mais fortes na busca pelo título."
Para o próximo compromisso, contra o Vasco, a baixa é o meia Jádson, que tomou o terceiro cartão amarelo ontem. O provável é que Levir desloque Fernandinho para o meio e coloque Raulen na lateral. Em contrapartida, o time terá a volta do capitão Fabiano, que cumpriu suspensão na rodada de ontem. O elenco se reapresenta na manhã de amanhã, após folgar hoje.
CAMPEONATO BRASILEIRO
Súmula
Local: Joaquim Américo
Horário: 16h
Árbitro: Elvécio Zequetto (MS)
Assistentes: Ivanilton Bandeira da Silveira (MS) e Paulino Mariano Fernandes (MS)
Cartões Amarelos: Marcão, Triguinho, Euler, Jádson, Thiago.
Gols: Marcinho aos 41 minutos do 1.º tempo; Denis Marques aos 18 e aos 45; Jádson aos 20 e 35 e Washington aos 43 do segundo tempo.
Renda: R$ 458.969, 00 Público: 23.564 (21.165 pagantes).
ATLÉTICO 5X2 SÃO CAETANO
Atlético-PR
Diego; Marinho, Marcão e Rogério Corrêa; Fernandinho, Pingo, Alan Bahia, Jadson e Ivan; Dênis Marques e Washington. Técnico: Levir Culpi
São Caetano
Sílvio Luiz; Gustavo (Marcos Aurélio), Dininho e Thiago; Ceará, Marcelo Mattos, Mineiro, Marcinho e Triguinho; Fernando Baiano e Fabrício Carvalho. Técnico: Péricles Chamusca